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30/01/2006 - 15h53

Silêncio nos consultórios prolonga disfunção erétil

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ANA CESALTINA MARQUES
Colaboração para a Folha de São Paulo(*)

Ele foi ao médico, mas não falou "daquele problema": a disfunção erétil --ou impotência, como é popularmente conhecida. Além de adiar a solução de um incômodo, esse homem perdeu também uma chance de diagnosticar um possível desequilíbrio em sua saúde. Talvez o médico não tenha feito a pergunta: "Como anda a sua vida sexual?".

Essa cena se repete nos consultórios: 64% dos pacientes que procuram um médico de qualquer especialidade têm disfunção erétil em algum grau, enquanto a incidência na população em geral é de 45,1%, mostra uma pesquisa feita pelo Projeto Sexualidade, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Mas, embora já procurem ajuda para outros problemas, apenas 8% dos pacientes tratam a disfunção.

Esses são os primeiros resultados da pesquisa denominada "Estudo da Vida Sexual do Paciente", coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo. Os dados foram coletados com a colaboração de clínicos gerais, cardiologistas, urologistas e ginecologistas de todo o país. Refletem o comportamento de homens entre 18 e 76 anos de idade.

"Existe um contingente que não está sendo tratado, seja porque não se
manifesta ou porque o médico não fez a pergunta na rotina da consulta",
analisa a psiquiatra.



O silêncio nos consultórios anuncia o risco da automedicação. O estudo
também indica que aproximadamente 1/3 dos homens com problemas de ereção tomou remédio sem prescrição médica. Essa prática oferece riscos, porque os medicamentos para disfunção erétil, se combinados com algumas drogas de ação vasodilatadora, pode levar a acidentes vasculares ou infarto.

Outro aspecto negativo da automedicação é deixar de investigar a causa, que pode ser orgânica. Os médicos falam da necessidade de se fazerem exames para verificar os níveis de hormônios, glicemia, colesterol, pressão arterial e o funcionamento do sistema cardiovascular antes da prescrição de qualquer tratamento.

Como a disfunção erétil pode ser um sinal da presença de outras doenças, "mesmo que o homem não esteja preocupado com a atividade sexual, deve procurar um médico diante da dificuldade de ereção", explica Carmita Abdo.

A condição psicológica é outro aspecto fundamental. Apenas 10% dos casos são decorrentes de causas orgânicas até os 60 anos, diz o urologista e diretor do Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática, Celso Marzano. O estresse e a depressão influem de forma incisiva no desempenho sexual.

O profissional de saúde, do outro lado da mesa, tem papel importante na
identificação da disfunção erétil de seus pacientes e suas causas. "Na
maioria das vezes o homem não se sente à vontade e fica aguardando que a pergunta sobre isso ocorra", avalia Abdo. Um estudo de 2003 apontou, entre as principais razões que levam o médico a não abordar o assunto, falta de tempo, falta de conhecimento específico e inibição pessoal.

O urologista e professor da Universidade Federal de São Paulo Joaquim
Francisco de Almeida Claro explica que, no campo da disfunção erétil, falar com o paciente é fundamental. "Cada minuto de conversa é um minuto
investido. É muito melhor do que fazer qualquer exame. Às vezes a conversa é o próprio tratamento."

Há casos em que somente a orientação do médico ou a terapia psicológica breve consegue resolver, afirma a ginecologista e representante da Associação Mundial de Saúde Sexual, Jaqueline Brendler. Se a causa é orgânica, a terapia pode complementar o tratamento, para devolver ao homem a autoconfiança.

Porém, principalmente nos serviços públicos de saúde e nas consultas por
convênios, atendimentos rápidos e a dificuldade de encaminhar o paciente para um serviço de psicoterapia podem levar à prescrição de medicamentos para disfunção erétil sem a devida identificação da causa, analisa Brendler. "Esses recursos têm indicações específicas", explica.

A moderação na indicação do uso de remédios no tratamento também é defendida pelo psiquiatra Flávio Gikovate. "Quando a causa é orgânica, o remédio é muito bem-vindo. Se não, o homem falha porque tem que falhar mesmo. Em geral, essa situação reflete o contexto, que deve ser uma fria. O pênis tem sempre razão."

(*) Ana Cesaltina Marques participou da 40ª turma do Programa de Treinamento
em Jornalismo Diário da Folha, que foi patrocinada pela Philip Morris Brasil


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