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11/05/2007 - 20h24

Técnicas evitam acidentes com animais selvagens

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ISABELA MENA
da Revista da Folha

Literal ou metaforicamente, ninguém deseja ganhar um "abraço de tamanduá". Se no dito popular a expressão significa traição, deslealdade, na prática pode levar à morte, como aconteceu semana passada no zoológico Florencio Varela, em Buenos Aires, na Argentina. Ao ser atacada no abdome e nas pernas por um tamanduá gigante, a tratadora Melisa Casco, 19, que trabalhava no programa de conservação e reprodução da espécie, não resistiu aos ferimentos.

Leonardo Papini/Folha Imagem
Tamanduá-bandeira do zoológico de São Paulo
Tamanduá-bandeira do zoológico de São Paulo

Como a instituição argentina não se pronunciou, sabe-se que o animal pode ter agido para proteger os filhotes. Para Mara Cristina Marques, bióloga do setor de mamíferos da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, essa atitude faz sentido, embora seja preciso saber em que condições técnicas a tratadora entrou no recinto. "Para cada bicho há equipamentos, treinamentos e regras. Quando há filhote, os manejos são diferentes, é preciso ter cuidado e separá-lo da mãe. Ela tanto pode atacar o tratador como rejeitar ou matar a cria", diz.

Manejo, no jargão do zôo, é tudo aquilo que se faz com o bicho. Incluem-se procedimentos alimentares, de reprodução, locomoção e que têm a ver com o bem-estar do animal e com a segurança do profissional.

Cada uma das cerca de 500 espécies que existem no zoológico de São Paulo --o maior do país em biodiversidade-- possui um tipo próprio de manejo. São 4.000 animais. Respeitadas as técnicas adequadas, é possível lidar sem problemas com bichinhos e bichões, pouco ou muito ferozes. E por aqui nenhum acidente grave aconteceu desde 1958, ano da abertura do zôo paulista.

No caso do tamanduá-bandeira, o tratador só deve entrar no recinto acompanhado. E tanto o puçá, espécie de rede de linha, do tamanho do bicho, quanto o escudo de madeira, devem estar à mão.

Mecanismos básicos que evitaram um desastre de grandes proporções com o colega do tratador Aristeu José dos Santos, 40. "Estávamos com os tamanduás soltos quando um tratador tropeçou e caiu no chão. O bicho foi para cima dele, com os braços prontos para abraçá-lo. Se eu não estivesse lá para capturar o bicho com o puçá, não sei o que teria acontecido", relembra Santos, que trabalha com mamíferos há 18 anos.

No quesito segurança, a moradia do bicho também conta pontos. Há normas estabelecidas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para a acomodação dos animais silvestres que determinam tipo de solo, vegetação e se são necessárias áreas de cambiamento --espaços fechados atrás da área de exposição e ligados a ela por portas.

Outro bicho que também deu o que falar este mês foi um crocodilo do zoológico Shoushan de Kaohsiung, em Taiwan, que arrancou com uma mordida o braço do veterinário que tentava recuperar uma ampola injetada no animal. Chen Po-yu, 38, teve o braço recuperado e sofreu uma microcirurgia de implantação.

No zôo de São Paulo não há crocodilos, apenas jacarés, mas medidas de segurança são tomadas no trato com esses bichos. Em seus recintos, com lago, há um local para se abrigarem, sem área de cambiamento. Aqui também entram o puçá ou o pau de couro, objeto usado para segurar o jacaré pela cabeça. "Nossos tratadores entram nos recintos com equipamento de segurança e acompanhados. Entrar para limpar e alimentar é uma coisa, mas ninguém põe a mão na boca do bicho", diz a bióloga Fátima Valente Roberti, chefe da divisão de ensino e divulgação da Fundação Parque Zoológico de São Paulo.

Animais ferozes, como onças, pedem proteção especial. A divisória entre os bichos e o público é de vidro grosso e as portas dos cambiamentos, de ferro. Não há contato nenhum com tratadores. Já aves de rapina, naturalmente caçadoras, podem dar um rasante e causar ferimentos na cabeça do tratador sem capacete.

"Os maiores acidentes acontecem com bichos que as pessoas consideram mansos", diz Fátima. A bióloga Mara Cristina Marques concorda: "Você pode ter um sagüi bravo, que morde toda a mão, e um leão manso", compara.

É claro que tamanho e defesas naturais como dentes, garras e chifres são levados em consideração. Animais que pesam toneladas, como os hipopótamos, podem causar estragos apenas com um pisão ou uma encostada. Mesmo que a intenção da fera seja a de um meigo afago.

 

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