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20/09/2006 - 17h36

Afegãos recorrem ao cultivo de papoula para sobreviver

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DANIELA LORETO
da Folha Online

Além dos freqüentes ataques da milícia Taleban, da fraqueza do governo e da falta de segurança, o Afeganistão enfrenta outra grave questão, que é o cultivo de papoula [planta que dá origem ao ópio e à heroína]. O país é o maior produtor mundial da substância, e estima-se que 35% de seu PIB (Produto Interno Bruto) seja proveniente do tráfico.

A plantação de papoula representa, em muitos casos, a única alternativa de sobrevivência para o povo afegão. Isso porque, em geral, eles não têm possibilidade de vender outros produtos no mercado local, onde não existe demanda para absorver a safra de outras plantações.

Os custos de produção e a segurança oferecida também são bem maiores para cultivar papoula do que para plantar outros produtos. A safra de papoula também costuma ser melhor aproveitada, ou seja, há vários fatores que levam os agricultores a essa alternativa.

Muitos agricultores também dependem dos donos das propriedades rurais, que às vezes exigem que o pagamento da terra seja feito em ópio. Mesmo que isso não aconteça, optar por cultivar outros produtos é arriscado, pois pode levar o agricultor a não ter dinheiro para pagar a dívida.

De acordo com a cientista política de Harvard Vanda Felbab-Brown, o não-pagamento da dívida pode gerar conseqüências nefastas para os agricultores. "Caso eles não paguem o que estão devendo, às vezes podem contrair uma nova dívida, mas a situação fica cada vez mais complicada".

Ao se verem sem recursos para efetuar o pagamento de suas dívidas, muitos são obrigados a vender as próprias filhas às pessoas a quem devem dinheiro. "Em regiões onde em 2005 houve uma intensa política de erradicação do cultivo de papoula, como em Nangahar, muitos tiveram que dar as filhas pequenas aos chamados 'senhores da terra'", explica Felbab-Brown.

Para outros, as conseqüências vão além, e são obrigados a fugir do país para se livrar das dívidas.

Taleban

Apesar de oficialmente o Taleban ter imposto a proibição do cultivo de papoula, Felbab-Brown explica que que antes de ser deposto do poder pela invasão dos EUA em 2001, o regime estava profundamente envolvido com todas as etapas da produção de ópio no país, desde o cultivo da papoula até o processamento e a distribuição do ópio.

Após a queda do Taleban, traficantes assumiram esse mercado. No entanto, quando o governo de Hamid Karzai [eleito em 2004] passou a pressionar pela erradicação do cultivo de papoula, os traficantes passaram a necessitar de segurança para os campos de cultivo e para o transporte de carregamentos de ópio. "É aí que o Taleban 'ressurge'", segundo Felbab-Brown.

A milícia passou então a ser contratada pelos traficantes para oferecer segurança, expandiu seus laços e voltou a ganhar dinheiro com o mercado do ópio no Afeganistão.

Segundo Felbab-Brown, o novo governo precisa criar outras alternativas para não deixar os agricultores "reféns" do mercado de ópio. "É necessário montar um esquema de financiamento para pequenos produtores, para que eles não precisem depender do cultivo de papoula".

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