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11/12/2005
-
10h00
da Folha de S.Paulo
Nascido no interior paulista, Lauro César Muniz, 59, é conhecido por introduzir crítica social em suas novelas. Autor de "O Salvador da Pátria" (1989, Globo), ele não quer saber apenas o que Niemeyer pensa sobre Brasília.
Fundador da Associação de Roteiristas da TV, entidade que briga por melhorias profissionais, Muniz dá tom político à entrevista com o arquiteto. Até sobre a China de Mao perguntou. Confira.
Lauro César Muniz - Lindos versos de Ferreira Gullar fazem jus à sua genialidade: "Com seu traço futuro/ Oscar nos ensina / Que o sonho é popular...". O sr. acha que esse "traço futuro", a concepção nada convencional de Brasília, influenciou o espírito de quem participou da construção?
Oscar Niemeyer - Eu acho que os nossos irmãos operários que construíram Brasília e que de todos os cantos do país para ela acorreram cheios de esperança pensavam que na nova capital encontrariam uma vida melhor, sem a pobreza que até hoje nas cidades-satélite os acompanham.
Muniz - O personagem central de "Cidadão Brasileiro", nossa novela, participa da construção desde a primeira hora, como chefe de obras. Como definiria esse pioneiro que veio construir a nova capital?
Niemeyer - Havia o exemplo de JK e o orgulho de construírem a nova capital, de participarem dessa grande e patriótica aventura.
Muniz - Nosso protagonista vive num barracão de madeira, onde trabalha e dorme, na Cidade Livre, como ficou sendo chamada a cidade provisória onde viviam os candangos. Sabemos que depois eles tiveram de abandonar os espaços nobres e foram para seus "devidos lugares". Isso quer dizer que a utopia urbana sonhada pelos idealizadores de Brasília cedeu lugar à realidade social do país?
Niemeyer - Você está certo. Em princípio, acho que não deve haver numa cidade divisão entre pobres e ricos. As cidades não deveriam crescer sem controle, mas sim se multiplicar entre grandes espaços vazios. As cidades-satélite surgiram espontaneamente, a meu ver perto demais do Plano Piloto, agravando os problemas urbanísticos da nova capital.
Muniz - Quais os seus grandes temores durante a construção?
Niemeyer - Não havia tempo para isso.
Muniz - Quase 50 anos depois de iniciada a construção, quando a cidade já tem mais de 2 milhões de habitantes, o que o sr. mais admira e ama na Brasília de hoje? E o que o sr. mais lamenta e condena?
Niemeyer - O que mais admiro e amo na Brasília de hoje... é ver a cidade construída e ouvir dos que nela residem a afirmação de que gostam da cidade e dela não pretendem mais sair. Lamento não ter sido criado, em volta do Plano Piloto, o grande espaço vazio que toda cidade deveria ter.
Muniz - A China continua socialista sob o ponto de vista político, mas absorveu um tipo híbrido de economia de mercado. Essa experiência aponta para o futuro do socialismo ou outros caminhos aparecerão na dialética da história?
Niemeyer - É difícil prever o futuro. Há sempre o inesperado que tudo modifica. Mas a China teve Mao, e a sua memória compreende um exemplo que muita influência terá no futuro desse país.
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"O que o sr. condena", pergunta Muniz
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Nascido no interior paulista, Lauro César Muniz, 59, é conhecido por introduzir crítica social em suas novelas. Autor de "O Salvador da Pátria" (1989, Globo), ele não quer saber apenas o que Niemeyer pensa sobre Brasília.
Fundador da Associação de Roteiristas da TV, entidade que briga por melhorias profissionais, Muniz dá tom político à entrevista com o arquiteto. Até sobre a China de Mao perguntou. Confira.
Lauro César Muniz - Lindos versos de Ferreira Gullar fazem jus à sua genialidade: "Com seu traço futuro/ Oscar nos ensina / Que o sonho é popular...". O sr. acha que esse "traço futuro", a concepção nada convencional de Brasília, influenciou o espírito de quem participou da construção?
Oscar Niemeyer - Eu acho que os nossos irmãos operários que construíram Brasília e que de todos os cantos do país para ela acorreram cheios de esperança pensavam que na nova capital encontrariam uma vida melhor, sem a pobreza que até hoje nas cidades-satélite os acompanham.
Muniz - O personagem central de "Cidadão Brasileiro", nossa novela, participa da construção desde a primeira hora, como chefe de obras. Como definiria esse pioneiro que veio construir a nova capital?
Niemeyer - Havia o exemplo de JK e o orgulho de construírem a nova capital, de participarem dessa grande e patriótica aventura.
Muniz - Nosso protagonista vive num barracão de madeira, onde trabalha e dorme, na Cidade Livre, como ficou sendo chamada a cidade provisória onde viviam os candangos. Sabemos que depois eles tiveram de abandonar os espaços nobres e foram para seus "devidos lugares". Isso quer dizer que a utopia urbana sonhada pelos idealizadores de Brasília cedeu lugar à realidade social do país?
Niemeyer - Você está certo. Em princípio, acho que não deve haver numa cidade divisão entre pobres e ricos. As cidades não deveriam crescer sem controle, mas sim se multiplicar entre grandes espaços vazios. As cidades-satélite surgiram espontaneamente, a meu ver perto demais do Plano Piloto, agravando os problemas urbanísticos da nova capital.
Muniz - Quais os seus grandes temores durante a construção?
Niemeyer - Não havia tempo para isso.
Muniz - Quase 50 anos depois de iniciada a construção, quando a cidade já tem mais de 2 milhões de habitantes, o que o sr. mais admira e ama na Brasília de hoje? E o que o sr. mais lamenta e condena?
Niemeyer - O que mais admiro e amo na Brasília de hoje... é ver a cidade construída e ouvir dos que nela residem a afirmação de que gostam da cidade e dela não pretendem mais sair. Lamento não ter sido criado, em volta do Plano Piloto, o grande espaço vazio que toda cidade deveria ter.
Muniz - A China continua socialista sob o ponto de vista político, mas absorveu um tipo híbrido de economia de mercado. Essa experiência aponta para o futuro do socialismo ou outros caminhos aparecerão na dialética da história?
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