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12/06/2004 - 08h38

Versões inéditas de "Ulisses" ficam engavetadas

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da Folha de S.Paulo

As festas "invisíveis" em torno da obra de Joyce serão especiais neste ano também no Brasil. O dificílimo "Ulisses", que tem só duas traduções em português publicadas, a brasileira de Antonio Houaiss, de 1966, e a lusitana, de João Palma-Ferreira, safra 1989, acaba de ganhar outra dupla de versões, ambas devidamente engavetadas.

Professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bernardina Pinheiro, que passará o dia 16 de junho em Dublin, escreveu o último "sims" (plural de sim), com o qual Joyce termina a jornada de Bloom, agora.

Dona de uma versão publicada de "Retrato do Artista Quando Jovem" (Arx), primeiro romance de Joyce, a professora de 82 anos começou a sua tradução de "Ulisses" em 1998 e acabou só no recente abril.

Embora tenha tido ofertas de algumas editoras, empacou onde muitos dos projetos joyceanos dão com os burros n'água: o sobrinho-neto de Joyce, Stephen, controlador dos direitos autorais de sua obra e chamado a quatro cantos de "mercenário".

Entre os vetos que o descendente direto está tentando levar a cabo está o de uma ambiciosa versão cinematográfica de "Ulisses", o filme "Bloom", que o diretor Sean Walsh levou dez anos para produzir, foi concluído no ano passado e tem sempre suas exibições (inclusive uma que estava prevista para São Paulo) embargadas.

Conhecedor da fama do parente joyceano, outro tradutor de "Ulisses", Caetano Waldrigues Galindo, de 31 anos, mantém todo o seu trabalho trancafiado em Curitiba, onde vive e leciona.

Galindo, que já publicou traduções do romeno e que acaba de ter sua versão de "No Bosque da Noite", de Djuna Barnes, publicada pela editora Códex, diz que deve terminar a sua versão de "Ulisses" no próprio dia 16 de junho. Até ontem, segundo ele, faltavam duas páginas.

O trabalho levou dois anos e começou graças aos problemas que ele encontrou na edição disponível no Brasil, a do homem-dicionário Houaiss. Galindo preparava uma tese de doutorado sobre a "representação das vozes no 'Ulisses'", ou "das técnicas utilizadas por Joyce para obter um romance que parece levar ao extremo a tendência de abrir espaço à multiplicidade e à diversidade de vozes autônomas".

Na visão de Galindo, "é como se o 'Ulisses' encenasse uma morte progressiva (ao longo do dia e dos capítulos) do narrador estável e confiável que Balzac e Zola terminaram de construir e que Flaubert começou a implodir".

Ele fez sua tradução para "fornecer um corpus de análise e para citações" para sua tese, que deverá ser defendida em 2006. E também para "propiciar a mim uma leitura do livro que nenhum outro tipo de dedicação gera: traduzir é a 'leitura mais amorosa'".

O tradutor curitibano diz que suas dificuldades com a versão de Houaiss não diminuem o trabalho pioneiro dele, sobretudo por ter sido o trabalho feito antes da edição crítica de "Ulisses" preparada por Hans Walter Gabler, de 1984, que dizem ter corrigido mais de 5.000 erros do original. "Implico com uma coisa só, que é exatamente o que impossibilita o uso do texto para a minha tese. Ele tende a achatar a diversidade de Joyce. É mais elitista, mais monológico, mais erudito, menos oral."

Nessa linhagem seguiu também uma nova tradução francesa, de Jacques Aubert. Para sorte dos franceses, a versão da editora Gallimard conseguiu o carimbo do sobrinho de Joyce. Lá, essa parte da festa será visível.

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