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28/06/2009 - 09h01

Montagem leva Nelson Rodrigues ao canavial

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LUCAS NEVES
da Folha de S.Paulo

As perversões interditas que enlaçam pais e filhos na peça "Álbum de Família", de Nelson Rodrigues, encontram esconderijo num canavial pernambucano em "Memória da Cana", montagem em que a companhia Os Fofos Encenam veste a dramaturgia rodriguiana com adereços de "Casa-Grande e Senzala", de Gilberto Freyre, e reminiscências do elenco. A estreia acontece amanhã.

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
"Memória da Cana", novo espetáculo da cia. Os Fofos Encenam, estreia nesta segunda-feira (29), na região central de São Paulo
"Memória da Cana", novo espetáculo da cia. Os Fofos Encenam, estreia nesta segunda-feira (29), na região central de São Paulo

No original, o patriarca Jonas expurga a tara pela filha, Glorinha, em transas com ninfetas aliciadas por sua cunhada, Rute. O primogênito, Guilherme, tranca-se num seminário para sublimar o amor pela irmã.

A mãe, Senhorinha, é desejada pelos outros dois filhos, Nonô e Edmundo --e não se sabe se já correspondeu. O primeiro enlouquece e foge para o mato. O outro, infeliz no casamento, vê no útero materno o paraíso.

Além de transplantar a intriga de uma localidade fictícia em Minas Gerais para uma fazenda de cana-de-açúcar no Nordeste, "Memória" exacerba a religiosidade dos personagens. Há santos por todos os lados, o que condiz com a imagem que uns têm dos outros ali. Glorinha enxerga no pai Nosso Senhor; na mão inversa, é encarada por ele como uma santa imaculada.

A "Casa-Grande" de Freyre aparece na sala dominada pela mesa comprida, em cuja cabeceira se posta o pai autoritário, à espera da mucama que Rute fará chegar a ele.

Já os atores emprestam à encenação objetos, músicas e aromas (como o de uma loção pós-barba ou o do pó do arroz) que remetem a parentes. Além disso, no início, na intimidade dos seis quartos que envolvem a mesa central, destilam depoimentos que carregam dados biográficos deles --mas também informam sobre a personalidade dos tipos ficcionais.

"É uma negociação entre memórias pessoais, que prepararam o ator para a peça, e textos que poderiam ser dos personagens. É um entre-lugar", explica o diretor Newton Moreno, 40, também responsável pela adaptação dramatúrgica.

Mais crueldade

Para ele, associar Freyre a "Álbum" é "potencializar a crueldade" da tragédia rodriguiana. "É impossível não fazer um movimento para dentro, pensar um pouco suas matrizes familiares, o lugar da família em você. Todo mundo acaba sendo convidado a revisitar os cômodos de sua casa e rever padrões de comportamento", diz.

Quando a família de "Memória" se lança nesse "movimento para dentro", sentimentos recalcados vêm à tona, e a casa cai por terra --literalmente, já que as divisórias de filó que demarcavam os cômodos somem.

"É como se caísse a máscara, daí jogarmos a família para dentro do canavial, sublinharmos o confronto entre cultura e natureza. Os segredos vão ser postos à vista de todos, não mais ocultos atrás de paredes. Tudo o que se oprime e camufla vai ser expurgado, vomitado", afirma Moreno.

Sobre o tapete de terra que agora cobre o cenário, Senhorinha cruzará a trilha de Nonô, que há tempos erra pelos canaviais para não se entregar à mãe. Aquele terreno de raízes expostas também terá sido signo do reencontro do elenco, majoritariamente nordestino, com suas memórias, açucaradas ou não _ao som do maracatu rural que anuncia o fim.

Memória da Cana
Quando: estreia amanhã; sex. e sáb., às 21h, e dom. e seg., às 19h; até 2/11
Onde: espaço dos Fofos (r. Adoniran Barbosa, 151, Bela Vista, São Paulo, 0/ xx/11/3101-6640)
Quanto: R$ 16
Classificação: 16 anos

 

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