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28/01/2010 - 09h48

Governo haitiano banca êxodo sem volta da capital

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FÁBIO ZANINI
enviado especial da Folha de S. Paulo a Porto Príncipe (Haiti)

Num intervalo de apenas duas semanas desde o terremoto, quase 1 em cada 10 habitantes de Porto Príncipe abandonou a cidade rumo ao interior do país. Muitos saíram com ajuda do governo haitiano, que vem acompanhada de um conselho: se puder, não volte mais.

A última estatística, divulgada na terça-feira (26), registra que 236 mil pessoas saíram da capital. Antes do terremoto, a estimativa de população da cidade variava entre 2,5 milhões e 3 milhões (há anos não é feito um censo no Haiti).

"Estamos dando ônibus de graça para as pessoas que querem sair", confirma a ministra da Informação, Marie Laurece Lassegue. "Se puderem se estabelecer definitivamente fora da capital, será bem melhor", afirmou ela à Folha.

De uma certa forma, a saída em massa de habitantes é um alívio para uma metrópole congestionada e agora praticamente sem empregos. Mas a política oficial do governo de incentivo à migração interna pode apenas estar transferindo o problema, alerta a ONU.

"Autoridades locais indicam a necessidade de suporte médico, comida e segurança para essas áreas. Há também aumento na criminalidade", diz um recente relatório da organização. Há ainda o risco de aumento da pressão sobre as parcas terras próprias para agricultura.

A ministra admite que o problema existe. "Para que as pessoas fiquem no interior, é preciso haver um mínimo de infraestrutura. Estamos trabalhando com a ONU nisso."

Desde o início da semana, o ritmo de saída de habitantes caiu um pouco. Ainda assim, se mantém em torno de mil pessoas por dia.

No local que passa pelo terminal de ônibus intermunicipal da capital, num movimentado cruzamento do centro, ônibus saem apinhados a todo momento.

"Minha casa rachou, então não tenho mais onde ficar. Vou para a casa de primos", diz Junior Duvivier, que viajava para Cap Haitien, no extremo norte do país.

Ele não quis esperar por uma passagem de graça do governo. Pagou por ela 500 gourdes (cerca de US$ 10), um valor altíssimo para padrões locais, ainda mais tendo em conta o desconforto da viagem.

Os ônibus são relíquias americanas dos anos 50, muitos pintados em cores psicodélicas. Os bancos são rasgados, o ar-condicionado é inexistente, e o sistema de suspensão há muito é inapropriado para as péssimas estradas do país --cujo Estado piorou após a tragédia.

Mas para Gerard Therini, também passageiro do ônibus para Cap Haitien, ficar na capital não é mais uma opção. "Quero ficar fora pelo menos uns dois meses. Preciso relaxar após tanto estresse", diz ele, que tinha uma loja de material de construção que desabou.

A maioria dos que viajam fica na casa de parentes, o que, pelo menos por enquanto, não está aumentando a demanda por moradia em cidades do interior. Se essas pessoas decidirem permanecer fora da capital, no entanto, certamente haverá um problema habitacional bem mais sério.

Motorista de um ônibus alaranjado (do tipo que se vê em filmes levando crianças para a escola no interior dos EUA), Romulus Jean Renot decidiu oferecer uma alternativa ao programa oficial de doação de passagens.

Desde o terremoto, seu veículo, ainda com o letreiro "school bus" preservado, já fez três viagens levando refugiados para o interior. Foram duas para a cidade de Gonaives e uma para Arcahaie, ambas no oeste do país. Não cobrou um centavo de ninguém.

"Se eu estivesse na situação de quem perdeu suas casas, gostaria que fizessem o mesmo por mim", afirma Renot.

Além dos que fogem da capital por ônibus, um grupo privilegiado de haitianos tenta deixar o país de avião. A fila em frente à embaixada americana de Porto Príncipe, que já era grande antes do terremoto, aumentou ainda mais. A espera por uma entrevista pode durar 12 horas.

"A situação não está boa para uma criança ficar no país", afirma o advogado Louis, que enviou seu filho pequeno para Connecticut (EUA) na semana passada.

Comentários dos leitores
Ze Vitrola (72) 02/02/2010 20h53
Ze Vitrola (72) 02/02/2010 20h53
Gandin, escreveu:
" ... imagino que uma pessoa fale tanto mal do presidente, não deva nem jogar lixo na lixeira e, sim, em via pública da janela do importado dele. (risos).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Vc é um daqueles que nem sabe o que fala ou escreve, então a gente precisa desenhar. Se vc nunca me viu, não sabe se sou mais magro ou mais gordo, como pode inventar uma asneira dessa para ter o que escrever? Isso é ser leviano, infantil.
sem opinião
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marcos cesar fernandes (232) 02/02/2010 19h10
marcos cesar fernandes (232) 02/02/2010 19h10
Sr. Jose R. N. Filho. Gostei muito de seu testemunho e isso prova que há pessoas que sabem aproveitar os limões que a vida lhe oferecem e transforma-los em limonada. No caso das crianças haitianas houve muito desrespeito, pois o país, apesar de viver uma situação caótica, ainda tem suas leis e leis devem ser respeitadas.
No Brasil existem as leis que pegam e as que não pegam. Dentre as que pegaram está a Lei de Gerson, infeliz propaganda de cigarro feita por quem pela lógica deveria ser totalmente contra, por tratar-se de um atleta. Não podemos esquecer que o tabagismo, assim como o alcoolismo, são agentes causais da pressão alta. Como essa lei vale para todas as camadas socias, possivelmente existem milhares de mães pelo Brasil afora que se sentem orgulhosas quanto seus filhos fazem uso dela e se tornam cidadãos expressivos na sociedade, não por seus feitos positivos, mas por obterem prestígio e admiração justamente por serem espertos e aproveitadores.
Vejo como um fator positivo para o Haiti a sua proximidade com os EUA e seu grande mercado. Se se aproveitar o clima tropical para produzir frutas como o abacaxi e o mamão papaya que praticamente só é produzido no Hawai, o Haiti terá um importador garantido, e nestas duas culturas nós brasileiros somos experts. Pode-se aproveitar o clima da ilha para produzir cacau, abacate, seringais, uvas etc.
Cabe a agora aos paises com bom know-how agrícola se disporem a ajudar o Haiti, e só assim sairão desse estágio de atrazo.
sem opinião
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Regina Martins (141) 02/02/2010 09h27
Regina Martins (141) 02/02/2010 09h27
Para onde estão sendo levadas as crianças haitianas?
Para uma vida melhor, uma adoção justa?
Ou serão escravos de pessoas ditas boazinhas?
Acho q a UNICEF tem a obrigação de apurar.
7 opiniões
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