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05/08/2004
-
07h56
SYLVIA COLOMBO
Editora do Folhateen
A imagem que ilustra a capa deste caderno faria Isaac Asimov (1920-92) tremer. Afinal, quando concebeu "Eu, Robô", em 1950, sua intenção era opor-se a uma idéia comum na ficção científica desde o "Frankenstein" (1818) de Mary Shelley --a de que uma criatura construída pelo homem se voltaria contra o criador.
Foi por isso que o escritor russo elaborou as três Leis da Robótica, que regulariam uma relação pacífica entre homens e robôs de forma racional: um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal; um robô deve obedecer às ordens que lhe forem dadas por humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a primeira lei; um robô deve proteger sua existência, desde que isso não entre em conflito com a primeira e a segunda leis.
Nos contos de "Eu, Robô", essas leis são colocadas à prova em situações em que sua aplicação é conflituosa. Temos o robô Speedy que dá voltas infinitas num lago de selênio, incapaz de escolher entre a segunda lei --cumprir a ordem de buscar o selênio-- e a terceira --proteger-se da radiação.
Ou Herbie, o robô que lê pensamentos, que não sabe se obedece a ordem de dizer o que vê nas mentes dos cientistas (segunda lei) ou os poupa de se magoar com a verdade (primeira lei).
E há também Cutie --o mais parecido com o simpático Sonny, do filme-- que não acredita ter sido criado por seres inferiores como os homens, e passa a entender as leis de uma maneira peculiar.
Os desafios são resolvidos de modo científico, e os homens não se deixam levar pelo emocional. E em nenhum dos casos, relatados por uma velha psicóloga de robôs a um jornalista, em 2057, os robôs partem para cima dos homens.
A doutora conclui, então, que, naquele ponto da evolução, até as falhas do sistema estão previstas pela vontade das máquinas. Elas já não responderiam a indivíduos e tomariam a primeira lei ao extremo, pensando só no bem da humanidade e em como conduzi-la ferindo-a o mínimo possível.
Se o filme se mantém fiel à idéia de explorar conflitos da aplicação das leis, erra ao admitir que poderia haver um embate frontal e emocional entre homens e robôs.
Assim, cenas como a do levante que opõe nas ruas homens e robôs prontos para a luta como se estivessem numa cena de "Gangues de Nova York" ou a ameaça do robô que submete a psicóloga: "Queremos evitar perdas humanas nessa transição", mostram que a "síndrome de Frankenstein" de que Asimov queria se distanciar virou clichê duradouro.
EU, ROBÔ
Autor: Isaac Asimov
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 39,90 (318 págs.)
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Editora do Folhateen
A imagem que ilustra a capa deste caderno faria Isaac Asimov (1920-92) tremer. Afinal, quando concebeu "Eu, Robô", em 1950, sua intenção era opor-se a uma idéia comum na ficção científica desde o "Frankenstein" (1818) de Mary Shelley --a de que uma criatura construída pelo homem se voltaria contra o criador.
Foi por isso que o escritor russo elaborou as três Leis da Robótica, que regulariam uma relação pacífica entre homens e robôs de forma racional: um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal; um robô deve obedecer às ordens que lhe forem dadas por humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a primeira lei; um robô deve proteger sua existência, desde que isso não entre em conflito com a primeira e a segunda leis.
Nos contos de "Eu, Robô", essas leis são colocadas à prova em situações em que sua aplicação é conflituosa. Temos o robô Speedy que dá voltas infinitas num lago de selênio, incapaz de escolher entre a segunda lei --cumprir a ordem de buscar o selênio-- e a terceira --proteger-se da radiação.
Ou Herbie, o robô que lê pensamentos, que não sabe se obedece a ordem de dizer o que vê nas mentes dos cientistas (segunda lei) ou os poupa de se magoar com a verdade (primeira lei).
E há também Cutie --o mais parecido com o simpático Sonny, do filme-- que não acredita ter sido criado por seres inferiores como os homens, e passa a entender as leis de uma maneira peculiar.
Os desafios são resolvidos de modo científico, e os homens não se deixam levar pelo emocional. E em nenhum dos casos, relatados por uma velha psicóloga de robôs a um jornalista, em 2057, os robôs partem para cima dos homens.
A doutora conclui, então, que, naquele ponto da evolução, até as falhas do sistema estão previstas pela vontade das máquinas. Elas já não responderiam a indivíduos e tomariam a primeira lei ao extremo, pensando só no bem da humanidade e em como conduzi-la ferindo-a o mínimo possível.
Se o filme se mantém fiel à idéia de explorar conflitos da aplicação das leis, erra ao admitir que poderia haver um embate frontal e emocional entre homens e robôs.
Assim, cenas como a do levante que opõe nas ruas homens e robôs prontos para a luta como se estivessem numa cena de "Gangues de Nova York" ou a ameaça do robô que submete a psicóloga: "Queremos evitar perdas humanas nessa transição", mostram que a "síndrome de Frankenstein" de que Asimov queria se distanciar virou clichê duradouro.
EU, ROBÔ
Autor: Isaac Asimov
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 39,90 (318 págs.)
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