19/07/2004 - 11h00

Ex-ginasta, Juliana Veloso tenta levar técnica para os saltos ornamentais

FÁBIO FLEURY
da Folha Online

Principal atleta do Brasil nos saltos ornamentais, Juliana Veloso já dava suas piruetas antes mesmo de se dedicar ao esporte aquático. Até optar pelas piscinas, ela se dedicava à ginástica artística, fato que a própria atleta vê como um diferencial importante para seu desempenho.

Juliana disputará em Atenas sua segunda Olimpíada e tentará levar o país pela primeira vez a uma final na modalidade.

"Eu comecei na ginástica aos três anos e treinei até os 12, quando passei de vez para os saltos ornamentais. Percebi que era uma ginasta meio fraquinha. Entrei um pouco velha na modalidade e só me dei bem porque tinha feito ginástica antes, porque tinha a noção dos movimentos, da técnica", revela Juliana.

Seu técnico, o cubano Francisco Ferrer, 61, comemora o "legado" da ginástica. "Por seu passado na ginástica, ela adquiriu excelentes habilidades motoras. Isso permite a ela assimilar melhor as técnicas de saltos. Nunca encontrei uma atleta assim na carreira. É um enorme diferencial para ela", afirma o treinador.

A ginástica ajudou com a técnica e a força. O problema, segundo a atleta, é saber o momento certo de usar esta força. "Essa é a minha maior dificuldade. Meu técnico [o cubano Francisco Ferrer] vive insistindo comigo para que eu use a técnica sempre. Só que, em alguns saltos, quando você sente que não usou a força adequadamente, você inicia o movimento antes do momento ideal, que é quando você atinge o ponto mais alto da trajetória e começa a cair de volta", explica a saltadora.

"Um salto mais técnico vai mais alto, parecendo mais fácil. Se eu conseguir saltar assim em Atenas, passo mais leveza e tranqüilidade. Numa competição assim, faz a diferença, porque impressiona os juízes", conta a atleta.

Dona das primeiras medalhas do Brasil nos saltos ornamentais em Jogos Pan-Americanos --levou a prata na plataforma de 10 m e o bronze no trampolim de 3 m em Santo Domingo-03--, a saltadora do Fluminense tenta novamente um resultado histórico para o país em Atenas.

"Meu objetivo é ficar entre as 12 melhores e passar para a final", conta a saltadora, que em Sydney-2000 terminou em 19º, a três décimos de ponto da semifinal, que contava com 18 atletas. "Por enquanto, ainda não penso em medalha. Só vou pensar nisso se chegar à final. Quero fazer 220, 230 pontos da Olimpíada, para tentar passar."

No Campeonato Mundial de Desportos Aquáticos de Fukuoka, no Japão, em 2001, ela foi a primeira brasileira a chegar à final, em que terminou na décima colocação --na fase de classificação, foi a oitava.

No Mundial de Barcelona-03, foi às semifinais e ficou em 13º lugar, fora das 12 finalistas. Antes disso, chegou à Super Final dos Saltos Ornamentais, competição que reúne os oito melhores colocados no ranking da Fina (Federação Internacional de Natação). No torneio, disputado em Tultitlan, no México, Juliana ficou com a medalha de prata na plataforma.

Família

Juliana é filha de Júlio Veloso e Eneida Lima, ambos atletas da equipe brasileira de saltos ornamentais nos anos 60 e 70. O pai disputou os Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, em 1967. A filha, depois de nove anos na ginástica artística, foi para os saltos, depois de vencer dois Campeonatos Brasileiros em categorias inferiores, sem nem mesmo treinar.

"Já passei por algumas situações curiosas por causa disso. Existem alguns anotadores de pontos, por exemplo, que estão nas competições há muitos anos e que, quando olham meu nome na ficha, reconhecem e lembram do meu pai. Isso acontece porque quem está nos saltos forma uma verdadeira família, quase não muda", diz.

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