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16/08/2004 - 00h30

Gustavo Borges diz que esperava derrota

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GUILHERME ROSEGUINI
da Folha de S.Paulo, em Atenas (GRE)

Vontade de ir ao banheiro no meio da madrugada, idêntica à da estréia. A coincidência assustou. "Por um instante, pensei que todas as coisas fossem se repetir." As quatro Olimpíadas do currículo, porém, fizeram a diferença, e Gustavo Borges conseguiu reverter uma situação que poderia manchar ainda mais sua derradeira performance na piscina.

Neste domingo, em Atenas, ele foi o segundo atleta do Brasil a cair na água durante o revezamento 4 x 100 m livre. Estava em último.

Com muito esforço, conseguiu deixar o grego Alexandros Tsoltos para trás. Não chegou ao pódio. Nem mesmo a uma final, como gostaria. Mas o desempenho permitiu ao menos que a pecha de retardatário não o acompanhasse na despedida.

"Fiquei com vontade de chorar nos primeiros momentos depois da prova. Me segurei. Tudo isso aqui foi planejado. Queria encerrar minha carreira com uma final olímpica, mas já estava preparado para parar com derrota", explica o atleta de 31 anos. Na entrevista coletiva, horas depois, ele não se agüentou e liberou as lágrimas.

A equipe terminou o evento na 12ª posição. Resultado ruim, se comparado ao bronze obtido pelo Brasil na mesma prova em Sydney-2000. E ótimo, caso a equiparação seja feita com a primeira vez de Borges nos Jogos.

Nada de sono na noite anterior aos 200 m livre em Barcelona-1992. Com a responsabilidade de levar uma medalha ao país, o rapaz de 20 anos foi oito vezes ao banheiro na madrugada.

Resultado: 22º lugar na competição. "A gente também aprende bastante com as derrotas. Foi naquele dia que abri caminho para minhas conquistas", lembra.

Nem precisou esperar muito. O relógio marcava 18h27min do dia 28 de julho, pouco mais de 48 horas depois do vexame da estréia.

Borges voltou mais confiante para a piscina e levou a prata nos 100 m livre. Era só o começo. Depois, alcançou o pódio outras três vezes: duas em Atlanta-1996 e uma na última Olimpíada.

Boa parte dos adversários que marcaram essa trajetória está em Atenas. Alexander Popov, o russo que o venceu em 1992, ainda é um dos principais velocistas do planeta. Gary Hall Jr., com quem Borges dividiu o pódio nos Jogos de 1996, até lhe deu conselhos antes do revezamento.

"Hoje, antes de nadar, o Hall me disse: 'Vá lá e se divirta'. Foi o que fiz", contou.

O brasileiro quer agora agrupar todos. Em outubro, pretende promover um encontro no clube Pinheiros, em São Paulo. "Já conversei com alguns e eles toparam. Será um torneio extra-oficial, uma festa", promete.

Até lá, vai cuidar dos negócios. E curtir o tempo que lhe resta na Grécia --ele será o porta-bandeira no encerramento, no dia 29.

"Quero assistir a muita coisa. Gosto bastante de vôlei. Talvez até eu consiga uma vaga como meio de rede dessa seleção masculina. Também quero ver o Torben Grael ganhar uma medalha na vela e se distanciar de mim."

Explicação: ele e o velejador dividem o posto de esportista mais premiado do país nos Jogos, com quatro pódios cada um.

O futuro aponta para a cartolagem. Borges disse que, "dentro de oito a 12 anos", pode comandar a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Antes, contudo, quer gozar da aposentadoria e encravar na memória o epílogo que escreveu neste domingo.

Ele foi último brasileiro a entrar no local da derradeira disputa. Enquanto Jáder Souza cumpria os primeiros 100 m, Borges tirou e colocou o óculos quatro vezes. Depois de fazer sua parte, saiu da piscina por uma escada lateral.

Pegou o uniforme, enxugou a tez e pressionou os olhos com os dedos da mão direita. Caminhou sozinho, meio distante, até o local onde concederia entrevistas. Falou como atleta pela última vez.

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