27/04/2006 - 10h30

Líder budista critica o modismo religioso no Ocidente

da Folha Online
com a Folha de S.Paulo

Em entrevista coletiva realizada ontem, às 15h, o líder máximo da tradição tibetana, Tenzin Gyatso, falou pela primeira vez desde que chegou ao Brasil. O evento aconteceu no auditório do BankBoston, na zona sul de São Paulo.

Em pouco mais de 45 minutos, perguntou-se sobre cultura tibetana, reencarnação e até profecias a respeito de supostas inundações de faixas litorâneas.

Falando pausadamente e com o traje típico nas cores bordô e amarela, o dalai-lama contou da alegria de estar no Brasil pela terceira vez --as outras aconteceram em 1992 e em 1999-- e mesclou inglês e tibetano em suas respostas.

Maurilio Cheli/Efe

Dalai-lama fala aos jornalistas em entrevista em São Paulo

Seu discurso foi do elogio à ciência ao desencorajamento do "novo budismo". "O budismo pode abrir mão de suas próprias tradições caso a ciência demonstre que essas tradições contrariam a lógica, o raciocínio e a experimentação".

O lama também classificou a moda budista no Ocidente como "um erro": "Sempre digo que é mais seguro manter sua própria tradição em vez de se aventurar e adotar uma nova tradição religiosa, com a qual não se tenha intimidade". A crítica foi, sobretudo, aos "new age" que "misturam elementos de várias religiões e acabam esquecendo as origens singulares de cada uma".

Ao fim da entrevista e antes de se recolher, o líder tibetano posou para os fotógrafos de mãos juntas.

Visitas

Após a entrevista, começaram as visitas. Militantes do Partido Verde, um vereador, todos saíram da suíte pessoal do lama com os katas, écharpes de seda branca bordadas em Dharamsala, Índia, onde está exilado o governo budista tibetano desde 1960. O próprio dalai-lama era quem colocava os adornos nos visitantes.

Até que chegou o ministro Gilberto Gil. Já com o kata, ele disse que é a terceira vez que se encontra com o dalai-lama no Brasil. Que conversaram sobre para onde vai a China, o budismo, a humanidade. Segundo Gil, nem uma palavra foi trocada sobre corrupção ou Brasil.

Às 18h, Tenzin Gyatso se recolheu para descansar.

Hotel

A organização do evento explica que o dalai-lama está hospedado no Grand Hyatt --o mesmo que abrigou o astro Bono Vox, da banda U2-- sem pagar nada por isso. Segundo Lia Diskin, co-fundadora do Instituto Palas, que patrocina a visita do religioso, "outros dois hotéis fizeram a mesma oferta gentil".

A suíte de Tenzin Gyatso foi preenchida por imagens de santos, da Virgem Maria, além de cartões com pedidos de bênçãos para parentes doentes. Também havia compotas de frutas brasileiras, CDs.

Os presentes foram entregues por cerca de cem monges, seguidores do budismo e simpatizantes, que começaram a chegar desde o início da manhã ao saguão do hotel cinco estrelas para recepcionar o líder.

Segundo a organização do evento, o hotel facilita a locomoção do monge pela cidade. Além disso, o líder budista quer tudo muito simples, e irá dormir no chão.

Programação

Hoje, das 10h às 16h, o líder religioso se reúne com outros monges. O encontro acontece no Templo Zu Lai, em Cotia (Grande São Paulo).

No dia seguinte (28), o lama vai ao Palácio das Convenções do Anhembi, sob a temática "Compaixão e sabedoria". O evento começa às 9h30 e vai às 16h30.

No sábado (29), das 10h às 12h, ele falará sobre "Poder da Compaixão" no ginásio do Ibirapuera, cuja capacidade é de 11 mil pessoas. Quinze minutos depois o líder passará meia hora na inauguração do "Espaço Gandhi", na praça Túlio Fontoura (zona sul).

A visita tibetana ao Brasil termina com uma celebração inter-religiosa em co-realização com a Arquidiocese de São Paulo na praça da Sé. As vagas ao evento --que acontece das 15h às 17h-- são ilimitadas e a entrada é franca.

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