Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/03/2007 - 13h16

Análise: União Européia chega aos 50 anos em crise de identidade

Publicidade

JOSÉ MANUEL SANZ
da Efe, em Bruxelas

A União Européia (UE) comemora neste fim de semana seu 50º aniversário mergulhada na desorientação própria de quem cumpriu seus objetivos primordiais e procura novas metas para continuar se sentindo útil.

Uma pessoa que dissesse aos "pais" da Europa unida que, ao chegar aos 50, o clube por eles fundado no Tratado de Roma teria uma moeda comum, chegaria às fronteiras da Rússia e enviaria soldados de pacificação à Bósnia e ao Congo, provavelmente seria taxada de louca.

Os sucessos da "construção" européia são muitos, a começar pelo meio século de paz em casa, propósito fundamental do processo, mas também pela livre circulação de pessoas e mercadorias, pela estabilidade econômica e pelos intercâmbios acadêmicos.

Nada disso, porém, parece comover hoje uma opinião pública que tem se tornado cada vez mais "eurocética". De acordo com pesquisa publicada na segunda-feira (19) pelo jornal britânico "Financial Times", 44% dos cidadãos europeus acham que a vida piorou desde a entrada de seus respectivos países na UE.

Há dois anos, o bloco entrou em "profunda crise", nas palavras do primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, que então exercia a Presidência rotativa da UE.

Golpe

O grande golpe contra a UE foi a vitória do "não" à Constituição européia em referendos realizados na França e na Holanda.

O resultado esvaziou a ambiciosa reforma dos procedimentos de decisão da UE que se tornara necessária para garantir o bom funcionamento de um bloco em pleno processo de ampliação.

Não foi o primeiro golpe à UE nas urnas, mas desta vez a solução não parecia nada simples. Mudanças cosméticas nos textos e a repetição das consultas, como as que foram feitas em 1993 na Dinamarca para salvar o Tratado de Maastricht e em 2002 na Irlanda sobre o Tratado de Nice, não adiantariam desta vez.

Apesar do choque, a UE soube evitar a paralisia desde então, como lembra o português José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Européia (órgão executivo do bloco).

De fato, foram tomadas decisões muito difíceis nos últimos anos, como o acordo unânime sobre a divisão de recursos para o período 2007-2013 e a incorporação de dois membros muito atrasados --Bulgária e Romênia.

Para completar, em sua mais recente cúpula o bloco adotou um plano de ação pioneiro na luta contra a mudança climática.

Mas o golpe de 2005 desencadeou uma profunda crise de identidade e os líderes europeus continuam se perguntando como recuperar a adesão dos cidadãos à UE.

Perguntas

Um dos problemas cruciais parece ser que a UE chegou a limites nos quais não é mais possível adiar a resposta a algumas perguntas fundamentais sobre o futuro do projeto.

Até onde devem chegar as fronteiras da UE? Quanta diversidade é possível assimilar? A Turquia deve entrar no clube? A UE deve ter um verdadeiro Exército? A UE não está sendo liberal demais em suas políticas? Deve ser permitido a um grupo de vanguarda avançar mais depressa na integração fiscal e judicial?

O francês Jacques Delors, presidente da Comissão Européia de 1985 a 1995 e que já foi conhecido como "monsieur Europa", alertou recentemente para o perigo de que a UE não apenas não avance, como inclusive se desmembre se não encontrar um rumo em breve.

Sem novas metas claras de integração, a UE corre o risco de ficar no que foi quase sempre o modelo anglo-saxão da Europa unida: pouco mais do que um mercado o maior possível onde se pratique o livre comércio.

Os líderes dos 27 países que atualmente fazem parte do bloco se reunirão neste fim de semana em Berlim para brindar pelo êxito do experimento que começou em Roma há 50 anos. Por enquanto, porém, não conseguem achar um necessário novo norte para o mais bem-sucedido projeto de integração do mundo.

Leia mais
  • Coréia do Norte abandona reunião sobre questão nuclear
  • Marinha do Irã realiza exercícios de guerra no golfo Pérsico
  • Lei para homossexuais é "grande passo", diz ministra britânica

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a União Européia
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página