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06/07/2006 - 10h22

Pleito no México perdeu a credibilidade, diz analista

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RAUL JUSTE LORES
da Folha de S.Paulo, na Cidade do México

O economista e sociólogo Jorge Zepeda Patterson é um dos analistas políticos mais influentes do México. Foi editor de um dos maiores jornais mexicanos, "El Universal", onde ainda tem uma coluna, e escreveu "Los Suspirantes", um best-seller que conta as biografias dos candidatos à sucessão do presidente Vicente Fox.

Para Zepeda, faltou transparência na apuração, haverá uma longa batalha jurídica e pesará sob o vencedor a suspeita de boa parte da população. Leia os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.

Folha - A apuração da eleição perdeu sua credibilidade?

Jorge Zepeda Patterson -
Infelizmente, sim. Havia grande confiança no Instituto Federal Eleitoral (IFE). Mas não tenho a mesma confiança no presidente do IFE. Ele omitiu informações muito importantes. É incompreensível falar que, com 98,5% das urnas apuradas, Calderón era o vencedor. E não divulgar que 2,5 milhões de votos não haviam sido contados por irregularidades.

Folha - López Obrador tinha razão ao afirmar que três milhões de votos haviam sumido.

Zepeda -
Precisou que um candidato, López Obrador, fizesse essa denúncia para o IFE levar mais de 24 horas para admitir que as preliminares esqueciam quase 10% dos votos. É muito ruim para a credibilidade do processo. Era fácil fazer as contas. Se 59% dos eleitores foram às urnas, havia 41 milhões de votos. O total das preliminares só apontava 38 milhões.

Folha - O sr. acha que houve fraude?

Zepeda -
Não acho que houve complô ou fraude. Havia centenas de observadores internacionais. Não houve manipulação de votos, pelo que sabemos, mas sim de informação. E política é percepção. Acho é que Ugalde foi traído por suas inclinações.

Folha - O sr. está dizendo que ele é pró-Calderón?

Zepeda -
Todos os analistas políticos mexicanos sabem das inclinações ideológicas de Ugalde por Calderón. Ele chegou a esse posto com os votos do PRI e do PAN. Deveria ter sido bem mais cuidadoso ao tratar de uma vitória do Calderón.

Folha - Na sua opinião, Calderón venceu?

Zepeda -
Há uma alta probabilidade de que Calderón tenha mesmo vencido. Mas continuará a haver uma suspeita de boa parte da população de que ele não merecia ganhar. Para quem acha que o Poder Judiciário só serve aos interesses dos "poderosos", usando a linguagem de López Obrador, tudo o que está acontecendo só reforça essa percepção.

Folha - Haverá uma batalha judicial de qualquer maneira?

Zepeda -
A aparente parcialidade no processo conduz o perdedor a buscar todas as maneiras de rever sua derrota. Há suspeitas, afinal faltou transparência. E aí você transfere a decisão para os juízes, como ocorreu nos EUA, quando Bush venceu pela Corte Suprema.

Folha - Após as atas das seções todos os votos também terão que ser recontados?

Zepeda -
Eu acho que sim. Houve 827 mil votos anulados. Isso equivale a três vezes a diferença entre Calderón e López Obrador. E muitos votos nulos são anulados por critérios subjetivos. Se o "x" está muito fora do quadradinho, se está só meio fora, se há um rabisco ali. Quem perder, terá a tentação de rever voto por voto. Mas é melhor que eles recorram aos tribunais que à violência.

Folha - O Tribunal Federal Eleitoral (Trife) pode ter de decidir as impugnações e até uma nova eleição. Há confiança nele?

Zepeda -
Ao contrário do IFE, que é formado por cidadãos e aprovado pelo Parlamento, o Trife é formado por juízes nomeados pelo Poder Judiciário. Ele nunca foi tão exposto. Será a primeira vez que precisa decidir sobre tema tão importante. Como falei, a percepção popular é de que juízes defendem primeiro os poderosos. Haverá uma desconfiança natural.

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