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04/11/2005 - 10h25

"O Mundo" analisa o mal-estar atual

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CÁSSIO STARLING CARLOS
Colaboração para a Folha de S.Paulo

Já é sabido que nem tudo o que reluz é ouro. Da mesma forma, nem todo filme que vem do Oriente merece toda a atenção de um público obrigado a se pulverizar entre centenas de produções, como acontece na Mostra. Ao contrário de "O Mundo", de Jia Zhang-ke, que venceu o prêmio da crítica e merece muito mais do que se consegue em cenário tão inflacionado de imagens.

Em seu quarto longa (ele dirigiu "Plataforma" e "Prazeres Desconhecidos"), o cineasta chinês mais ousado de sua geração atinge um patamar inquestionável de importância que ultrapassa todos os exotismos e esteticismos que ainda servem de foco de atração para muitas platéias ocidentais.

Com um título não menos abrangente do que o retrato que consegue traçar, "O Mundo" fala da vida hoje, de um modo que se faz entender com clareza por habitantes tanto de Pequim quanto de São Paulo, assim como de qualquer metrópole mundial.

Para isso Jia lança mão de uma idéia simples e genial: seus personagens são empregados de um parque temático na linha Epcot Center, com réplicas em escala reduzida de monumentos das principais capitais do mundo. Ali, as pirâmides egípcias estão a dois passos do Big Ben londrino, da Torre Eiffel parisiense avistam-se as torres gêmeas do World Trade Center ("que esqueceram de destruir"). Ou seja, Jia ocupa um espaço real (o parque realmente existe na periferia de Pequim) para expressar numa só tacada a abolição do espaço no mundo contemporâneo (o famoso mundo virtual em que vivemos).

O parque não deixa também de ser uma versão contemporânea do campo de concentração, só que, em vez dos trabalhos forçados, aqui é a diversão, sob a forma de ilusão, que não pode parar.

A abolição do espaço, por sua vez, ganha amplitude de significados quando Jia mergulha na humanidade que habita esse mundo, através de vidas contadas por histórias de amor e de dor. Como os monumentos que habitam, seus personagens estão a passos uns dos outros, mas para tentar se comunicar precisam de celulares.

Por mais que tentem, é a comunicação, premissa para qualquer tentativa de humanidade, que se perdeu. Jia narra isso com recursos simples e encantadores: o namorado que exige que a amada utilize um GSM para ele ter controle de onde ela está; o casal que troca carinhos por meios de animações transmitidas pelo celular. Por outro lado, a dançarina Tao se entrelaça afetivamente à colega russa porque as duas resolvem se entender quando cada uma fala uma língua ignorada pela outra.

Nesse jogo entre perto e longe, em que a visão humanista de Jia disputa cada palmo já perdido para o processo cotidiano de desumanização, "O Mundo" oferece uma compreensão superior e lúcida sobre o mal-estar contemporâneo.

O Mundo
Direção: Jia Zhang-ke
Quando: hoje, às 21h40, no Cineclube Vitrine

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