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12/06/2004 - 08h25

Data em que se passa "Ulisses", de James Joyce, faz cem anos

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CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Dia dos Namorados mesmo foi um há cem anos. Naqueles dias, naquele lugar, não se chamava assim. Mas foi numa semana de junho como esta, em 1904, que o encontro de um casal de pombinhos começou a mudar radicalmente a história da literatura mundial.

A moça que passa, que passou, se chamava Nora. Era alta e balançava os cabelos castanhos em um hotel, onde era camareira. O rapaz, que a observava descendo a rua Nassau, em Dublin, atendia por James. De boné de marinheiro, não usava nem os óculos fundos nem o bigodinho registrados.

Se viram no dia 10. Seis dias depois, ela "fez dele um homem", nas palavras do próprio. Na próxima quarta-feira, literatos do mundo todo lembrarão essa data.

É em 16 de junho de 1904 que se passam as 800 e tantas páginas de "Ulisses", o "Colosso de Rodes" da literatura moderna, nos gostos de gregos ou troianos.

A obra de James Joyce é celebrada há décadas a cada décimo-sexto dia junino, no que se convencionou chamar de Bloomsday.

A festa, batizada por conta do anti-herói de "Ulisses", Leopold Bloom, neste ano deverá derramar goelas abaixo muitos hectolitros mais de cerveja Guinness do que o normal. O centésimo dia de Bloom (não confundir com o centenário do romance, que foi publicado em 1922) terá, só na Irlanda, 83 festejos oficiais (www.rejoycedublin2004.com é o mapa).

No Brasil, serão também bem maiores os folguedos (o mesmo site acima, na seção "events", traz as principais coordenadas brasileiras). O país terá muito mais festas visíveis, em diversas cidades, e duas invisíveis, com traduções inéditas do mastodonte "Ulisses" para o português.

Em São Paulo, onde se comemora a jornada há 16 anos, as festas duram pela primeira vez vários dias. A largada será nesta tarde, em uma casa mais antiga que a epopéia de Joyce (1882-1941).

A chamada Casa de Dona Yayá (r. Major Diogo, 353), onde funciona atualmente o Centro de Preservação Cultural da USP, abre às 17h deste sábado a exposição "International Joyce", série itinerante de painéis sobre o escritor irlandês que também estará à mostra em Nova York e em Paris.

A programação continua até terça com uma série de atividades ligadas à Universidade de São Paulo antes de desaguar, no dia 16, no seu lugar cativo paulistano: o bar Finnegan's Pub.

"A participação da USP é muito especial. O Bloomsday saiu da academia, passou toda a vida no pub e agora retorna para a universidade", diz Marcelo Tápia, que coordena o festejo ao lado da professora uspiana Munira Mutran.

Foi ela quem começou essas festas juninas literárias, em 1988, ao lado do poeta, ensaísta e tradutor Haroldo de Campos (1929-2003), que pela primeira vez não estará no centro das festas, que por sua influência incluem todos os anos leituras em múltiplos idiomas.

"Vamos homenageá-lo lendo Joyce em 12 línguas", diz Tápia, editor, poeta e violeiro-cantor do Irish Dreams, banda de música irlandesa onipresente no joyceanismo festivo paulistano.

Pelo menos outras quatro cidades também farão oba-oba em torno de Stephen Dedalus, Molly e Leopold Bloom, o trio central de "Ulisses". Em Belo Horizonte, o grupo Oficcina Multimédia (www.oficcinamultimedia.com.br) organiza quatro dias de festa --a partir de amanhã.

Em Curitiba, o ponto de encontro será a nova Fnac. Aguinaldo Severino festeja o décimo Bloomsday de Santa Maria (RS). O Rio completa o circuito, com festejos em livrarias e um almoço na Confeitaria Colombo.

No meio da algazarra toda, alguém sóbrio deverá passar o dia 16 xeretando os meandros do livro que Joyce previu que os críticos levariam cem (ou 300, depende da versão) anos para decifrar.

Pensando neles, a Folha convidou sete escritores a darem breves depoimentos sobre a obra de Joyce, o escritor que tem no alto da página um de seus melhores retratos: não importa quanto se corra, não importa quanto amor se tenha pela sua mulher que passe, Joyce sempre estará à frente (e nós velando suas costas).

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