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Túneis rumo a Gaza servem para passar de mercadorias variadas a noivas
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MARCELO NINIO
enviado especial da Folha de S. Paulo a Rafah (Egito)
Diante do grande arco amarelo que demarca a fronteira do Egito com a faixa de Gaza, Adel anda impaciente de um lado para o outro, com a inseparável pasta de documentos debaixo do braço. De vez em quando o celular toca e um sorriso largo se abre. "É Hanade", diz o técnico em eletrônica de 24 anos, piscando o olho.
De acordo com os papéis que Adel faz questão de mostrar, Hanade, 16, é sua mulher desde o ano passado, quando um acerto comum entre famílias árabes selou o matrimônio entre os dois primos de primeiro grau.
Desde então, ele tenta tirar Hanade de Gaza para morar com ele em Sheikh Zweib, uma aldeia poeirenta que fica a cerca de 20 km da fronteira.
Há algumas semanas, cansado de esperar pela aprovação das autoridades egípcias e ansioso para finalmente ver a mulher de perto pela primeira vez, tomou coragem e fez uma proposta ousada a Hanade: que saísse de Gaza por um dos muitos túneis clandestinos construídos sob a fronteira.
"Ela até tentou, mas depois de alguns metros ficou com medo e voltou", conta Adel, com olhar compreensivo. "Os túneis são inseguros, muita gente já morreu soterrada."
Além de constituírem um canal vital de ligação com o comércio exterior, as centenas de passagens subterrâneas construídas para driblar o bloqueio a Gaza se converteram também em uma solução para reunir famílias, que se arriscam.
"Conheço dezenas de noivas que passaram pelos túneis", diz Auni, refugiado palestino nascido no Kuait que mora em Montreal, no Canadá, país do qual tem passaporte. Sentado no meio-fio ao lado da fronteira, ele também esperava a mulher que jamais viu.
Novos-ricos
Segundo pesquisa informal feita pela reportagem da Folha na fronteira e nas cidades próximas, a passagem pelo túnel custa em média US$ 500 (R$ 800) por pessoa. Do lado egípcio, os donos dos túneis são em sua maioria beduínos.
Com o aperto do bloqueio a Gaza e a demanda crescente dos 1,5 milhão de pessoas que vivem no território palestino, os túneis se tornaram uma indústria milionária, formando uma classe de novos-ricos na região desértica da fronteira.
Nem o projeto do governo egípcio de construir um muro subterrâneo para barrar o contrabando assusta o negócio. "Não tem problema. Se o muro tiver 20 metros nós cavamos 25", disse à Folha um "operador" de túneis beduíno.
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