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09/01/2007 - 13h20

Ação dos EUA na Somália pode resultar em revés, diz especialista

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DANIELA LORETO
da Folha Online

O ataque aéreo do Exército dos EUA contra supostos alvos da Al Qaeda na Somália, realizado nesta terça-feira, não deve deter a ação da rede terrorista no país e pode se transformar num revés para os EUA. A opinião é de Nick Grono, 40, vice-presidente do International Crisis Group [ONG especializada em conflitos internacionais], com sede em Bruxelas. Para ele, violência americana pode desencadear apoio da população somali aos oponentes do governo americano.

Divulgação
Nick Grono, 40, vice-presidente do International Crisis Group
Nick Grono, 40, vice-presidente do International Crisis Group
Confirmada pelo Pentágono, a ofensiva --realizada com um avião AC-130 no sul da Somália-- foi lançada com base em informações da inteligência dos EUA de que ao menos três membros da Al Qaeda estariam sendo abrigados pela União das Cortes Islâmicas (UCI) na região.

"Se a intenção [americana] for apenas matar três membros da Al Qaeda, acredito que a ação foi bem-sucedida, caso tenham conseguido atingir os alvos. No entanto, a preocupação maior dos EUA gira em torno da ação da União das Cortes Islâmicas, e de sua suposta ligação com a rede Al Qaeda, e este tipo de ataque não ajudará a lidar com essa questão", afirma Grono.

Segundo o especialista, ataques americanos na Somália podem levar a população a apoiar os oponentes dos EUA, já que esse tipo de ação "nunca é bem vista" em seu próprio país.

Grono explica que a preocupação americana com a ação da UCI na Somália já dura algum tempo, e que informações da inteligência apontam que o grupo abrigaria três membros da Al Qaeda acusados por ataques contra Embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, em 1998.

29.jun.1997/Efe
EUA usaram avião AC-130 (como o da foto) para lançar ataque contra Al Qaeda na Somália
EUA usaram avião AC-130 (como o da foto) para lançar ataque contra Al Qaeda na Somália
Por isso, segundo ele, as ações da UCI vinham sendo acompanhadas de perto pela inteligência americana, e o momento atual foi visto como "oportuno", já que os islâmicos foram expulsos recentemente de Mogadício pelas tropas etíopes e parecem estar isolados no sul da Somália.

Ele vê com reserva a possibilidade, em breve, de novos ataques das milícias islâmicas. "Se os grupos terroristas operarem da Somália, isolados no sul do país, fica mais difícil planejar atentados. Além disso, eles estão sendo perseguidos pelas tropas etíopes e dos EUA".

No entanto, Grono afirma que a ameaça "não pode ser descartada", pois o fato de os extremistas terem sido expulsos da capital não significa que foram derrotados. "Algumas centenas deles foram mortos, mas não se sabe se foram de fato desarticulados ou se saíram de Mogadício e estão concentrados em vilas menores, esperando que o cenário mude", diz.

Invasão etíope

Em 24 de dezembro, a Etiópia lançou uma ofensiva por terra e por ar para atacar os grupos islâmicos na Somália, que tinham ocupado Mogadício em junho passado e estavam se estendendo pelo resto do país. A ofensiva conseguiu expulsar as Cortes Islâmicas da capital e de áreas do centro e do sul do país que ocupavam.

Segundo Grono, o motivo da ação militar é a apreensão etíope com as intenções das Cortes Islâmicas, que ameaçam invadir o leste da Etiópia. "A região possui população formada em grande parte por somalis, e a UCI pretende retomar o que considera seu território", afirma.

Além disso, de acordo com o especialista, a UCI fornece apoio a grupos rebeldes etíopes.

O fator religioso também deve ser levado em conta, segundo Grono. "Grande parte da população da Etiópia [40%] é cristã, enquanto a UCI é formada em grande parte por fundamentalistas islâmicos". "Há uma longa história de conflitos entre a Etiópia e a Somália", acrescenta.

No entanto, ele diz acreditar que a presença etíope no país durará pouco. "As tropas poderão se tornar alvos de ataques se permanecerem, por isso, devem sair até o final de janeiro".

Al Qaeda na Somália

Segundo Grono, apesar das acusações dos EUA, é difícil saber qual é a real ligação entre extremistas islâmicos somalis e Al Qaeda. "Sabe-se que eles estavam abrigando terroristas, mas não é possível medir até que ponto representam ameaça para os EUA", diz.

Na sexta-feira passada (5), uma gravação de áudio atribuída à Al Qaeda, divulgada na internet, incitava extremistas islâmicos da Somália a adotarem técnicas similares às usadas no Iraque --tais como atentados suicidas-- para atacar as forças da Etiópia presentes no país.

Para ele, a Al Qaeda vê a UCI como uma organização que poderia ter "simpatia" pela rede terrorista, já que há muitos fundamentalistas islâmicos na União de Cortes Islâmicas.

"Além disso, a Somália poderia ser um local adequado para o treinamento e recrutamento de membros da Al Qaeda, tanto porque a rede terrorista poderia ser apoiada pela UCI, como também porque a Somália é um país que não possui um governo forte e centralizado, então poderia ocorrer o mesmo que no Afeganistão, quando a milícia taleban tomou o poder", diz.

De acordo com Grono, a rede terrorista também reage ao fato de a Etiópia ser um país de maioria cristã, chamando etíopes de "cruzados" cuja invasão deve ser combatida pelos somalis.

Governo

Para o especialista, o governo somali de transição precisa se tornar mais "multilateral".

"A Somália vive um conflito há cerca de 15 anos, é um país que já enfrenta muitos problemas. Pela primeira vez em 15 anos, o país possui um governo de transição. No entanto, este governo precisa se tornar mais flexível e incluir outros elementos que não os grupos associados à UCI".

"O país tem uma longa história de conflitos, por muitas razões diferentes, há os confrontos entre diferentes milícias, há o conflito com a Etiópia. Se o governo não tomar uma posição diferente neste momento, será provável que vejamos mais violência na Somália", pondera.

Segundo ele, caso essa flexibilização não ocorra, os grupos excluídos podem passar a representar uma insurgência. "Podem haver ações rebeldes, não no mesmo nível do que acontece no Iraque, mas algo similar ao que acontece no Afeganistão", diz ele.

"Será muito difícil levar paz à Somália sem um progresso político estruturado", afirma.

Assista ao vídeo do ataque americano a suspeitos da Al Qaeda na Somália

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