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13/06/2004
-
06h41
da Folha de S.Paulo
A órbita de Chico Buarque se estende a outros países, e não é só pelo nomadismo dos CDs e das traduções de seus livros mundo afora. O período em que passou na Itália, auto-exilado após o decreto do Ato Institucional nº 5 (1968) no Brasil, inspirou o pesquisador italiano Luca Bacchini, 29, a focar em Chico sua tese de doutorado.
Sediado no departamento de estudos americanos da Universidade de Roma 3, Bacchini pretende defender, em "Francesco-Francisco - Chico Buarque de Hollanda e a Itália", que seu país desempenhou papel decisivo na formação do artista.
Diz que esse papel se anunciou nos dois anos que o Chico menino passou com a família na Itália, nos anos 50, para se consumar nos meses de exílio em 69-70.
Afirma Bacchini, em entrevista por e-mail à Folha: "O período italiano marcará uma decisiva maturação da personalidade de Chico, cidadão de um agudo espírito crítico que começará a emergir nos artigos escritos como correspondente italiano do "Pasquim" e em canções como "Samba e Amor", "Apesar de Você", "Agora Falando Sério" e "Samba de Orly", compostas em Roma, mas pensando no Brasil do regime de exceção".
O pesquisador inverte o espelho e fala também sobre a relevância de Chico na Itália: "Sua importância para a cultura italiana foi enorme, apesar de que, como artista, ele não conseguiu fazer grande sucesso por aqui. A sua foi uma presença sedutora para o mundo artístico e cultural italiano. Ele nos revelou um Brasil diferente daquela clássica imagem estereotipada de país exótico".
Bacchini diz que a passagem pela Itália provocou o nascimento de uma geração de "artistas ítalo-brasileiros" --cita Lucio Dalla, Sergio Endrigo, Fiorella Manoia e Enzo Jannacci.
Sua pesquisa passa a abranger também episódios cotidianos da fase italiana, descrita por ele como de insucesso e dificuldades. "Na verdade, Chico só fazia sucesso enorme com "A Banda", conhecida graças à versão italiana de Mina. Ele não era conhecido pelo nome, mas como o cantor brasileiro que era "autor de "A Banda"." "Por isso, em vários shows, a dupla Chico-Toquinho acabava cantando coisas feito "Mamãe, Eu Quero" e marchinhas de Carnaval, para agradar o público", relata, emendando à história a rápida passagem de Chico pelo Mentana, um time italiano de futebol da terceira divisão.
Como atividade paralela à de sua tese, Bacchini também coordena um número especial todo dedicado a Chico na revista acadêmica local "Letterature d'America", que antes só se debruçou sobre escritores como Mário de Andrade, Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade.
Entre os ensaístas convidados, quase todos brasileiros, estão Renato Janine Ribeiro, Adélia Bezerra de Meneses e Heloísa Starling. Bacchini já esteve no Rio entrevistando pessoas ligadas a Chico. O objeto de seu trabalho em pessoa, no entanto, ainda não o atendeu.
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A órbita de Chico Buarque se estende a outros países, e não é só pelo nomadismo dos CDs e das traduções de seus livros mundo afora. O período em que passou na Itália, auto-exilado após o decreto do Ato Institucional nº 5 (1968) no Brasil, inspirou o pesquisador italiano Luca Bacchini, 29, a focar em Chico sua tese de doutorado.
Sediado no departamento de estudos americanos da Universidade de Roma 3, Bacchini pretende defender, em "Francesco-Francisco - Chico Buarque de Hollanda e a Itália", que seu país desempenhou papel decisivo na formação do artista.
Diz que esse papel se anunciou nos dois anos que o Chico menino passou com a família na Itália, nos anos 50, para se consumar nos meses de exílio em 69-70.
Afirma Bacchini, em entrevista por e-mail à Folha: "O período italiano marcará uma decisiva maturação da personalidade de Chico, cidadão de um agudo espírito crítico que começará a emergir nos artigos escritos como correspondente italiano do "Pasquim" e em canções como "Samba e Amor", "Apesar de Você", "Agora Falando Sério" e "Samba de Orly", compostas em Roma, mas pensando no Brasil do regime de exceção".
O pesquisador inverte o espelho e fala também sobre a relevância de Chico na Itália: "Sua importância para a cultura italiana foi enorme, apesar de que, como artista, ele não conseguiu fazer grande sucesso por aqui. A sua foi uma presença sedutora para o mundo artístico e cultural italiano. Ele nos revelou um Brasil diferente daquela clássica imagem estereotipada de país exótico".
Bacchini diz que a passagem pela Itália provocou o nascimento de uma geração de "artistas ítalo-brasileiros" --cita Lucio Dalla, Sergio Endrigo, Fiorella Manoia e Enzo Jannacci.
Sua pesquisa passa a abranger também episódios cotidianos da fase italiana, descrita por ele como de insucesso e dificuldades. "Na verdade, Chico só fazia sucesso enorme com "A Banda", conhecida graças à versão italiana de Mina. Ele não era conhecido pelo nome, mas como o cantor brasileiro que era "autor de "A Banda"." "Por isso, em vários shows, a dupla Chico-Toquinho acabava cantando coisas feito "Mamãe, Eu Quero" e marchinhas de Carnaval, para agradar o público", relata, emendando à história a rápida passagem de Chico pelo Mentana, um time italiano de futebol da terceira divisão.
Como atividade paralela à de sua tese, Bacchini também coordena um número especial todo dedicado a Chico na revista acadêmica local "Letterature d'America", que antes só se debruçou sobre escritores como Mário de Andrade, Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade.
Entre os ensaístas convidados, quase todos brasileiros, estão Renato Janine Ribeiro, Adélia Bezerra de Meneses e Heloísa Starling. Bacchini já esteve no Rio entrevistando pessoas ligadas a Chico. O objeto de seu trabalho em pessoa, no entanto, ainda não o atendeu.
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