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16/07/2006 - 09h11

Política externa dos EUA radicaliza Oriente Médio

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Washington

Anteontem, horas depois de jantar com a chanceler alemã, Angela Merkel, em Trinwillershagen, George W. Bush voou a São Petersburgo, na Rússia, para a cúpula do G8. No Air Force One, enquanto era alimentado por notícias da escalada da violência no Oriente Médio e "trabalhava o telefone", no jargão do Departamento de Estado, ligando para líderes da região, o republicano deve ter pensado: o que deu errado?

Desde que assumiu de fato o poder, após o 11 de Setembro, o governo George W. Bush pautou sua política para a região por dois princípios: combate ao terrorismo e democratização. Como ilustram os eventos dos últimos dias, ambas as táticas falharam. A Folha ouviu analistas independentes e teve acesso a uma pesquisa que ajuda a explicar o motivo do fracasso duplo. A resposta quase unânime: a invasão do Iraque.

"Se os EUA tivessem parado no Afeganistão, o mundo seria diferente", disse Joseph Cirincione, do Center for American Progress, de Washington. "Era a invasão justificável, apoiada pela maioria dos países, que derrubou o Taleban, que de fato dava guarida à Al Qaeda, que patrocinou o 11 de Setembro", enumera. "Os soldados só tinham de ficar lá, e a coalizão teria garantido a mudança de regime de fato na região."

Em vez disso, no que chamou de "combate global ao terrorismo", Bush forçou outra invasão goela abaixo do mundo: a do Iraque, por razões que não se justificariam (o arsenal inexistente de Saddam Hussein) baseados em informações falhas que seriam definidas depois pelo então secretário de Estado, Collin Powell, como "mancha" em sua biografia.

"Hoje, estamos presos no Iraque, ninguém sabe por quanto tempo, com efeitos perversos", diz Cirincione. Vice-presidente sênior para políticas internacionais e de segurança nacional da ONG de orientação liberal, ele lista tais efeitos: com a mudança do foco militar, flancos foram abertos para a volta do Taleban.

Radicais fortalecidos

Ao mesmo tempo, a dupla invasão enfraqueceu os dois principais inimigos --e vizinhos-- do Irã, o que reforçou o regime dos mulás, que hoje desafia os EUA com seu programa de produção de energia nuclear e, segundo o Departamento de Estado dos EUA, financia o Hamas e o Hizbollah. "Estamos colhendo o que plantamos", resume Cirincione.

Opinião semelhante tem Mark Schneider, vice-presidente sênior do International Crisis Group. "Especificamente na questão israelo-palestino, não só Bush não fez literalmente nada em seis anos como desfez tudo o que Bill Clinton passou oito anos construindo", disse o ex-conselheiro sobre assuntos internacionais para a Casa Branca, o Departamento de Estado, o Congresso e o Banco Mundial. Em 2002, o presidente lançaria o "Mapa do Caminho" para alcançar a paz na região --que, com o perdão do trocadilho, não saiu do papel. "O resultado da inação está aí."

A opinião dos especialistas é reforçada por uma pesquisa que acaba de ser divulgada pelo mesmo Center for American Progress, em conjunto com a publicação "Foreign Policy". Batizada de Índice do Terrorismo, a pesquisa ouviu cem experts em política internacional dos EUA. Os achados: 86% crêem que o mundo está pior agora do que antes de Bush iniciar a guerra contra o terror, e 84% acreditam que os EUA estejam perdendo essa guerra. Mas o número mais impressionante é o dos que apontam para a Guerra do Iraque como o fator isolado que mais impacto negativo teve na política externa de Bush: 87%.

E a democratização?

Em 2005, já no discurso inaugural, Bush proclamou: "A política dos EUA será apoiar o crescimento de movimentos e instituições democráticas em cada nação e cultura, com a meta de acabar com a tirania no mundo". De novo, o alvo principal seria o Oriente Médio.

Assim como o Afeganistão no mandato anterior, as eleições palestinas e o incipiente regime democrático no Líbano, com a retirada das tropas sírias, eram citados como exemplos bem-sucedidos da política externa da Casa Branca.

Até que as coisas começaram a desandar.

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