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14/09/2002 - 03h11

Leia trecho do livro em que Niemeyer e Süssekind trocam cartas

da Folha Online

Leia, a seguir, trecho do livro "Conversa de Amigos", que traz as cartas trocadas entre o arquiteto Oscar Niemeyer e o engenheiro José Carlos Süssekind.

Nesta carta, Niemeyer fala sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), sobre o problema da Amazônia e do encontro que teve com um dos representantes da guerrilha da Colômbia. Leia o trecho:

"Sussekind,

Venho acompanhando o que ocorre com a Alca, e, radical como sou, considerei protelatória e conivente a atuação do nosso governo naquela reunião. E gostei muito das declarações do nosso embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, tanto que, mesmo não o conhecendo, telefonei para ele com entusiasmo. Foi bom. Agradecido, ele mostrou desejo de nos encontrar um dia para conversarmos melhor sobre o assunto.

Fui informado de que a Internet divulgou que o Brasil encomendou a uma empresa russa, a Rosoboronexport, grandes helicópteros e armas de guerra. Surpreendi-me, indaguei se seria verdade, mas é melhor esperar para não sonhar no vazio.

Confesso que o problema da Amazônia não sai da minha cabeça, e, hoje mesmo, tive um encontro com um dos representantes da guerrilha da Colômbia. Já não se trata de um problema somente daquele país, mas também do Brasil e de toda a América Latina. O encontro não foi feliz. A convocatória era assinada apenas por estrangeiros _nenhum brasileiro. Não sei por que, isso me irritou. Disse que não assinava. Mas é claro que vou assinar. Fui eu quem desenhou o cartaz contra o Colombia Plan.

Revolta-me sentir como a figura de Stálin é deturpada, e o grande líder soviético comparado a um criminoso qualquer. E o que ocorreu com o meu amigo Eduardo Galeano serve de exemplo. Galeano pretendia publicar a minha entrevista do Jornal do Brasil na imprensa uruguaia _ idéia que deixou de lado, conforme explicou ao meu companheiro (Fernando) Balbi: "As considerações que o Oscar fez sobre Stálin não seriam bem recebidas aqui em Montevidéu." Era um amigo que queria me proteger.

E a campanha existente contra Stálin me pareceu mais grave e difícil de conter, considerando que muitos que o apóiam e dela participam são corretos, alguns, meus amigos e, não raro, pessoas mais competentes do que eu em questões dessa natureza. (...)

Um abraço,

Oscar"

Carta escrita em 11 de maio de 2001.

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  • Leia carta de Niemeyer publicada no livro "Conversa de Amigos"



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