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26/02/2007
-
22h11
ANDREA MURTA
da Folha Online
A comunidade internacional volta a se reunir nesta quinta-feira (1º) para decidir sobre a aplicação de novas sanções contra o Irã --que insiste em manter seu programa nuclear. Apesar da crescente tensão entre EUA e Irã, a possibilidade de um conflito entre os dois países é remota, disse por telefone à Folha Online Stephen Walt, 51, professor da Universidade de Harvard e especialista em segurança internacional.
Segundo ele, o aumento da tensão entre EUA e Irã pode ser apenas uma estratégia americana para tirar a atenção do público do conflito no Iraque. "Estão usando o Irã como bode expiatório para o fracasso na Guerra do Iraque", afirma.
Representantes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (CS) da ONU (Organização das Nações Unidas) --EUA, Rússia, França, Reino Unido e China-- mais a Alemanha se reuniram nesta segunda-feira em Londres, mas não foram divulgados detalhes sobre as discussões.
Na última quinta-feira (22), a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) confirmou em um relatório que Teerã não atendeu ao ultimato da ONU para deixar de lado as atividades com urânio --que pode levar à construção de armas nucleares-- e ainda expandiu o programa. O ultimado havia sido dado em uma resolução do CS da ONU no dia 23 de dezembro último.
Tensão crescente
Após a divulgação do relatório da AIEA, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse ser "impossível" frear as atividades nucleares de seu país, e acrescentou que "não renunciará nem um pouco a seu direito às tecnologias atômicas".
No último sábado (24), o Irã acusou Estados Unidos, Israel e Reino Unido de provocar tensão nas fronteiras de Iraque e Turquia com o país persa a fim de minar o governo de Teerã. A tensão entre EUA e Irã é crescente e não há indicadores que sinalizem estabilidade.
Ontem, a revista americana "The New Yorker" publicou reportagem em que afirma que o que o Pentágono teria criado um grupo especial para lançar uma ação militar contra as instalações nucleares do Irã em um prazo de 24 horas, após um aval da Casa Branca. Jornais britânicos também divulgaram nos últimos dias inúmeros planos sendo organizados para uma ação militar contra Teerã.
CS da ONU
Fazem coro à dúvida do especialista americano quanto a uma ação militar vários diplomatas britânicos envolvidos com a reunião do CS da ONU hoje. Segundo os diplomatas, o caminho a ser seguido para lidar com o Irã continua sendo exclusivamente o da negociação.
"Tenho certeza que há planos discutidos e formulados a respeito de um eventual ataque militar, mas não acho que há muito entusiasmo com relação a eles", afirmou Walt. "Estou muito cético com a possibilidade de uma guerra."
Para o professor de Harvard, a reunião do conselho deverá gerar uma nova resolução do CS da ONU para intensificar as sanções contra o país, mas sem chegar a uma situação insuportável para o Irã.
"O CS da ONU está lentamente aumentando a pressão contra os iranianos, mas não de uma forma que reforce os radicais ou a paranóia do Irã. Não creio que veremos gestos dramáticos do conselho nesse momento."
Ele diz ainda que mesmo que o Irã adquira armas nucleares, nada poderia ser feito com elas, pois seu uso significaria arriscar sua própria existência. "Por isso, não acredito que Teerã represente uma ameaça real."
Poder nuclear
Também questiona a proclamada ameaça do Irã à segurança internacional outro especialista em segurança internacional: o professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Reinaldo Mattar Nasser.
"Depois das informações sobre as armas de destruição em massa do Iraque --que se mostraram falsas-- temos que ter cuidado com o que dizem sobre o programa nuclear do Irã", afirmou Nasser à Folha Online.
"Além disso, mesmo que os iranianos estejam buscando a bomba nuclear, isso demoraria de sete a dez anos", completa o professor. "O problema não é a bomba em si, mas quem a possui. O que a comunidade internacional questiona é a política externa do Irã e sua influência na região."
Apesar do antagonismo contra o Irã, Nasser também descarta a possibilidade de uma ação militar. Segundo ele, com os efetivos americanos ocupados no Iraque e no Afeganistão, o Exército dos EUA não têm hoje condições de empreender um ataque contra o Irã. E, afirma, mesmo um ataque aéreo localizado é improvável.
Disputa de influência
Assim como Nasser, Walt também credita à disputa por influência no Oriente Médio o aumento da tensão com o programa nuclear do Irã. O professor americano afirma que os EUA sempre usaram o Irã e o Iraque para se contrabalançarem na região, mas com a "destruição" do Iraque, houve um crescimento natural da força iraniana.
"Muitas das preocupações que os EUA têm com o Irã hoje são fruto de erros que cometemos na região no passado", diz o professor. E agora, para complicar, há a pressão cada vez maior de Israel por medidas duras dos EUA contra os iranianos, diz ele. "Não vamos necessariamente obedecer aos israelenses, mas é um complicador."
Apesar da continuidade --ao menos por enquanto-- da via diplomática, Walt diz que dificilmente os iranianos serão persuadidos a abandonar o programa nuclear. "Seria preciso um acordo mais amplo da ONU com o Irã, que também envolva os EUA, que aborde as preocupações de segurança dos iranianos e a posição americana no Oriente Médio."
O professor defende também que é preciso oferecer maiores incentivos ao governo em Teerã. Sobre a intenção do Irã de construir armas nucleares, no entanto, ele não tem dúvidas: "A questão não é se o Irã quer ou não construir armas nucleares, mas sim qual a maneira mais efetiva de persuadir o país a desistir desse plano".
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da Folha Online
A comunidade internacional volta a se reunir nesta quinta-feira (1º) para decidir sobre a aplicação de novas sanções contra o Irã --que insiste em manter seu programa nuclear. Apesar da crescente tensão entre EUA e Irã, a possibilidade de um conflito entre os dois países é remota, disse por telefone à Folha Online Stephen Walt, 51, professor da Universidade de Harvard e especialista em segurança internacional.
Divulgação |
Stephen Walt, professor da Universidade de Harvard (EUA) |
Representantes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (CS) da ONU (Organização das Nações Unidas) --EUA, Rússia, França, Reino Unido e China-- mais a Alemanha se reuniram nesta segunda-feira em Londres, mas não foram divulgados detalhes sobre as discussões.
Na última quinta-feira (22), a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) confirmou em um relatório que Teerã não atendeu ao ultimato da ONU para deixar de lado as atividades com urânio --que pode levar à construção de armas nucleares-- e ainda expandiu o programa. O ultimado havia sido dado em uma resolução do CS da ONU no dia 23 de dezembro último.
Tensão crescente
Após a divulgação do relatório da AIEA, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse ser "impossível" frear as atividades nucleares de seu país, e acrescentou que "não renunciará nem um pouco a seu direito às tecnologias atômicas".
No último sábado (24), o Irã acusou Estados Unidos, Israel e Reino Unido de provocar tensão nas fronteiras de Iraque e Turquia com o país persa a fim de minar o governo de Teerã. A tensão entre EUA e Irã é crescente e não há indicadores que sinalizem estabilidade.
Ontem, a revista americana "The New Yorker" publicou reportagem em que afirma que o que o Pentágono teria criado um grupo especial para lançar uma ação militar contra as instalações nucleares do Irã em um prazo de 24 horas, após um aval da Casa Branca. Jornais britânicos também divulgaram nos últimos dias inúmeros planos sendo organizados para uma ação militar contra Teerã.
CS da ONU
Fazem coro à dúvida do especialista americano quanto a uma ação militar vários diplomatas britânicos envolvidos com a reunião do CS da ONU hoje. Segundo os diplomatas, o caminho a ser seguido para lidar com o Irã continua sendo exclusivamente o da negociação.
"Tenho certeza que há planos discutidos e formulados a respeito de um eventual ataque militar, mas não acho que há muito entusiasmo com relação a eles", afirmou Walt. "Estou muito cético com a possibilidade de uma guerra."
18.fev.2007/Reuters |
Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em conferência |
"O CS da ONU está lentamente aumentando a pressão contra os iranianos, mas não de uma forma que reforce os radicais ou a paranóia do Irã. Não creio que veremos gestos dramáticos do conselho nesse momento."
Ele diz ainda que mesmo que o Irã adquira armas nucleares, nada poderia ser feito com elas, pois seu uso significaria arriscar sua própria existência. "Por isso, não acredito que Teerã represente uma ameaça real."
Poder nuclear
Também questiona a proclamada ameaça do Irã à segurança internacional outro especialista em segurança internacional: o professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Reinaldo Mattar Nasser.
"Depois das informações sobre as armas de destruição em massa do Iraque --que se mostraram falsas-- temos que ter cuidado com o que dizem sobre o programa nuclear do Irã", afirmou Nasser à Folha Online.
"Além disso, mesmo que os iranianos estejam buscando a bomba nuclear, isso demoraria de sete a dez anos", completa o professor. "O problema não é a bomba em si, mas quem a possui. O que a comunidade internacional questiona é a política externa do Irã e sua influência na região."
Apesar do antagonismo contra o Irã, Nasser também descarta a possibilidade de uma ação militar. Segundo ele, com os efetivos americanos ocupados no Iraque e no Afeganistão, o Exército dos EUA não têm hoje condições de empreender um ataque contra o Irã. E, afirma, mesmo um ataque aéreo localizado é improvável.
Disputa de influência
Assim como Nasser, Walt também credita à disputa por influência no Oriente Médio o aumento da tensão com o programa nuclear do Irã. O professor americano afirma que os EUA sempre usaram o Irã e o Iraque para se contrabalançarem na região, mas com a "destruição" do Iraque, houve um crescimento natural da força iraniana.
"Muitas das preocupações que os EUA têm com o Irã hoje são fruto de erros que cometemos na região no passado", diz o professor. E agora, para complicar, há a pressão cada vez maior de Israel por medidas duras dos EUA contra os iranianos, diz ele. "Não vamos necessariamente obedecer aos israelenses, mas é um complicador."
Apesar da continuidade --ao menos por enquanto-- da via diplomática, Walt diz que dificilmente os iranianos serão persuadidos a abandonar o programa nuclear. "Seria preciso um acordo mais amplo da ONU com o Irã, que também envolva os EUA, que aborde as preocupações de segurança dos iranianos e a posição americana no Oriente Médio."
O professor defende também que é preciso oferecer maiores incentivos ao governo em Teerã. Sobre a intenção do Irã de construir armas nucleares, no entanto, ele não tem dúvidas: "A questão não é se o Irã quer ou não construir armas nucleares, mas sim qual a maneira mais efetiva de persuadir o país a desistir desse plano".
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