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26/09/2006
-
11h26
NAWEED HAIDARY
da Efe, em Cabul
Dez anos após ocupar Cabul e tomar o controle do Afeganistão, e mesmo após a invasão americana em 2001, o grupo islâmico radical Taleban [que governava 90% do país até sua deposição] ainda mantêm forte influência sobre os afegãos, sobretudo no sul do país, onde os fundamentalistas islâmicos ainda ditam os costumes sociais, as pautas religiosas e a fidelidade política.
"Se você tem um pássaro engaiolado durante cinco anos e depois abre a porta da gaiola, ele não escapará. E se você passa cinco anos vestindo uma burga [véu tradicional que cobre todo o corpo] a cada vez que sai à rua, é difícil tirá-la porque você se acostuma", afirma Youssuf Abdelaziz, correspondente afegão para veículos de comunicação estrangeiros.
Desde a invasão soviética em 1979 até os dias de hoje, foi como se o Afeganistão voltasse à Idade Média para depois tentar retornar à modernidade, com uma guerra civil contínua durante este período.
O problema é que a viagem ao passado se tornou mais simples do que voltar a colocar o Afeganistão no mundo moderno. Abdelaziz explica que em sua casa há fotos de "mulheres da família usando minissaia" e seu tio "bebia álcool e agora sente medo de fazê-lo".
Primeiro chegaram os soviéticos: a guerra destruiu muita coisa, mas os produtos do bloco comunista entravam no Afeganistão e, embora limitada, a liberdade ainda não era um bem inexistente no Afeganistão.
Guerreiros
Depois chegaram os mujahedin [guerreiros islâmicos que expulsaram os soviéticos do Afeganistão, com apoio financeiro e treinamento da CIA]e de Osama bin Laden, subsidiado então pelos Estados Unidos.
Em 1992, três anos após a retirada da URSS, que havia implementado um governo local, os mujahedin tomaram o poder usando o islã como força de coesão.
Mas, segundo Abdelaziz, o então ministro da Defesa Ahmed Massoud, com grande poder e posteriormente líder da Aliança do Norte contra os talebans, afrouxou o punho e usou a liberdade como "estratégia política".
Até que os talebans chegaram, proibindo música, cinema e qualquer manifestação cultural ou social considerada "antiislâmica", como soltar pipas. Impuseram também padrões, como deixar a barba longa [para os homens] e a obrigatoriedade do uso da burga e execuções públicas, levando ao "retrocesso do país até a idade de pedra", afirmou Abdelaziz.
O mulá Omar [principal líder do Taleban] e os seus partidários eram refugiados afegãos que se formaram em estudos religiosos no Paquistão durante a ocupação soviética.
Uma vez no Afeganistão, os talebans permaneceram desorganizados em grupos regionais, mas, no final de 1994, o regime paquistanês elegeu alguns deles para proteger um comboio que saiu do Paquistão com destino à Ásia central.
Eles se mostraram eficazes e bem-treinados e, após tomarem Candahar (sul do Afeganistão), iniciaram um avanço surpresa que acabou com a tomada de Cabul em 27 de setembro de 1996, há exatamente dez anos.
EUA
Cinco anos depois, a invasão americana destituiu os talebans do poder. No entanto, durante o período no qual regeram o país, milhões de meninas deixaram de freqüentar a escola e hoje enfrentam dificuldades para retomar os estudos, interrompidos por cinco anos.
A sociedade afegã parece ter sofrido um processo de impermeabilização contra idéias e produtos ocidentais.
Hoje, se escuta música em qualquer esquina de Cabul e a população da capital vibra com as estrelas da indústria cinematográfica indiana de Bollywood. Mas a influência ocidental, presente nas tropas estrangeiras, ONGs e organizações internacionais, não teve eco no restante do Afeganistão.
A liberdade entrou no país por Cabul, mas também se goza de relativa liberdade em Mazar-i-Sharif e em Herat, esta vizinha do Irã e com um cenário cultural diferente do restante do Afeganistão, fortemente influenciada pelo vizinho persa.
No entanto, a presença dos talebans no Afeganistão ainda é forte. Os rebeldes atacam as forças estrangeiras e boicotam os projetos de desenvolvimento, sobretudo no sul do país, onde a Otan (aliança militar ocidental) assumiu o controle da segurança em junho último.
Dez anos após a instauração do regime Taleban, as pipas voltaram aos céus de Cabul, mas, segundo Abdelaziz, "nunca se chegará à liberdade que havia antes da invasão soviética".
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Taleban mantém sua influência dez anos após tomar o Afeganistão
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da Efe, em Cabul
Dez anos após ocupar Cabul e tomar o controle do Afeganistão, e mesmo após a invasão americana em 2001, o grupo islâmico radical Taleban [que governava 90% do país até sua deposição] ainda mantêm forte influência sobre os afegãos, sobretudo no sul do país, onde os fundamentalistas islâmicos ainda ditam os costumes sociais, as pautas religiosas e a fidelidade política.
"Se você tem um pássaro engaiolado durante cinco anos e depois abre a porta da gaiola, ele não escapará. E se você passa cinco anos vestindo uma burga [véu tradicional que cobre todo o corpo] a cada vez que sai à rua, é difícil tirá-la porque você se acostuma", afirma Youssuf Abdelaziz, correspondente afegão para veículos de comunicação estrangeiros.
Desde a invasão soviética em 1979 até os dias de hoje, foi como se o Afeganistão voltasse à Idade Média para depois tentar retornar à modernidade, com uma guerra civil contínua durante este período.
O problema é que a viagem ao passado se tornou mais simples do que voltar a colocar o Afeganistão no mundo moderno. Abdelaziz explica que em sua casa há fotos de "mulheres da família usando minissaia" e seu tio "bebia álcool e agora sente medo de fazê-lo".
Primeiro chegaram os soviéticos: a guerra destruiu muita coisa, mas os produtos do bloco comunista entravam no Afeganistão e, embora limitada, a liberdade ainda não era um bem inexistente no Afeganistão.
Guerreiros
Depois chegaram os mujahedin [guerreiros islâmicos que expulsaram os soviéticos do Afeganistão, com apoio financeiro e treinamento da CIA]e de Osama bin Laden, subsidiado então pelos Estados Unidos.
Em 1992, três anos após a retirada da URSS, que havia implementado um governo local, os mujahedin tomaram o poder usando o islã como força de coesão.
Mas, segundo Abdelaziz, o então ministro da Defesa Ahmed Massoud, com grande poder e posteriormente líder da Aliança do Norte contra os talebans, afrouxou o punho e usou a liberdade como "estratégia política".
Até que os talebans chegaram, proibindo música, cinema e qualquer manifestação cultural ou social considerada "antiislâmica", como soltar pipas. Impuseram também padrões, como deixar a barba longa [para os homens] e a obrigatoriedade do uso da burga e execuções públicas, levando ao "retrocesso do país até a idade de pedra", afirmou Abdelaziz.
O mulá Omar [principal líder do Taleban] e os seus partidários eram refugiados afegãos que se formaram em estudos religiosos no Paquistão durante a ocupação soviética.
Uma vez no Afeganistão, os talebans permaneceram desorganizados em grupos regionais, mas, no final de 1994, o regime paquistanês elegeu alguns deles para proteger um comboio que saiu do Paquistão com destino à Ásia central.
Eles se mostraram eficazes e bem-treinados e, após tomarem Candahar (sul do Afeganistão), iniciaram um avanço surpresa que acabou com a tomada de Cabul em 27 de setembro de 1996, há exatamente dez anos.
EUA
Cinco anos depois, a invasão americana destituiu os talebans do poder. No entanto, durante o período no qual regeram o país, milhões de meninas deixaram de freqüentar a escola e hoje enfrentam dificuldades para retomar os estudos, interrompidos por cinco anos.
A sociedade afegã parece ter sofrido um processo de impermeabilização contra idéias e produtos ocidentais.
Hoje, se escuta música em qualquer esquina de Cabul e a população da capital vibra com as estrelas da indústria cinematográfica indiana de Bollywood. Mas a influência ocidental, presente nas tropas estrangeiras, ONGs e organizações internacionais, não teve eco no restante do Afeganistão.
A liberdade entrou no país por Cabul, mas também se goza de relativa liberdade em Mazar-i-Sharif e em Herat, esta vizinha do Irã e com um cenário cultural diferente do restante do Afeganistão, fortemente influenciada pelo vizinho persa.
No entanto, a presença dos talebans no Afeganistão ainda é forte. Os rebeldes atacam as forças estrangeiras e boicotam os projetos de desenvolvimento, sobretudo no sul do país, onde a Otan (aliança militar ocidental) assumiu o controle da segurança em junho último.
Dez anos após a instauração do regime Taleban, as pipas voltaram aos céus de Cabul, mas, segundo Abdelaziz, "nunca se chegará à liberdade que havia antes da invasão soviética".
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