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18/01/2006
-
10h56
ALCINO LEITE NETO
VIVIAN WHITEMAN
da Folha de S.Paulo
Dez anos de desfiles na São Paulo Fashion Week e mais de uma década de trabalho não enfraqueceram o espírito de novidade e ousadia que Alexandre Herchcovitch representa para a moda brasileira. O estilista de 35 anos que veio do underground e se tornou um dos casos mais bem-sucedidos de estilista-empresário, com sete licenciamentos de grande porte de sua marca, continua imperando como o símbolo da vanguarda fashion no país.
Nesta temporada ele preparou uma coleção inspirada na Renascença. "A partir desse tema, introduzi elementos muito contemporâneos, relendo coisas que fiz antes", conta.
A seguir, ele contesta o conceito de moda tipicamente brasileira e indica o desafio futuro dos estilistas do país: entender melhor os brasileiros.
Folha - Quando você cria, pensa em fazer moda brasileira?
Alexandre Herchcovitch - Nunca. A brasilidade do meu trabalho existe apenas pelo fato de eu ter nascido aqui. Tudo o que produzo já vem com a característica de ser o trabalho de um homem, judeu, descendente de poloneses e brasileiro, sem precisar que eu busque expressar isso ou aquilo.
Folha - Mas você acha que existe uma moda brasileira?
Herchcovitch - Você acha que o Saint Laurent, ao criar, pensava em fazer moda francesa? Duvido. E ninguém olha a roupa dele ou do Lacroix e diz: "Nossa, que moda francesa!". Não entendo por que as pessoas insistem tanto nisto. Às vezes os jornalistas me perguntam: "Você está exportando porque seu produto é exótico, é brasileiro?". Não é. Eu luto para provar que o Brasil não é apenas uma tendência.
Folha - O Brasil ainda é uma tendência internacional?
Herchcovitch - Não acho que seja mais. Agora, só vão sobreviver os que tiverem um estilo próprio, que independa de seu país e cujo trabalho tenha consistência e uma constância muito grande. No exterior, nem sabem direito onde é o Brasil. Eles perguntam: "Nossa, tem moda no Brasil? Tem loiras?". Veja o que enfrentamos lá fora: temos que mostrar a roupa, mas, antes, ensinar onde é o país.
Folha - O Brasil tem estilistas de estatura internacional?
Herchcovitch - Tem. O grande problema é que, lá fora, ninguém perdoa se você copiou ou teve uma referência muito clara. E ainda existem no Brasil estilistas que fazem referências muito nítidas ao que está sendo feito no exterior. Com a globalização, eles identificam de cara e acham que você é um subproduto. O estilista, então, tem que decidir se vai ser copiador ou criador, com uma moda mais autoral. Não é problema você copiar. O problema é copiar e dizer que é criador. Para ser um criador de moda, você tem que se policiar o tempo todo.
Folha - Você se policia?
Herchcovitch - Sim, muito. Mas eu também não costumo fazer o que é tendência e o que as pessoas querem. Eu faço o que eu quero, e as pessoas é que têm que gostar ou não.
Folha - O que falta ainda aos estilistas brasileiros?
Herchcovitch - O estilista, hoje, precisa ser também um empresário. Se ele não souber quanto custa um botão, não vai para a frente. Já acabou a época daquele estilista antigo que fazia um croqui e ia embora para casa, com dor de cabeça. Você também tem que ter humildade e saber que não trabalha sozinho. Além disso, falta entender melhor a condição de vida dos brasileiros, que dinheiro têm para gastar com roupa. Muita gente cria roupas que não são para o Brasil, seja porque são caras, seja porque são quentes. Há muita inadequação do produto com a realidade do país. Se você quer crescer fazendo roupa no Brasil, primeiro tem que entender os brasileiros.
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Herchcovitch contesta a idéia de "moda brasileira"
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VIVIAN WHITEMAN
da Folha de S.Paulo
Dez anos de desfiles na São Paulo Fashion Week e mais de uma década de trabalho não enfraqueceram o espírito de novidade e ousadia que Alexandre Herchcovitch representa para a moda brasileira. O estilista de 35 anos que veio do underground e se tornou um dos casos mais bem-sucedidos de estilista-empresário, com sete licenciamentos de grande porte de sua marca, continua imperando como o símbolo da vanguarda fashion no país.
Bob Wolfenson |
Herchcovitch entre sua musa Genine Marques e J. Luxo |
A seguir, ele contesta o conceito de moda tipicamente brasileira e indica o desafio futuro dos estilistas do país: entender melhor os brasileiros.
Folha - Quando você cria, pensa em fazer moda brasileira?
Alexandre Herchcovitch - Nunca. A brasilidade do meu trabalho existe apenas pelo fato de eu ter nascido aqui. Tudo o que produzo já vem com a característica de ser o trabalho de um homem, judeu, descendente de poloneses e brasileiro, sem precisar que eu busque expressar isso ou aquilo.
Folha - Mas você acha que existe uma moda brasileira?
Herchcovitch - Você acha que o Saint Laurent, ao criar, pensava em fazer moda francesa? Duvido. E ninguém olha a roupa dele ou do Lacroix e diz: "Nossa, que moda francesa!". Não entendo por que as pessoas insistem tanto nisto. Às vezes os jornalistas me perguntam: "Você está exportando porque seu produto é exótico, é brasileiro?". Não é. Eu luto para provar que o Brasil não é apenas uma tendência.
Folha - O Brasil ainda é uma tendência internacional?
Herchcovitch - Não acho que seja mais. Agora, só vão sobreviver os que tiverem um estilo próprio, que independa de seu país e cujo trabalho tenha consistência e uma constância muito grande. No exterior, nem sabem direito onde é o Brasil. Eles perguntam: "Nossa, tem moda no Brasil? Tem loiras?". Veja o que enfrentamos lá fora: temos que mostrar a roupa, mas, antes, ensinar onde é o país.
Folha - O Brasil tem estilistas de estatura internacional?
Herchcovitch - Tem. O grande problema é que, lá fora, ninguém perdoa se você copiou ou teve uma referência muito clara. E ainda existem no Brasil estilistas que fazem referências muito nítidas ao que está sendo feito no exterior. Com a globalização, eles identificam de cara e acham que você é um subproduto. O estilista, então, tem que decidir se vai ser copiador ou criador, com uma moda mais autoral. Não é problema você copiar. O problema é copiar e dizer que é criador. Para ser um criador de moda, você tem que se policiar o tempo todo.
Folha - Você se policia?
Herchcovitch - Sim, muito. Mas eu também não costumo fazer o que é tendência e o que as pessoas querem. Eu faço o que eu quero, e as pessoas é que têm que gostar ou não.
Folha - O que falta ainda aos estilistas brasileiros?
Herchcovitch - O estilista, hoje, precisa ser também um empresário. Se ele não souber quanto custa um botão, não vai para a frente. Já acabou a época daquele estilista antigo que fazia um croqui e ia embora para casa, com dor de cabeça. Você também tem que ter humildade e saber que não trabalha sozinho. Além disso, falta entender melhor a condição de vida dos brasileiros, que dinheiro têm para gastar com roupa. Muita gente cria roupas que não são para o Brasil, seja porque são caras, seja porque são quentes. Há muita inadequação do produto com a realidade do país. Se você quer crescer fazendo roupa no Brasil, primeiro tem que entender os brasileiros.
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