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23/04/2003
-
06h20
especial para a Folha
E, de repente, eu fiquei sério. Acabei de saber que você, Mauro Rasi, não mora mais no Leblon, não é mais nosso vizinho. Não sei para onde você foi, mas as grandes gargalhadas que dei, graças a você, ecoam silenciosamente pelas esquinas leblonenses.
Eu estava diante do computador, mexendo no meu caldeirão eletrônico, inventando cenas teatrais, me esforçando para dar sentido à vida, quando recebi a sombria notícia que o sol dessa tarde desistiu de brilhar, a brisa de outono estancou, as ondas do mar se afastaram decepcionadas, porque você não caminha mais por esse trecho do litoral brasileiro.
Será que você voltou para Bauru? Não creio. Bauru é aqui, ficou entre nós. Você nos mostrou como um simples sanduíche pode se tornar um banquete hilariante. Você era um desses que sabiam do prazer e do esforço tremendo de escrever para teatro.
E colocar a vida no palco não é pouco. Dar sentido a ela, então, é raro.
Não vamos mais te encontrar na saída do cinema, saindo da padaria com um frango debaixo do braço, dobrando a esquina da Ataufo de Paiva com a General Artigas, comprando presentes de Natal para amigos, porteiros e assistentes de produção, não vamos mais te ouvir falar do seu musical ainda inédito. Acabou isso. Quem aproveitou essas suas performances domésticas aproveitou.
Muitos amigos saberão dizer, além de mim, o que todos perderam com a sua partida. Mauro, você era bom maluco e excêntrico demais. Você construiu a sua dramaturgia, você animou espectadores com seus espetáculos, você deu alegria aos seus leitores, você pôs Bauru para sempre no coração do Brasil.
Hamilton Vaz Pereira é diretor e dramaturgo, um dos fundadores do extinto grupo carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone (1974-83)
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Memória: E, de repente, eu fiquei sério
HAMILTON VAZ PEREIRAespecial para a Folha
E, de repente, eu fiquei sério. Acabei de saber que você, Mauro Rasi, não mora mais no Leblon, não é mais nosso vizinho. Não sei para onde você foi, mas as grandes gargalhadas que dei, graças a você, ecoam silenciosamente pelas esquinas leblonenses.
Eu estava diante do computador, mexendo no meu caldeirão eletrônico, inventando cenas teatrais, me esforçando para dar sentido à vida, quando recebi a sombria notícia que o sol dessa tarde desistiu de brilhar, a brisa de outono estancou, as ondas do mar se afastaram decepcionadas, porque você não caminha mais por esse trecho do litoral brasileiro.
Será que você voltou para Bauru? Não creio. Bauru é aqui, ficou entre nós. Você nos mostrou como um simples sanduíche pode se tornar um banquete hilariante. Você era um desses que sabiam do prazer e do esforço tremendo de escrever para teatro.
E colocar a vida no palco não é pouco. Dar sentido a ela, então, é raro.
Não vamos mais te encontrar na saída do cinema, saindo da padaria com um frango debaixo do braço, dobrando a esquina da Ataufo de Paiva com a General Artigas, comprando presentes de Natal para amigos, porteiros e assistentes de produção, não vamos mais te ouvir falar do seu musical ainda inédito. Acabou isso. Quem aproveitou essas suas performances domésticas aproveitou.
Muitos amigos saberão dizer, além de mim, o que todos perderam com a sua partida. Mauro, você era bom maluco e excêntrico demais. Você construiu a sua dramaturgia, você animou espectadores com seus espetáculos, você deu alegria aos seus leitores, você pôs Bauru para sempre no coração do Brasil.
Hamilton Vaz Pereira é diretor e dramaturgo, um dos fundadores do extinto grupo carioca Asdrúbal Trouxe o Trombone (1974-83)
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