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29/10/2004 - 09h30

Esporte mata mais atleta domingueiro, afirmam médicos

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FÁBIO SEIXAS
da Folha de S.Paulo

Mortes súbitas de atletas profissionais ainda surpreendem médicos e especialistas do esporte, como no caso do zagueiro Serginho, do São Caetano. O que não choca nem espanta são casos com esportistas eventuais.

Peladeiros de final de semana, crianças em aulas de educação física ou maratonistas de ocasião estão mais sujeitos a problemas como o que matou o zagueiro Serginho do que atletas regularmente submetidos a avaliações médicas.

Isso já foi analisado e comprovado por estudos. E essa é a opinião unânime de profissionais da área ouvidos ontem pela Folha.

"Não há dúvida de que o risco de morte súbita em um esportista eventual é muito maior do que em alguém que vive disso. A grande maioria das pessoas, infelizmente, entra no esporte sem se submeter a nenhum exame ou avaliação. Esses atletas de fim de semana não se conhecem", disse Marcelo Leitão, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e desde 99 responsável pelas avaliações cardiológicas do CPB, o Comitê Paraolímpico Brasileiro.

O médico citou um estudo feito nos EUA que mostrou uma incidência de morte súbita de 1 para 200 mil entre atletas escolares com idades de 12 a 20 anos. Outra pesquisa mostrou uma ocorrência maior de enfarte no período da manhã em corredores sem acompanhamento especializado.

"Há dois problemas nos casos das pessoas que começam a fazer esporte de uma hora para outra. Elas obviamente não estão preparadas e não sabem de sua condição", disse o cardiologista Ari Timerman, especializado em emergência e ressuscitação cardiopulmonar e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Para o professor de educação física José Rubens D'Elia, que atua com atletas de ocasião em empresas e condomínios, o problema é que muitas dessas pessoas têm medo de se submeter a exames.

"Muitos desses atletas se acovardam, têm medo de ver o check-up e então preferem simplesmente não fazer nada e saem correndo por conta própria", contou. "Com criança, então, é preciso um cuidado maior. A estrutura do coração ainda está sendo formada e muitos pais se empolgam e colocam as crianças para correr provas longas ao lado deles. Isso é perigosíssimo."

A questão é tão preocupante que, na semana que vem, a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte lançará suas "Diretrizes sobre Morte Súbita no Exercício e no Esporte", primeiro documento do gênero publicado no país.

"As pessoas confundem e acham que a gente vai proibir a prática do esporte. Não é nada disso. No máximo, podemos direcionar o atleta para um esporte mais adequado à sua condição", declarou Ricardo Najas, presidente da sociedade. "Mas o risco de morte súbita em atletas eventuais, sem acompanhamento, é maior."

Vanderlei Pereira, professor de educação física e dono de uma empresa da área de fisiologia do esporte, é mais enfático. "Até um prova de recreação ou um teste de cooper são perigosos para um sedentário. O cara que passou anos trancado no escritório não tem o coração adaptado. É como o coração de um passarinho, reduzido, com cavidades muito pequenas."
Nos anos 80, o assunto foi tema de um livro polêmico, "Esporte mata", do cientista José Róiz.

"Todos os esportes são nocivos. Em Pará de Minas, minha cidade natal, estão construindo quatro ginásios. Que mal fizeram a Deus os jovens de minha terra para merecer esse castigo? A intenção de levar os jovens a praticar esporte para afastá-los das drogas é o mesmo que prestar culto ao diabo para não ir para o inferno", escreveu Róiz, defendendo que "dar preferência ao desenvolvimento muscular antes dos 25 anos acarretará atraso no desenvolvimento de todos os outros órgãos."

Leitão rebate. "A gente não pode entrar agora nessa paranóia de achar que o esporte faz mal, porque essa é uma grande mentira. As pessoas precisam é se concientizar da importância de um acompanhamento médico correto."

D'Elia tem um palpite sobre o que acontecerá agora, a partir da morte do jogador do São Caetano. "Dá para imaginar que os consultórios dos cardiologistas vão lotar. Que isso salve algumas vidas."

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