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16/07/2006
-
09h30
MARCELO NINIO
da Folha de S.Paulo
Quando George W. Bush assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2001, o processo de paz entre palestinos e israelenses estava estagnado, o ceticismo imperava e o processo de isolamento internacional de Iasser Arafat estava apenas começando. Mas a Autoridade Nacional Palestina funcionava, ainda que de forma precária, e havia algum esforço do governo americano em manter uma posição de equilíbrio como mediador.
A segunda Intifada palestina, deflagrada em 2000 após a visita de Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, marcou o fim de uma era em que a esperança de paz iniciada com os Acordos de Oslo, sete anos antes, levou o trabalhista Ehud Barak, premiê de Israel, a vislumbrar "o fim do conflito".
A explosão de violência da revolta palestina foi a pá de cal em um processo que o presidente Bill Clinton tentou encerrar com fecho de ouro em 2000, mas que jamais se recuperou do fiasco protagonizado por Arafat e Barak. Do lado israelense, o resultado da desilusão foi a eleição do linha-dura Ariel Sharon, um mês após a posse de Bush. Entre os palestinos, o fruto amargo foi o fortalecimento da resistência a Israel e do terror islâmico.
A virada conceitual ficaria completa com os atentados de 11 de setembro de 2001. A guerra sem limites ao terror de Bush, ancorada na máxima "quem não está do nosso lado está contra nós", se encaixou na doutrina de Sharon, mudando de vez o caráter do conflito.
De uma disputa entre movimentos nacionalistas, com reivindicações legítimas e demandas negociáveis, o conflito passou a integrar o choque de civilizações encampado por Bush, contaminando-o com um nível tal de radicalização que tornou quase inútil qualquer esforço de conciliação, como os tentados pelos mediadores do Quarteto (EUA, União Européia, Rússia e ONU).
Politicamente fraco e moralmente ambíguo, Arafat ficou sitiado em seu escritório por tropas israelenses até morrer, em 2004, deixando o processo de paz moribundo.
O isolamento do veterano acabou fortalecendo os radicais do Hamas, cuja imagem de retidão ética --em oposição à corrupção do Fatah de Arafat-- foi crucial para que o grupo terrorista, transformado em partido político, vencesse as eleições palestinas deste ano.
A retirada unilateral de Gaza arquitetada por Sharon meses antes ainda estava fresca na memória dos palestinos e foi usada pelo Hamas para convencê-los de que a violência era a única forma de acabar com a ocupação israelense.
A amarga ironia da escalada de violência vivida hoje por palestinos, israelenses e libaneses é que, de certa forma, ela é resultado do "sucesso" da doutrina Bush-Sharon. A democracia pregada por Bush levou o Hizbollah e o Hamas ao poder. O "desengajamento" de Sharon colocou para escanteio os moderados palestinos.
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da Folha de S.Paulo
Quando George W. Bush assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2001, o processo de paz entre palestinos e israelenses estava estagnado, o ceticismo imperava e o processo de isolamento internacional de Iasser Arafat estava apenas começando. Mas a Autoridade Nacional Palestina funcionava, ainda que de forma precária, e havia algum esforço do governo americano em manter uma posição de equilíbrio como mediador.
A segunda Intifada palestina, deflagrada em 2000 após a visita de Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, marcou o fim de uma era em que a esperança de paz iniciada com os Acordos de Oslo, sete anos antes, levou o trabalhista Ehud Barak, premiê de Israel, a vislumbrar "o fim do conflito".
A explosão de violência da revolta palestina foi a pá de cal em um processo que o presidente Bill Clinton tentou encerrar com fecho de ouro em 2000, mas que jamais se recuperou do fiasco protagonizado por Arafat e Barak. Do lado israelense, o resultado da desilusão foi a eleição do linha-dura Ariel Sharon, um mês após a posse de Bush. Entre os palestinos, o fruto amargo foi o fortalecimento da resistência a Israel e do terror islâmico.
A virada conceitual ficaria completa com os atentados de 11 de setembro de 2001. A guerra sem limites ao terror de Bush, ancorada na máxima "quem não está do nosso lado está contra nós", se encaixou na doutrina de Sharon, mudando de vez o caráter do conflito.
De uma disputa entre movimentos nacionalistas, com reivindicações legítimas e demandas negociáveis, o conflito passou a integrar o choque de civilizações encampado por Bush, contaminando-o com um nível tal de radicalização que tornou quase inútil qualquer esforço de conciliação, como os tentados pelos mediadores do Quarteto (EUA, União Européia, Rússia e ONU).
Politicamente fraco e moralmente ambíguo, Arafat ficou sitiado em seu escritório por tropas israelenses até morrer, em 2004, deixando o processo de paz moribundo.
O isolamento do veterano acabou fortalecendo os radicais do Hamas, cuja imagem de retidão ética --em oposição à corrupção do Fatah de Arafat-- foi crucial para que o grupo terrorista, transformado em partido político, vencesse as eleições palestinas deste ano.
A retirada unilateral de Gaza arquitetada por Sharon meses antes ainda estava fresca na memória dos palestinos e foi usada pelo Hamas para convencê-los de que a violência era a única forma de acabar com a ocupação israelense.
A amarga ironia da escalada de violência vivida hoje por palestinos, israelenses e libaneses é que, de certa forma, ela é resultado do "sucesso" da doutrina Bush-Sharon. A democracia pregada por Bush levou o Hizbollah e o Hamas ao poder. O "desengajamento" de Sharon colocou para escanteio os moderados palestinos.
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