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29/03/2007 - 00h00

Senado dos EUA surpreende e aprova medida sobre retirada do Iraque

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da ANDREA MURTA
da Folha Online

Após ignorarem a ameaça de veto do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, senadores americanos aprovaram nesta quinta-feira uma medida que estabelece o início da retirada das tropas do Iraque em 120 dias e pede que a saída completa seja alcançada até março de 2008. "Foi uma surpresa para os republicanos, que não contavam com a derrota sobre o tema", afirma o diretor-associado da Escola Wagner de Serviço Público da Universidade de Nova York (NYU) Rogan Kersh, 41.

Pablo Martinez Monsivais/AP
Bush e líder democrata da Câmara, Nancy Pelosi, vão a cerimônia no Capitólio
Bush e líder democrata da Câmara, Nancy Pelosi, vão a cerimônia no Capitólio

Na última semana, Kersh havia previsto a derrota da medida no Senado, mas a aprovação foi conseguida por maioria simples após a manobra democrata que vinculou o cronograma de retirada à liberação de fundos para a guerra.

A aprovação da medida marca um forte desafio do Congresso ao presidente Bush, que se recusa a permitir a fixação de um prazo para a retirada.

Em um voto essencialmente partidário, o Senado aprovou por maioria simples de 51 votos a favor e 47 contra a moção que prevê o envio de US$ 122 bilhões para as guerras do Iraque e do Afeganistão.

Com a manobra democrata, a lei inclui também a previsão de que as tropas americanas devem começar a ser retiradas do Iraque em quatro meses com o objetivo (mas não a obrigação) de estarem totalmente fora do país árabe até 31 de março de 2008.

Apoio às tropas

Segundo Kersh, a aprovação da medida é o mais novo sinal da fraqueza política de Bush. Ele afirma que, apesar da série de medidas que os republicanos poderiam ter usado para atrasar a votação, eles preferiram deixar para o presidente o fardo de vetar o prazo de retirada.

"Os republicanos estavam preocupados com o peso de se negarem a 'apoiar as tropas' ao votarem contra a liberação dos fundos", diz o especialista.

Kersh afirma também que os republicanos foram pegos de surpresa. "Eles pensavam que iriam ganhara votação", diz. "Não contavam que dois de seus partidários votariam a favor da medida [os republicanos Chuck Hagel e Gordon H. Smith]."

A medida deverá agora ser harmonizada com a lei similar aprovada na Câmara dos Representantes na última semana antes de ser enviada para a análise do presidente. "Bush está tão enfraquecido que os republicanos não querem livrá-lo do problema no Congresso e vão deixá-lo com a responsabilidade de decidir sobre a retirada das tropas", analisa Kersh.

Estratégias

A aprovação da medida foi possível depois de um uso inteligente das regras do Senado. Recentemente, outra lei que pedia a retirada das tropas fracassou na Casa, conseguindo apenas 48 votos favoráveis.

27.mar.2007/AP
Harry Reid, líder da maioria no Senado dos EUA, defende lei sobre retirada do Iraque
Harry Reid, líder da maioria no Senado dos EUA, defende lei sobre retirada do Iraque

De acordo com Kersh, a votação da nova medida corria o risco de ser adiada interminavelmente por meio da estratégia do "filibuster", na qual os senadores pedem a palavra um após o outro e atrasam a votação.

Para acabar com o filibuster e aprovar uma medida, são precisos três quintos dos votos da Casa (60), um número que os democratas não conseguiriam alcançar.

Ao vincular o cronograma de retirada à liberação de fundos, o problema foi eliminado: no Senado, leis sobre liberação de fundos não podem sofrer filibuster. Assim, a maioria simples de 51 votos foi suficiente para a aprovação do texto.

Reação

Apesar da derrota no Senado, Bush convidou todos os republicanos da Câmara dos Representantes para irem à Casa Branca demonstrar o apoio a sua posição de continuar com a estratégia atual na guerra.

"Estamos unidos e dizemos em voz alta que quando temos um soldado na linha de perigo, esperamos que esse soldado receba os fundos de que necessita", disse Bush, rodeado pelos republicanos.

"Temos comandantes tomando decisões duras no campo de batalha e esperamos que eles tenham liberdade para tomá-las. O Congresso deve ser sábio sobre como pretende gastar o dinheiro público", acrescentou.

Segundo os republicanos, o partido não quer bloquear uma legislação necessária para a guerra. "Quanto mais cedo pudermos levar essa medida até o presidente, para que seja vetada, mais rápido poderemos passar uma legislação que levará dinheiro até nossas tropas", disse o líder da minoria, Mitch McConnell.

Veto

Se cumprir sua promessa e vetar a legislação, Bush tomará uma decisão rara em seus seis anos de governo. Até hoje, o presidente só vetou uma única lei, sobre pesquisas com células-tronco, e foi o governante com menor número de vetos na história moderna dos EUA.

19.mar.2007/AP
Bush prometeu vetar lei com cronograma de retirada das tropas do Iraque
Bush prometeu vetar lei com cronograma de retirada das tropas do Iraque

A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse que o presidente respeita o papel do Congresso e espera que o Congresso respeite o dele.

"Os fundadores de nossa nação tiveram grande visão ao perceber que é melhor ter um comandante-em-chefe gerenciando uma guerra do que 535 generais no Capitólio tentando fazer isso", disse Perino.

Os democratas reconhecem que não têm apoio suficiente no Congresso para derrubar um provável veto de Bush à medida. Para derrubar um veto presidencial, o Congresso precisa de uma supermaioria de dois terços dos votos.

Reação em cadeia

O general Peter Pace, líder do Estado-Maior americano, disse ao Comitê de Apropriações de Defesa da Câmara hoje que uma demora no envio de fundos criaria uma reação em cadeia que poderá manter as tropas no Iraque por mais tempo do que o previsto.

Se a medida não for aprovada até 15 de maio, o Exército terá de cortar a verba para treinamento e recuperação de equipamentos, possivelmente atrasando a formação de novas unidades militares para substituir os que estão destacados no país árabe.

Com agências internacionais

 

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