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17/09/2004 - 06h59

Criadores do Planet Hemp mostram duas faces da mesma moeda

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Cara. Marcelo D2, 36, consolida a cada dia sua presença no "mainstream" da cultura brasileira. Canta no "Domingão do Faustão", na Daslu, em parque infantil, ganha prêmios musicais de público e de crítica, vira "Acústico MTV" bem-comportado --mesmo tendo estragado parte das gravações porque misturou "vinho, cerveja e bagulho forte", segundo ele próprio.

Coroa. Gustavo "Black Alien" Ribeiro, 32, foi preso com D2 em 1997 por suposta apologia ao uso de maconha no trabalho musical do grupo que integravam, o Planet Hemp. Saiu do grupo em 2001 e recusou propostas de grandes gravadoras para uma carreira solo que ele não julgava pronta. Esperou até 2004, o ano do macaco ("o ano da virada, bom para artista que é maluco"), para estrear com "Babylon by Gus --Volume 1-- O Ano do Macaco", pela gravadora independente Deckdisc.

Coroa. "Marcelo vai ter que viver suas contradições, ser escravo do seu sucesso e ao mesmo tempo se manter fiel a si próprio. Ele é honesto, faz o que acredita, o samba com rap. Sempre foi fiel ao que fez, nunca mudou, para mim está no caminho certo", elogia Gustavo, que no entanto diz preferir outro caminho: "Se um dia tiver que ir ao Faustão, vou parar e pensar com meus botões. Não queria perder minha tranqüilidade, se pudesse pagar minhas contas no underground para mim seria a melhor maneira".

Cara. D2 já se debate em suas contradições, tem de prestar contas a adolescentes zangados porque ele criticava em música o ato simbólico de ir à Globo de Faustão, mas acabou fazendo isso mesmo. "É lógico que não é o melhor lugar da minha vida para tocar, o Projac não é onde mais me sinto um artista realizado. Longe disso. Mas, pô, vou lá. Estendi um pouco meus limites, o que não quer dizer que virei amigo do Faustão ou vou comer pizza com ele todo domingo", diz D2.

Faces de uma mesma moeda chamada Planet Hemp, D2 e Black Alien seguem rotas paralelas e distanciadas, embora delimitadas por declarações mútuas de admiração ("quando vejo o disco do BNegão, e deve acontecer o mesmo quando ouvir o do Gustavo, fico feliz, penso: "Pô, isso é meu também'", fala D2). No entanto, suas rotas hoje convergem ao menos num ponto: a cautela no uso da linguagem.

Cara. Divaga D2: "Imagino que o disco do Gustavo seja mais parecido com Planet Hemp que com o que faço. Acho que vamos nos distanciar um pouco. Comecei a tirar palavrões de minhas letras, usar palavras mais certas, e acho que aprendi isso com Bernardo".

Refere-se a BNegão, outro sócio do clã Planet Hemp, que no ano passado estreou solo com o independente "Enxugando Gelo", lançado dentro da revista do rebelde com causa Lobão.

Coroa. Passeia Gustavo: "Você não vai ouvir nenhum palavrão no meu CD. Pensei nas crianças, que são inteligentes e entendem bem meu recado. Não preciso ser chulo para me fazer ouvir".

Ops, cara e coroa empataram.

Seu caso não é de abrandamento de temática ou rebeldia, afirma Gustavo. "Não quero panfletar, não é Flamengo, PDT, nada disso. As letras têm metáforas até fortes, mas disfarcei. Tive cuidado de não levantar bandeira, mas talvez ouvindo várias vezes você possa captar alguma bandeira disfarçada, uma opinião pessoal, como quando digo "mulheres e crianças primeiro". Pode ser um monte de coisas." Coroa.

Por falar em bandeiras, D2 levantou no primeiro dia de gravação do "Acústico" a do álcool, por intermédio do qual extrapolou sua rebeldia contra o formato padronizador proposto pela MTV.
Não decupa o porquê da tensão que confessa que sentia naquele dia. Fala de outro assunto: "Não gosto de nenhum acústico, não. Só do do Nirvana, do de Jay-Z. Dos brasileiros só gosto do do Zeca Pagodinho, do da Cássia Eller --nem gosto dela tanto assim, mas foi o de que mais gostei".

A emissora musical limou qualquer referência no especial que vai ao ar hoje, a gravadora Sony fez o mesmo no CD. Só sobrou, na versão em DVD, a incrível "jam session" bêbada com o papa da bossa João Donato.

D2, que defendeu e defende que a maconha não faz mal à saúde, adota outra postura em relação ao álcool: "É "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", "feito por profissional especializado, não tente isso em casa". Bebo muito menos do que já bebi, uso muito menos droga do que já usei --todas".

O que aconteceu naquele dia, então, foi um extravasamento, uma perda de controle ("nunca tinha me acontecido antes"). Ele próprio concorda com Sony e MTV, em ocultar do público esse lado do Marcelo D2 "de verdade".

"Foi ridículo, eu não conseguia acertar as letras, olhava para a câmera e dizia [enrola a língua]: "Porra, tô bebaço". Quem gostaria de comprar o DVD de um bêbado?", responde-pergunta. Cara.

Cara ou coroa?

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