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01/12/2005
-
11h05
FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S.Paulo
Quando fica muito difícil chegar a um acordo, uma alternativa é procurar um serviço de mediação. O mediador, ainda pouco conhecido no país, é um profissional que faz a ponte entre os dois lados até que se chegue a uma solução com a qual ambos concordem. "A mediação é a arte de harmonizar conflitos. Ela parte de uma lógica que se opõe à disputa e procura encontrar soluções compartilhadas", diz a psicanalista e mediadora Malvina Muszkat, presidente do conselho da organização não-governamental Pró-Mulher, Família e Cidadania. Segundo ela, essa lógica é difícil de compreender porque somos treinados para "disputar no varejo e não pensar em termos mais amplos".
A formação na área de mediação pode ser obtida em cursos complementares de faculdades de direito e psicologia, em cursos universitários de especialização ou em treinamentos oferecidos por algumas instituições, como o Instituto Familiae e o Pró-Mulher, Família e Cidadania. Um anteprojeto de lei que regulamenta a profissão aguarda votação no Congresso. Alguns casos são encaminhados pelo Poder Judiciário, mas há quem procure diretamente instituições gratuitas ou consultórios particulares de mediação.
"Muitos casos chegam a tal grau de complicação que já não se conversa mais. Num divórcio, por exemplo, a carga emocional pode impedir que as pessoas se falem, mas é preciso tratar da divisão de bens e da guarda dos filhos. O papel do mediador é fazer com que as partes mantenham um diálogo", diz o mediador Cássio Filgueiras, fundador da Rede Internacional de Mediadores Interdisciplinares (Rimi).
Junto com o documentarista e mediador da Rimi Denis Rodriguez, Filgueiras foi ao Canadá fazer um curso sobre a técnica e filmar um documentário chamado "Mediação Brasil-Canadá" (em processo de produção). Na província do Québec, 78% das demandas em direito de família são resolvidas com a mediação.
Segundo Rodriguez, o mediador não tem o poder de decidir. "A decisão é dos envolvidos no conflito. E, geralmente, ela é equânime. Se alguém estiver muito rebaixado, tiver mais dificuldade para se articular e não conseguir se colocar, trabalha-se para trazê-lo ao mesmo patamar da outra parte", diz.
Para a dona-de-casa Isabel Cristina de Souza, 35, e o químico Alex Nilson de Souza, 36, a mediação foi uma ajuda para manter o casamento de 17 anos. "Tínhamos muitas discussões bobas, implicâncias sem motivo. Não conseguíamos nos entender e chegar a um acordo. Com o trabalho de mediação, conseguimos colocar a família nos eixos", conta Isabel.
Quem fez a mediação foi a psicóloga Dorit Wallach Verea, coordenadora da Clínica Prisma, em São Paulo. Para ela, muitos problemas nascem por dificuldade de comunicação e de compreensão das prioridades alheias. "As pessoas são diferentes e, às vezes, não conseguem se expressar e entender o outro. Em alguns casos, uma terceira pessoa imparcial pode ajudar a encontrar um denominador comum", diz.
Para a advogada Cecília Manara, 29, que procurou a mediação para resolver um conflito com seu ex-namorado, passar pelo processo é um ato de coragem, já que obriga a encarar o problema de frente. Os dois eram sócios em um escritório de advocacia. Quando o relacionamento acabou, eles não conseguiam se entender mais nos negócios. Decidiram procurar a mediação para chegar a uma solução.
"Foi superdesgastante, principalmente no início. Éramos dois advogados defendendo os próprios interesses. E foi preciso falar sobre o passado, sobre coisas íntimas que machucavam. Você tem que se abrir, falar do que sente e colocar a mão na ferida para poder curá-la", conta a advogada.
Após várias sessões, ela decidiu deixar a sociedade. Hoje, está feliz com o novo escritório e acha que a decisão que tomou foi a melhor possível.
"Foi uma luz no fim do túnel. Numa situação em que tudo estava escuro, passei a racionalizar melhor as coisas. Consegui me posicionar e tomar uma atitude. Saí da mediação com uma visão de mundo diferente da que tinha quando entrei", conta.
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da Folha de S.Paulo
Quando fica muito difícil chegar a um acordo, uma alternativa é procurar um serviço de mediação. O mediador, ainda pouco conhecido no país, é um profissional que faz a ponte entre os dois lados até que se chegue a uma solução com a qual ambos concordem. "A mediação é a arte de harmonizar conflitos. Ela parte de uma lógica que se opõe à disputa e procura encontrar soluções compartilhadas", diz a psicanalista e mediadora Malvina Muszkat, presidente do conselho da organização não-governamental Pró-Mulher, Família e Cidadania. Segundo ela, essa lógica é difícil de compreender porque somos treinados para "disputar no varejo e não pensar em termos mais amplos".
A formação na área de mediação pode ser obtida em cursos complementares de faculdades de direito e psicologia, em cursos universitários de especialização ou em treinamentos oferecidos por algumas instituições, como o Instituto Familiae e o Pró-Mulher, Família e Cidadania. Um anteprojeto de lei que regulamenta a profissão aguarda votação no Congresso. Alguns casos são encaminhados pelo Poder Judiciário, mas há quem procure diretamente instituições gratuitas ou consultórios particulares de mediação.
"Muitos casos chegam a tal grau de complicação que já não se conversa mais. Num divórcio, por exemplo, a carga emocional pode impedir que as pessoas se falem, mas é preciso tratar da divisão de bens e da guarda dos filhos. O papel do mediador é fazer com que as partes mantenham um diálogo", diz o mediador Cássio Filgueiras, fundador da Rede Internacional de Mediadores Interdisciplinares (Rimi).
Junto com o documentarista e mediador da Rimi Denis Rodriguez, Filgueiras foi ao Canadá fazer um curso sobre a técnica e filmar um documentário chamado "Mediação Brasil-Canadá" (em processo de produção). Na província do Québec, 78% das demandas em direito de família são resolvidas com a mediação.
Segundo Rodriguez, o mediador não tem o poder de decidir. "A decisão é dos envolvidos no conflito. E, geralmente, ela é equânime. Se alguém estiver muito rebaixado, tiver mais dificuldade para se articular e não conseguir se colocar, trabalha-se para trazê-lo ao mesmo patamar da outra parte", diz.
Para a dona-de-casa Isabel Cristina de Souza, 35, e o químico Alex Nilson de Souza, 36, a mediação foi uma ajuda para manter o casamento de 17 anos. "Tínhamos muitas discussões bobas, implicâncias sem motivo. Não conseguíamos nos entender e chegar a um acordo. Com o trabalho de mediação, conseguimos colocar a família nos eixos", conta Isabel.
Quem fez a mediação foi a psicóloga Dorit Wallach Verea, coordenadora da Clínica Prisma, em São Paulo. Para ela, muitos problemas nascem por dificuldade de comunicação e de compreensão das prioridades alheias. "As pessoas são diferentes e, às vezes, não conseguem se expressar e entender o outro. Em alguns casos, uma terceira pessoa imparcial pode ajudar a encontrar um denominador comum", diz.
Para a advogada Cecília Manara, 29, que procurou a mediação para resolver um conflito com seu ex-namorado, passar pelo processo é um ato de coragem, já que obriga a encarar o problema de frente. Os dois eram sócios em um escritório de advocacia. Quando o relacionamento acabou, eles não conseguiam se entender mais nos negócios. Decidiram procurar a mediação para chegar a uma solução.
"Foi superdesgastante, principalmente no início. Éramos dois advogados defendendo os próprios interesses. E foi preciso falar sobre o passado, sobre coisas íntimas que machucavam. Você tem que se abrir, falar do que sente e colocar a mão na ferida para poder curá-la", conta a advogada.
Após várias sessões, ela decidiu deixar a sociedade. Hoje, está feliz com o novo escritório e acha que a decisão que tomou foi a melhor possível.
"Foi uma luz no fim do túnel. Numa situação em que tudo estava escuro, passei a racionalizar melhor as coisas. Consegui me posicionar e tomar uma atitude. Saí da mediação com uma visão de mundo diferente da que tinha quando entrei", conta.
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