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07/07/2005 - 10h29

Robert Alter defende valor literário da Bíblia na Flip

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EDUARDO SIMÕES
da Folha de S. Paulo, em Parati

Um dos principais críticos literários americanos, professor da Universidade Berkeley, nos EUA, Robert Alter se diz um arqueólogo literário. Na primeira palestra da série "Mar de Histórias", que realiza hoje (7), às 17h, na Flip (Festa Literária Internacional de Parati), Alter vai apresentar algumas de suas descobertas ao longo de quase 25 anos de arqueologia da Bíblia: o estudo de signos e padrões repetidos, que, segundo ele, permitem comparar as narrativas religiosas a grandes clássicos da literatura.

A empreitada de Alter começou em 1981, quando ele, então um especialista em literatura moderna em inglês, francês e alemão, fez uma mudança de curso escrevendo "A Arte da Narrativa Bíblica", campo a que passou a se dedicar com afinco nos anos posteriores.

Naquele livro, cuja tradução para o português está sendo negociada para 2006, o escritor lançou mão de uma analogia: do mesmo modo que um leitor entende que "era uma vez..." sinaliza o início de um conto de fadas, e não de uma obra de William Faulkner ou Saul Bellow, as narrativas bíblicas possuem códigos que serviam de ponte entre o escritor e seu leitor.

"Há chaves de compreensão não declaradas, entre escritor e leitor, que facilitam o entendimento da narrativa. Como a repetição de histórias como a do encontro de um homem e uma mulher num poço de água, numa terra distante, caso de Isac e Rebeca ou Jacó e Raquel. Nelas, a mágica literária está presente nas variações em torno do papel da mulher ou do homem no contexto histórico", diz o crítico.

Alter conta que tem sido freqüentemente questionado sobre as qualidades literárias das narrativas bíblicas por conta da melindrosa relação entre religião e ideologia nos dias de hoje. Uma coisa não exclui a outra, diz ele, citando o rei Davi, sobre o qual se debruçou na tradução de "A História de Davi", lançada nos Estados Unidos em 1999.

"Não discuto que os escritores da Bíblia eram fortemente motivados pela ideologia religiosa. Eles queriam, sim, passar uma mensagem. Mas o fizeram de uma maneira sutil e sofisticada. Davi era o escolhido de Deus, mas foi representado com todas as contradições de um ser humano. Do ponto de vista literário é um personagem tão interessante quanto Madame Bovary ou Anna Karenina. E a mensagem religiosa é aprofundada: a história de Davi não é apresentada como um conto de fadas, mas, sim, no contexto de um mundo com pressões políticas", avalia Alter.

Alter, que esteve pela primeira vez no Brasil em 1991, passa pelo Rio, a passeio, depois da Flip. Lamenta não ir de novo a Salvador. Em Parati, quer conhecer melhor o escritor Michael Ondaatje, a quem foi apresentado anteontem, e rever o amigo David Grossman.

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