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Haiti e EUA discutem futuro de americanos presos por sequestro de crianças
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da Reuters, em Porto Príncipe
da Folha Online
Os governos dos Estados Unidos e do Haiti estão discutindo o futuro de dez americanos batistas acusados de tentar retirar ilegalmente 33 crianças do país caribenho depois do terremoto de 12 janeiro, disse a secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton.
As autoridades haitianas devem decidir nesta quinta-feira se processa ou liberta os dez missionários, detidos na sexta-feira passada (30) na fronteira com a República Dominicana, em um ônibus com 33 crianças apresentadas por eles como sendo órfãos do terremoto. Mais tarde, descobriu-se que algumas crianças tinham parentes vivos.
Hillary disse que Washington mantém "discussões com o governo haitiano sobre a disposição apropriada do caso deles".
Em um momento em que os EUA lideram a enorme operação humanitária no Haiti, o Departamento de Estado se empenha em não passar uma impressão de interferência no caso, e ainda na terça-feira negava que houvesse discussões com as autoridades haitianas a respeito deles.
Os missionários negam veementemente as acusações de tráfico infantil, e dizem que sua intenção era apenas ajudar as crianças.
"Foi lamentável, qualquer que tenha sido a motivação, que este grupo de norte-americanos tenha assumido as coisas com as próprias mãos", comentou Hillary.
Os missionários do Idaho não tinham documentos autorizando-os a retirar as crianças do país, mas um advogado haitiano a serviço deles afirmou que seus clientes "foram vítimas de um golpe" promovido por um pastor local, que lhes contou que seu orfanato havia sido destruído e que não tinha mais como manter as 33 crianças.
"Os norte-americanos são missionários, eles foram ingênuos. Eles não tinham ideia de que estavam violando a lei. Estavam agindo de boa fé e simplesmente quiseram ajudar", disse o advogado Edwin Coq.
O promotor Mazarre Fortil disse à Reuters que cinco missionários depuseram na terça-feira (2), os outros cinco falariam nesta quarta-feira. Ele decidirá hoje por processá-los ou não.
Distração
O primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, lamentou que o caso desvie a atenção do drama dos haitianos. "Acredito que seja uma distração do povo haitiano, porque eles estão falando mais agora sobre dez pessoas do que sobre cerca de 1 milhão de pessoas sofrendo nas ruas."
Bellerive disse que a estimativa de mortos, que era de 150 e 200 mil pessoas, superou esse número.
Segundo reportagem da Folha desta quinta-feira, Bellerive fez duras críticas à imprensa americana pelo desvio de atenção. Ele afirmou não querer que o caso influencie no envio de ajuda humanitária pelos EUA.
"Vocês estão falando comigo como se não houvesse tráfico de crianças. Acho que isso [a prisão dos missionários] é uma distração em relação ao que o povo haitiano está passando."
Bellerive foi questionado pela imprensa americana diversas vezes durante a tarde de ontem sobre o destino dos missionários e disse que a solução deve ser dada pela Justiça local. "Eu não sou juiz. No Haiti, o governo e a Justiça são instâncias independentes. Só o que eu posso fazer é garantir que eles sejam bem tratados durante o processo. O julgamento deve ser rápido e, se forem inocentes, em breve estarão em casa. Se não, vão para a cadeia."
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