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13/11/2006 - 10h47

Para especialista, EUA elegeram quem entende de guerra

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RAUL JUSTE LORES
da Folha de S.Paulo

O economista James C. Free é observador privilegiado dos bastidores do Partido Democrata, onde milita há mais de três décadas. Ele foi assessor especial de relações com o Congresso do presidente Jimmy Carter entre 1977 e 1980 e assistente-sênior do senador e vice-presidente Al Gore, de cuja campanha à Presidência participou. Atualmente é consultor de empresas.

Para ele, os democratas venceram porque demonstraram que "entendiam" de guerra ao incluir veteranos de guerra --críticos a George W. Bush-- como candidatos. Ele diz que o eleitorado americano não quer mais ideólogos, mas gente que "saiba dialogar, negociar e construir consensos". E que ninguém tem tanta habilidade para arrecadar fundos de campanha como Hillary Clinton.

Leia os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha de S.Paulo por telefone de Washington, onde vive:

Folha- Qual será a principal mudança com um Congresso de maioria democrata?

James C. Free- O eleitorado deu um recado: Washington não estava funcionando. Os ideólogos, que só fazem o que pensam e não têm disposição para dialogar, fracassaram. Os americanos querem consensos, querem que os políticos dialoguem. Os democratas eleitos não podem repetir o erro dos republicanos. Não houve uma vitória ideológica para conservadores ou esquerdistas.

Folha- Além do fracasso republicano no Iraque e dos últimos escândalos, em que os democratas acertaram nesta campanha?

Free - Eles corrigiram o grande erro de 2004 e enfrentaram os republicanos no tema guerra. Elegemos dez deputados que lutaram no Iraque. Jim Webb, senador que venceu na Virgínia, é veterano da Guerra do Vietnã, foi assessor de Ronald Reagan, desencantou-se com os republicanos e virou democrata. Seu filho está no Iraque.

Folha- Ou seja, colocaram gente "da guerra" na linha de frente?
Free - Do nosso lado, estavam os que realmente entendem de guerra e podem apontar os erros do governo Bush. E do lado deles? O atual Congresso tem 435 deputados e apenas dois deles têm filhos no Iraque. É gente que não sabe o que é uma guerra, assim como Bush e Cheney, que nem sequer fizeram o serviço militar.

Folha - O que pode mudar na política externa?
Free - Isso é o presidente quem decide. Nessa área, o papel do Congresso é limitado, não se iludam.

Folha- E no Iraque?
Free- O governo deu sinais de que ouviu a demanda por mudança. A queda imediata de Donald Rumsfeld diz isso.

Folha- Bush não soube ouvir críticos em seis anos. Aprenderá agora?
Free - Quando foi governador do Texas, ele era conhecido por ouvir e trabalhar com a oposição democrata. Mas se cercou de ideólogos e deu no que deu.

Folha - Os resultados alteram a corrida para ver quem será o candidato presidencial democrata?
Free - Tudo depende de como vai funcionar esse Congresso. Mas é claro que a senadora Hillary Clinton é querida no partido e é a pessoa mais capaz de arrecadar fundos. E Barak Obama é uma superestrela política, carismático e inteligente. Qualquer um deles que ganhe em um só Estado onde Kerry tenha perdido em 2004 pode se tornar o novo presidente.

Folha - Há temores no Brasil de que as negociações comerciais fiquem mais difíceis com uma maioria democrata, tradicionalmente protecionista. Isso pode mudar?
Free - O clima no Congresso tem sido de protecionismo, seja com republicanos ou com democratas. O Brasil é um país maduro, não tem muito a temer. E o desemprego está baixo nos EUA, o que é bom para acordos de livre comércio.

Folha - Nancy Pelosi, que deve ser a presidente da Câmara, foi tachada de "radical e esquerdista" pelos republicanos. Como lidará com eles?
Free - Nancy Pelosi será centrista, é pragmática. Foi atacada durante a campanha como uma esquerdista radical. Usaram o fato de que ela é de San Francisco, com tudo que a cidade representa. A direita foi histérica. A direita foi histérica. Ela é experiente, seu pai e seu irmão foram prefeitos de Baltimore, tem conhecimentos genéticos. Ela sabe que o eleitorado quer gente que saiba dialogar e construir consensos.

Folha- Quem saiu perdedor?
Free - O movimento evangélico foi humilhado. Nomes como Ricky Santorum perderam cadeiras. E o escândalo com o pastor Ted Haggard, que atacava gays mas saía com um prostituto, desiludiu seguidores. Há um perdedor democrata, John Kerry. O comentário que fez às vésperas da eleição foi celebrado pelos republicanos e enfureceu o alto escalão do partido.

Com agências internacionais

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