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02/01/2006 - 15h15

Crise do gás levanta suspeitas sobre atuação da Rússia, dizem analistas

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da Folha Online

Especialistas disseram nesta segunda-feira que as restrições aplicadas pela Rússia sobre o envio do gás natural à Ucrânia, afetando toda a Europa, pode estar ligada ao fato de o presidente russo, Vladimir Putin, querer "castigar" o governo ucraniano, inclinado às relações com países ocidentais.

A deflagração da crise ocorre um dia depois de a Rússia ter assumido a presidência do G8 --grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo, mais os russos. "O governo [russo] usa o monopólio do poder para disciplinar um insubordinado político", afirmou à agência de notícias Associated Press Werner Hoyer deputado do Partido da Democracia Livre, da Alemanha.

Nesta segunda-feira, o governo da Alemanha exigiu que a Rússia e a Ucrânia colocasse um fim na questão sobre o gás, iniciada há algumas semanas, quando a Gazprom, estatal russa fornecedora de gás natural, quis aumentar o preço do gás enviado para o território ucraniano, que passaria a custar mais do que o quádruplo: o valor de mil metros cúbicos passaria de US$ 50 para um mínimo de US$ 220. O governo da Ucrânia rechaçou o pagamento dos novos valores, e a Rússia reduziu o bombeamento de gás natural ao país.

De acordo com especialistas ouvidos pela agência de notícias, a crise do gás desperta duas reações nos europeus: a primeira, sobre o risco de se manter fontes de energia como o petróleo e o gás natural, concentradas nas mãos de um país; em segundo, a rejeição contra a Rússia, a exemplo do que ocorreu em 2004, quando houve eleições na Ucrânia.

"Essa obsessão russa em ser considerada uma grande potência é um tema-chave na sua presidência do G8", afirmou Thomas Gomart, especialista do Instituto Francês de Relações Internacionais.

Histórico

As eleições presidenciais realizadas em 21 de novembro de 2004 foram declaradas inválidas após suspeitas de fraude envolvendo 1 milhão de votos.

O resultado desse primeiro pleito dava a vitória ao candidato russo, Viktor Yanukovich, o que fez com que milhões de ucranianos saíssem às ruas, liderados pelo atual presidente ucraniano, Viktor Yushchenko que também era candidato. O movimento social ficou conhecido como "Revolução Laranja".

Uma nova eleição foi realizada em 26 de dezembro de 2004, e então Yushchenko foi declarado presidente da Ucrânia.

Crítica

A disputa do gás entre os dois países remonta da década de 90. Mas vários críticos e observadores internacionais vêem a intervenção da Rússia no assunto agora --meses antes das eleições legislativas da Ucrânia-- como uma tentativa de punir os ucranianos por escolherem um governo alinhado com o Ocidente, especialmente os Estados Unidos.

Alguns jornais europeus foram bastante críticos com a atual posição de Putin frente à crise do gás.

O jornal francês "Le Monde" --um dos mais duros-- publicou um editorial sobre o assunto, intitulado "A primeira guerra do século 21 foi declarada". O texto diz: "No coração do inverno, Vladimir Putin desliga o gás que permite 50 milhões de ucranianos se aquecerem no inverno, e que faz a sua economia continuar a girar".

Outro lado

O governo russo diz, entretanto, que está apenas aplicando seus direitos comerciais, exigindo que a Ucrânia pague o preço de mercado pelo gás. Mas o momento em que ocorre a restrição --justamente quando a Europa começa a enfrentar um inverno que pode ser muito rigoroso-- abre questões sobre a presidência russa sobre o G8.

"Ver Vladimir Putin na liderança do G8 não é muito agradável", informa o jornal italiano "La Repubblica".

"Ver a Rússia usar essa arma [o gás] terá um grande impacto político na imagem desse país", disse à agência de notícias Associated Press Philip Hanson, especialista em Rússia da Universidade de Birminghan, no Reino Unido.

Líderes europeus têm se mostrado cautelosos em acusar Putin. Mas o impacto do corte do gás, que afeta toda a Europa, fez com que os ministros da Energia dos 25 países-membros da União Européia (UE), marcassem uma reunião para esta quarta-feira, para que discutam uma saída para a crise.

Com Associated Press

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