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01/03/2007 - 22h25

EUA lançam dúvidas sobre programa nuclear da Coréia do Norte

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da Folha Online

O governo do presidente dos EUA, George W. Bush, lançou uma série de dúvidas sobre suas afirmações anteriores a respeito da evolução do programa nuclear da Coréia do Norte, segundo reportagens publicadas nesta quinta-feira nos jornais americanos "The New York Times" e "Washington Post".

A Coréia do Norte anunciou em outubro do último ano ter realizado com sucesso seu primeiro teste nuclear, no que foi o ápice de uma crise internacional iniciada em 2002 após acusações dos EUA de que o país buscava produzir armas nucleares. O anúncio do teste foi seguido por sanções do Conselho de Segurança (CS) da ONU (Organização das Nações Unidas) e, posteriormente, por um acordo de ajuda ao país em troca do desarmamento.

19.jan.2007/AP
Christopher Hill, negociador dos EUA, discutiu desmantelamento nuclear de Pyongyang
Christopher Hill, negociador dos EUA, discutiu desmantelamento nuclear de Pyongyang
Washington acusou, no passado, os norte-coreanos de desenvolverem um programa nuclear clandestino para enriquecer urânio, mas está agora voltando atrás na afirmação.

De acordo com os jornais americanos, diante das dúvidas expressadas atualmente pela Casa Branca, especialistas afirmam agora que os relatos iniciais da inteligência americana sobre as ambições nucleares da Coréia do Norte --que tiveram papel fundamental na crise internacional com Pyongyang-- podem ter sido falsos.

Segundo o chefe da inteligência dos EUA para a Coréia do Norte, Joseph DeTrani, citado pelo "Washington Post", enquanto há "muita convicção" de que Pyongyang adquiriu materiais que podem ser usados para a produção industrial de urânio enriquecido, há apenas uma "convicção média" de que o programa necessário para este processo exista no país.

O secretário de Estado assistente Christopher Hill, chefe das negociações sobre o desmantelamento nuclear da Coréia do Norte, afirmou em uma conferência em Washington na última semana que não está sequer claro se o país asiático domina as técnicas de produção necessárias para o enriquecimento de urânio.

Segundo Hill, se os materiais que a Coréia do Norte comprou não foram utilizados em um programa de enriquecimento de urânio, "talvez tenham sido utilizados de outra forma". "Tudo bem", afirmou o negociador, "podemos discutir onde eles estão e em quê serão utilizados".

Reviravolta

A posição mais moderada que o governo vem assumindo com relação à questão representa um contraste grave com relação às certezas expressas por oficiais em 2002, quando os EUA acusaram Pyongyang de organizar um programa secreto de enriquecimento de urânio e exigiram seu desmantelamento.

Em novembro daquele ano, Bush afirmou em uma conferência: "Descobrimos que, apesar de um acordo que tinham com os EUA, os norte-coreanos estão enriquecendo urânio com o objetivo de desenvolver uma arma".

A acusação levou a uma série de incidentes diplomáticos que culminaram com o teste nuclear de Pyongyang --que, segundo os EUA, foi feito com um artefato feito de plutônio, e não de urânio.

Ainda em 2002, segundo o "Washington Post", os EUA organizaram um movimento para suspender carregamentos de óleo combustível que havia sido prometido a Pyongyang sob um acordo de 1994 que congelou um laboratório de plutônio na Coréia do Norte. O colapso do acordo de 1994 liberou o país asiático para acumular um estoque de plutônio suficiente para a fabricação, ainda de acordo com o jornal, de 12 armas nucleares.

O plutônio e o urânio enriquecido oferecem caminhos diferentes para a construção de armas nucleares.

Relatórios e falhas

O "Washington Post" relata em sua reportagem que, quando Bush subiu ao poder, em 2001, vários oficiais do governo expressaram abertamente sérias dúvidas quanto ao acordo de 1994, que havia sido negociado pelo governo de Bill Clinton (1993-2001).

Com base nos relatórios da inteligência americana sobre a produção de urânio, os EUA romperam o acordo negociado pelo governo anterior. Em 2002, a CIA (agência de inteligência americana) estimou para o Congresso americano que em cinco anos a Coréia do Norte seria capaz de produzir armas nucleares feitas de urânio enriquecido.

Para David Albright, ex-inspetor da ONU e presidente do Instituto de Ciência e Segurança Internacional, há laços estreitos entre os relatórios da inteligência sobre o enriquecimento de urânio pela Coréia do Norte e os relatórios que afirmavam que o Iraque possuía armas de destruição em massa --que se mostraram falsos. "A análise sobre o programa norte-coreano também parece ter falhas", escreveu Albright em um relatório.

Oficiais do governo, porém, insistem que possuíam suspeitas válidas na época sobre as compras da Coréia do Norte --que incluiriam 150 toneladas de tubos de alumínio da Rússia em 2002-- para suspender qualquer possível negociação de cooperação com Pyongyang.

A Coréia do Norte negou consistentemente a existência de um programa de enriquecimento de urânio no país, e oficiais americanos afirmam que as supostas atividades cessaram em grande parte nos últimos dois anos por razões desconhecidas.

Irã

Enquanto ainda se esforçam para negociar o desarmamento nuclear da Coréia do Norte, as atenções da inteligência americana se voltaram agora para o Irã. Os EUA acusam o governo em Teerã de enriquecer urânio com o objetivo de construir armas nucleares, uma acusação negada pelo país. O Irã afirma que seu programa nuclear tem fins pacíficos e visa a obtenção de energia.

Esteban Felix/AP
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, defende o programa nuclear de seu país
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, defende o programa nuclear de seu país
Os EUA cortaram relações diplomáticas com o Irã em 1979, quando extremistas iranianos invadiram o prédio da Embaixada americana em Teerã, fazendo funcionários reféns.

Um relatório divulgado na última semana, escrito pelo diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed ElBaradei, afirma ainda que o Irã continua a trabalhar na construção de um reator e de uma plataforma nuclear que utilizam água pesada --desafiando exigências feitas pelo CS da ONU.

Tanto o urânio quanto o plutônio produzidos por reatores de água pesada podem produzir material utilizado em armas nucleares. O Irã nega possuir tal intenção, dizendo que os reatores são necessários para a produção de energia elétrica e materiais médicos.

Denunciando o programa nuclear, o governo americano vem aumentando a pressão sobre o Irã em todas as frentes --entre elas, por meio da detenção de agentes iranianos no Iraque e pela persuasão de governos europeus e instituições financeiras para que cortem os laços com o país persa.

O CS da ONU exige a suspensão imediata e incondicional do enriquecimento de urânio, que abriria espaço para negociações a respeito de um pacote de vantagens econômicas para o Irã.

O governo iraniano, no entanto, recusa-se a abandonar as atividades nucleares como uma pré-condição para as negociações.

Com "Washington Post" e agências internacionais

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