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02/04/2004 - 03h46

Reforma mantém salas e muda conteúdo do novo HSBC Belas Artes

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Uma vez pronto, o que vai exibir o novo HSBC Belas Artes? A Folha fez a mesma pergunta aos dois programadores, ao vivo para André Sturm e por e-mail para Fernando Meirelles, que finaliza em Londres a produção de seu novo filme, "O Jardineiro Fiel", depois de concorrer a quatro Oscar por "Cidade de Deus".

A resposta foi semelhante. "Será uma sala para quem gosta de cinema, para cinéfilos radicais, não tanto para quem prefere pipoca e shopping", disse Meirelles. "'Freddy x Jason' e 'Velozes e Furiosos' estão fora, mas 'O Senhor dos Anéis' até poderia entrar", resume, brincando, Sturm.

Entre os seis a oito filmes em cartaz haverá sempre um brasileiro, e as salas receberão mostras e, uma vez por mês, o "Noitão", que exibirá filmes da noite de sexta à manhã de sábado. "Haverá ainda a 'Segunda Chance', para bons filmes que ficaram pouco tempo nos multiplex", diz Sturm.

Em suas viagens, Meirelles funcionará como um embaixador para cinematografias novas ou desprezadas pelo circuito comercial, que serão trazidas para a sessão "Cinema do Mundo". "Haverá uma sala com projeção digital que possibilitará a exibição de filmes que nunca chegam ao mercado pelo alto custo de tradução e legendagem", disse Meirelles.

Tanto os cineastas quanto a produtora e o banco estão indo contra a corrente. Hoje, quase não há mais cinema de rua em São Paulo. Um dos raros que sobrevivem já é o principal concorrente da nova empreitada: o Espaço Unibanco, na Augusta, a quatro quarteirões do Belas Artes, de um banco concorrente e também ligado a um diretor, Walter Salles.

Os cinemas de shopping respondem por 90% dos endereços de São Paulo, e suas telas exibem na maior parte dos casos blockbusters (megassucessos) e os chamados "filmes-pipoca" (fitas de ação voltadas para adolescente).

"Sabemos do desafio, e é isso que torna a coisa toda mais atraente", disse a publicitária Andrea Barata, sócia de Fernando Meirelles na O2. "Mas acreditamos que, bem administrado, o Belas Artes pode voltar a ter o brilho de antes." A parceria tem duração inicial de sete anos.

Aliás, foi sob a bênção da publicidade que se deu a intersecção entre os três controladores. A O2 produziu os filmes de 450 anos de São Paulo para o HSBC, que gostou do resultado. Daí, fez a ponte entre capital e trabalho --no caso, André Sturm, da Pandora Filmes, que havia adquirido o Belas Artes para evitar seu fechamento.

"Foi no Belas Artes que assisti ao segundo filme de minha vida, com sete anos", lembra Sturm, ele próprio diretor de um longa, "Sonhos Tropicais" (2001). "Era 'Meu Tio', de Jacques Tati, de 1958." (O primeiro, a quem interessar, foi "Bambi", longa da Disney de 42.)

Não será sua estréia à frente da programação de um cinema. Estudante de administração da Faculdade Getúlio Vargas, foi ele o responsável por uma fase memorável do Cineclube da GV, nos anos 80. De lá passou pela Sala Cinemateca, em Pinheiros.

Criou a Pandora em 1989, que logo se especializou na distribuição de filmes de arte. Por suas mãos chegaram ao Brasil obras como "Não Amarás", de Kieslowski, e "Trainspotting".

A reforma

Sob comando do arquiteto Roberto Loeb e do diretor de arte Alexandre Toro, a idéia foi tentar resolver os problemas que por anos incomodaram os habitués do velho Belas Artes. Primeiro, as salas do piso superior devem ganhar elevador (que talvez não fique pronto a tempo da abertura).

Depois, tanto o térreo quanto o primeiro andar ganham um lobby, cada qual com seu bar e bonbonnière. "Antes, o espectador era obrigado a esperar seu filme na calçada, porque a entrada era uma confusão", diz Loeb.

Os corredores estreitos e de pé-direito baixo foram ampliados, assim como o teto das salas, antes claustrofóbicos. As cadeiras desconfortáveis dão lugar a modelos mais novos. Mas um detalhe continua: a cabine central, com os monitores das seis telas à vista do público. "Era simpático", ri Loeb.

As fases

O Belas Artes teve três fases (a última foi a pior, depois de ser adquirido pelo grupo Alvorada, nos anos 90, que não achou um perfil para as salas e acabou as abandonando). A primeira vai da inauguração, no meio da década de 60, ainda com três salas, até 1980. É o reinado de um senhor que todo cinéfilo aprendeu a admirar.

Seu nome era Dante Ancona Lopes (1910-2000), e ele vinha do Cine Coral, que fundara na rua 7 de Abril em 1957, no centro, e que, durante oito anos, difundiu o conceito de "cinema de arte".

Ali ele abriu com "La Dolce Vitta", de Fellini, e exibiu os primeiros longas de Michelangelo Antonioni. Convidado pela Companhia Serrador, virou programador do Belas Artes, em 1967.

Sua estratégia era guardar as salas do térreo e do primeiro andar para filmes de maior apelo popular e reservar a sala do subsolo, com poucos lugares, para ciclos e mostras, freqüentemente fornecidas pela Cinemateca, cuja sociedade de amigos ele fundara.

Saiu de cena em 1980, quando o grupo francês Gaumont comprou o lugar e, depois de nova reforma, inaugurou o conceito de multiplex na cidade. As três salas viraram seis, modernas para a época, com nomes de artistas brasileiros, como Aleijadinho e Villa-Lobos.

"Agora, desistimos dos nomes", afirma André Sturm. "Confundiam o espectador e atrapalhavam os roteiros dos jornais e revistas." Numeradas de 1 a 6, ainda na mesma distribuição (duas no primeiro andar, duas no térreo e duas no subsolo), devem abrir as portas na última semana do mês.

"Nós fizemos trabalho semelhante de recuperação com o teatro HSBC, uma construção de 1919 em Curitiba, cidade-sede do banco no Brasil", disse o diretor de marketing Glen Lopes Valente. "Se der certo agora com o cinema, podemos repetir a ação em outros lugares." As bilheterias dirão.

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