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21/01/2007 - 08h37

Com Chávez, iraniano tenta romper isolamento

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JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

Entre quarta e sexta-feira, o site da Presidência do Irã trazia a seguinte manchete: "Incrementar as relações com a América Latina é prioridade da diplomacia iraniana".

O Irã tem outras pulgas para se coçar: sua ingerência no Iraque, o temor vindo de seu projeto nuclear ou o anti-semitismo de seu presidente, Mahmoud Ahmadinejad. Mas a prioridade latino-americana foi expressa pelo próprio Ahmadinejad, que na terça voltou de sua segunda viagem à Venezuela, em roteiro que incluiu Nicarágua e Equador.

Uma análise de suas declarações sobre política externa e de sua agenda de viagens desde a posse, em agosto de 2005, mostra algo trivial: o governante que propõe "varrer Israel do mapa" e que enriquece urânio de forma suspeita procura, com a ajuda do venezuelano Hugo Chávez, romper o cordão de isolamento a seu regime pela comunidade internacional.

Até hoje Ahmadinejad fez 20 viagens ao exterior. Duas delas à ONU e 12 a países muçulmanos, incluindo Senegal e Gâmbia. A América Latina, alheia aos interesses estratégicos do Irã, o recebeu cinco vezes.

Os governos do Irã e da Venezuela já assinaram 131 contratos, convênios e declarações de intenção. Os iranianos estão construindo uma fábrica de automóveis para os venezuelanos. Os dois países querem montar um mecanismo financeiro "alternativo" ao Fundo Monetário Internacional.

Combinaram a criação de um fundo de investimentos de US$ 2 bilhões que também poderá beneficiar outros países que "se enquadrem na oposição dos povos da região ao sistema hegemônico", eufemismo óbvio para designar os EUA.

O problema na intimidade desse bilateralismo é o curto-circuito que ele traz. A retórica supostamente socialista de Chávez não combina com as posições racistas e de extrema direita de seu colega iraniano, um integrista do obscurantismo xiita que proíbe por "indecência" musicas ocidentais na TV pública e que reprimia mulheres que saíssem às ruas sem cobrir integralmente o corpo.

Ahmadinejad ainda não esteve na Bolívia, mas é só uma questão de tempo. Na posse do presidente equatoriano Rafael Correa, ofereceu ao presidente Evo Morales instalações de laticínios e tecnologia para a exploração de gás e petróleo. Na Nicarágua, durante a posse de Daniel Ortega, prometeu cooperação "em 25 setores".

O Irã é o quarto exportador mundial de petróleo, com US$ 48 bilhões em 2005. É amplamente superavitário em suas contas externas. Pode "comprar" apoios latino-americanos. Mas é também um país com sérios problemas internos, inflação e desemprego em alta e 40% da população abaixo da linha de pobreza (2002).

Cordão de isolamento

O comércio do Irã com a América Latina é insignificante: US$ 2 bilhões. Em 2005, a balança comercial iraniana movimentou US$ 106 bilhões.
O Japão é, de longe, o primeiro cliente da República islâmica. Segundo o FMI, comprava em 2005 21,4% de todas as suas exportações.

Mas esse peso não tem tradução diplomática. Ahmadinejad não foi convidado por Tóquio. O site da Presidência iraniana traz 155 declarações presidenciais sobre política externa. Mutismo sobre o Japão.
A mais que provável razão: os japoneses respeitam o cordão de isolamento a Ahmadinejad.

O presidente iraniano foi recebido em Xangai em janeiro de 2006. Mas os chineses votaram no mês passado as sanções do Conselho de Segurança porque o Irã não interrompeu o enriquecimento de urânio.

Ahmadinejad também se entrevistou com o presidente russo, Vladimir Putin. E eis que os russos também votaram as sanções, embora mais amenas que as desejadas pelos EUA.

O presidente tampouco conseguiu visitar, desde sua posse, algum país do bloco europeu. Se chegar à Alemanha ou à França, pode ser preso. Nos dois países é crime declarar que o Holocausto é um "mito". O Reino Unido também fechou a torneira comercial com o Irã.

Dá para entender, então, essa espécie de asfixia diplomática que o presidente Ahmadinejad vem sofrendo. E dá também para entender a razão pela qual Chávez -e possivelmente Morales- seja seu providencial balão de oxigênio. Em definitivo, as relações com esses latino-americanos se tornaram para Teerã uma "prioridade".

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