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28/12/2003 - 17h42

Interior de SP preserva marcas dos 100 anos de Portinari

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RICARDO GALLO
free-lance para a Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto (SP)

O rastros dele estão pelo interior de São Paulo. Quadros, afrescos, raízes e histórias revivem, principalmente em Brodowski e Batatais, cidades na região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a trajetória de Candido Portinari (1903-1962), pintor com cerca de 5.000 obras de arte espalhadas pelo mundo e que na próxima terça-feira completaria cem anos de idade.

As maiores pegadas ficam em Brodowski, terra natal do artista. No município de 17 mil habitantes, a cerca de 20 km de Ribeirão Preto, Portinari batiza a rodovia (SP-334), a principal praça e o museu. "É uma identidade muito forte, histórica, cultural", diz, orgulhosa, a diretora do museu Casa de Portinari, Angélica Fabbri. "Eu consigo olhar uma obra de Portinari e enxergar Brodowski."

Em uma carta à família, em 1930, Portinari sintetizava essa intenção. "Vou pintar aquela gente com aquela cor", diz na carta, em referência aos habitantes do município onde nasceu.

O museu, uma casa térrea pintada em azul-marinho e branco, existe desde 1970. Fica no mesmo lugar onde o artista viveu parte da infância e da adolescência. Estão dispostas ali 34 obras de Portinari, entre pinturas sacras, desenhos e afrescos.

Reprodução
A tela "Crianças Brincando", de Candido Portinari, cujo centenário de nascimento é comemorado no dia 30 de dezembro
Em meio a móveis de época, na grande sala da família Portinari, fica "São Francisco de Assis e os Pássaros", afresco no qual o santo prega a urubus que destroçavam a carcaça de um boi. Familiar à realidade brasileira, o ambiente revela o artista preocupado, já na primeira metade do século 20, com as questões sociais do país.

"Quando você conhece Portinari, conhece o Brasil e o povo brasileiro", afirma Fabbri.

Objetos pessoais do pintor também chamam a atenção das cerca de 3.000 pessoas que visitam o museu todos os meses. No quarto de Portinari estão ternos, malas de viagem e documentos --entre eles uma curiosa "carteira de bom marido". "Atesto que o portador é um bom marido, não bebe (...)", diz um trecho do certificado, com uma foto do artista.

No ateliê, nos fundos da casa, estão pincéis, tintas e um quadro inacabado, todos iluminados pelos raios de sol que passam pela clarabóia que o artista mandou construir. Entre alguns auto-retratos, afixado à parede está o primeiro dos muitos prêmios recebidos por Portinari durante a carreira: o terceiro lugar na 30ª Exposição Geral de Belas Artes, no RS, realizada em agosto de 1923.

As ligações estreitas de Portinari com a família também estão à mostra. Na "Capela da Nonna", ele pintou os santos preferidos da avó paterna, Pellegrina --são Francisco de Assis, santa Luzia, são Pedro e são João Batista foram retratados com a fisionomia de familiares e amigos do artista. A capela foi construída em 1941 como presente à avó ("nonna", em italiano). O lugar será restaurado.

Na igreja em frente à Casa de Portinari, um exemplar de santo Antônio no altar parece ter sido pintado há pouco tempo. A pintura, um óleo sobre tela, é de 1942. Foi uma promessa do artista pela melhora da saúde do seu único filho, João Candido.

O maior acervo de arte sacra de Portinari está na igreja matriz de Bom Jesus da Cana Verde, em Batatais. São 21 obras, entre as quais "Jesus e os Apóstolos", pintada em 1952 no altar-mor. Dentro da igreja, na capela Nossa Senhora de Conceição, o visitante tem ainda "Fuga para o Egito".

Segundo o guia Antonio Otávio Squarise, o painel refletiu a angústia pela qual o pintor passava. "Ele projetou o filho e a mulher na obra. Portinari aparece projetado no animal", diz o guia. O animal, um cavalo, é retratado com uma pata manca. Portinari tinha um pé maior do que o outro, em razão de uma deficiência.

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