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16/08/2006 - 22h35

Israel defende ação da ONU para evitar rearmamento do Hizbollah

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da Folha Online

O governo israelense quer que a força ampliada da ONU no Líbano ajude a monitorar a fronteira libanesa a fim de evitar que a Síria e o Irã abasteçam o grupo terrorista Hizbollah com armamento, afirmou nesta quarta-feira a ministra de Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni.

Depois de se reunir por mais de uma hora com o secretário-geral das Nações Unidas em Nova York, a chanceler israelense deixou claro que a implementação da resolução 1.701, que levou ao fim dos combates desde a segunda-feira, é um teste para a comunidade internacional e para o governo libanês.

"Eu acho que este é o momento da verdade para a comunidade internacional", declarou Livni. "Uma completa implementação da resolução 1.701 pode levar a uma mudança na região, no Líbano, e levar a um futuro melhor para todos nós."

Livni disse ter discutido com Annan a execução de um dos pontos "cruciais" da resolução, que pede que o governo do Líbano mantenha a segurança de suas fronteiras e pontos de entrada para evitar que armas cheguem a forças não governamentais.

Além disso, ela ressaltou o papel que as forças da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano) devem desempenhar para auxiliar o governo no controle da fronteira.

Israel defende que deixar o monitoramento da fronteira com o governo libanês "não é suficiente". "Nós esperamos que a comunidade internacional, ou que a nova força internacional, auxiliem o governo libanês a monitorar as fronteiras internacionais, a fim de prevenir que o Irã e a Síria rearmem o Hizbollah", afirmou a ministra.

Livni disse também que Israel não tem objeções a que algumas nações muçulmanas participem do contingente de 15 mil soldados da força de paz da ONU que será enviada ao Líbano.

"Será uma força mista (...) também pode ter forças de Estados muçulmanos", disse Livni aos repórteres depois do encontro com o Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, ressalvando que países considerados "inimigos" por Israel não seriam aceitos.

A Malásia e a Indonésia, países de maioria muçulmana, ofereceram tropas, mas nenhum deles tem relações diplomáticas com o Estado israelense. A Turquia também ofereceu tropas para a força da ONU, que deverá ser liderada pela França.

Livni não disse quais países Israel considerava como inimigos.

Missão da ONU

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, decidiu hoje enviar ao Líbano e a Israel uma missão de alto nível para garantir que as partes cumpram o cessar-fogo e outras reivindicações estipuladas pela resolução 1.701.

A delegação da ONU será liderada pelo assessor especial de Annan Vijay Nambiar e por seu representante especial para o cumprimento da resolução 1.559, Terje Roed Larsen, informou o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.

A missão partirá nesta quinta-feira e ficará na região por aproximadamente uma semana, durante a qual se reunirá com autoridades libanesas e israelenses.

A resolução 1.701, adotada na sexta-feira (11) pelo Conselho de Segurança da ONU, estipula o fim das hostilidades entre Israel e o movimento xiita Hizbollah.

Também exige a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano, e o posicionamento do Exército libanês e da Unifil, que atualmente conta com 2.000 homens e deverá ser reforçada com mais 15 mil militares.

O texto determina que o Líbano acelere o processo de desarmamento do Hizbollah e exerça sua autoridade em todo o país, exigências que já haviam sido feitas na resolução 1.559.

Segundo Dujarric, a ONU continua seus esforços para fortalecer a Unifil, e amanhã deve realizar uma reunião com os países que podem contribuir com tropas.

"O que está claro é que estamos tentando conseguir o mais rápido possível um compromisso sólido para que os novos efetivos sejam enviados o mais rápido possível", afirmou.

Organizada pelo Departamento de Operações para a Manutenção da Paz, a reunião será realizada na sede da ONU a partir das 15h (16h de Brasília) e será presidida pelo vice-secretário-geral, Mark Malloch-Brown.

Composição

A França pretende liderar a força de paz ampliada da ONU no Líbano até pelo menos fevereiro, contanto que detenha um mandato claro e poder suficiente, afirmou nesta quarta-feira a ministra francesa da Defesa, Michele Alliot-Marie.

Em entrevista a uma televisão francesa, a ministra disse que espera que um grande número de países europeus e muçulmanos também possam fazer parte do contingente reforçado da Unifil.

"Nós já detemos o controle [da Unifil] e estamos prontos para continuar fazendo isso até fevereiro próximo, inclusive para a Unifil ampliada", disse Alliot-Marie.

A chefe da pasta da Defesa da França, no entanto, ressaltou que espera obter mais detalhes sobre quais serão os poderes da força de paz antes de determinar o contingente a ser enviado.

"Quando você envia uma força e a sua missão não é suficientemente precisa e seus recursos não estão bem adaptados ou não são grandes o bastante, isso pode se transformar em uma catástrofe, inclusive para os soldados que nós enviamos", opinou ela.

Outros 15 mil membros do Exército do Líbano serão deslocados para reforçar o grupo da Unifil, que deverá ficar posicionado ao sul do rio Litani, cerca de 30 km da fronteira israelense.

A Alemanha também se manifestou hoje favoravelmente sobre o apoio à Unifil, sem entretanto dar mais detalhes sobre a proposta.

A coalizão da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, chegou a um acordo para que a Alemanha contribua na solução do conflito do Oriente Médio e na implementação da resolução da ONU.

Merkel, chefe da União Democrata-Cristã (CDU), e os líderes do Partido Social-Democrata (SPD), Kurt Beck, e da União Social-Cristã da Baviera (CSU), Edmund Stoiber, emitiram um comunicado após se reunirem na cidade de Bayreuth (Baviera).

A Alemanha quer contribuir "na medida de suas possibilidades" e no cumprimento das "condições necessárias" na implementação da resolução da ONU, afirma a declaração comum.

Antes da reunião de líderes dos três partidos, o vice-porta-voz do governo, Thomas Steg, tinha advertido que não cabia esperar ainda uma decisão sobre uma eventual participação alemã na missão da ONU.

Segundo anúncio feito hoje pelo ministro alemão da Defesa, Franz-Josef Jung, o governo apresentará amanhã, em Nova York, uma proposta ou oferta da Alemanha para uma tropa internacional.

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, afirmou que a missão da Unifil será basicamente manter a paz e aplicar o embargo de armas ao Líbano determinado na resolução 1.701.

Retirada

No terceiro dia de cessar-fogo entre as forças de Israel e o grupo terrorista libanês Hizbollah, o chefe do Estado-Maior de Israel, general Dan Halutz, disse nesta quarta-feira que seus soldados devem permanecer do sul do Líbano até a chegada das tropas internacionais comandadas pela ONU, o que deve pôr fim à retirada de parte dos soldados israelenses que invadiram o país durante os confrontos --que duraram mais de um mês.

"Israel permanecerá no sul do Líbano até a chegada da força multinacional, mesmo que isso leve meses", disse Halutz, em declaração transmitida por rádio.

Na mesma linha, o líder do Hizbollah, xeque Hassan Nasrallah, disse que seus combatentes não interromperão os ataques contra as tropas israelenses que ocupam o sul do Líbano.

A ONU pediu reforços militares, pois a trégua estaria em risco se não chegarem os 15 mil soldados determinados pela resolução 1.701, que instaurou o cessar-fogo.

Corpos

Nesta quarta-feira, mais de cem corpos foram retirados de diferentes pontos do Líbano que estão cobertos por escombros, inclusive na capital Beirute, segundo serviços de resgate da Cruz Vermelha.

Até agora, as buscas por corpos ainda não tiveram início nos vilarejos localizados na fronteira, região intensamente bombardeada por Israel e que provavelmente abriga grande número de corpos escondidos sob destroços.

Em Beirute, os corpos de 13 pessoas [entre elas sete crianças e um bebê] apareceram sob as ruínas de um prédio atacado por aviões israelenses no último domingo (13), na véspera do cessar-fogo.

O último balanço oficial de mortos divulgado nesta segunda-feira apontava 1.200 civis mortos no Líbano --cujo total descarta as vítimas presas sob os escombros. Em Israel, os mortos somam cerca de 200, a maioria militares. O conflito gerou ainda 1 milhão de deslocados e bilhões de dólares em prejuízos.

De acordo com informações de organizações humanitárias citadas pela agência de notícias Efe, a situação no sul do Líbano causa grande horror.

Civis libaneses que conseguiram chegar a Aita al Shar [região na fronteira onde dois soldados israelenses foram seqüestrados por membros do Hizbollah, em 12 de julho --estopim da atual crise de violência] descreveram o local como uma paisagem desoladora, arrasada, onde nada ficou em pé.

No povoado de Ainata foram encontrados 17 corpos. Na cidade de Tiro, que permaneceu sitiada, um corpo apareceu num edifício de quatro andares, e outro em meio às ruínas de um centro comercial, informaram as fontes policiais.

Na mesma cidade, sob os escombros de um edifício, apareceu o corpo de uma jovem de 16 anos, segundo os serviços de proteção civil. Os grupos de resgate tentam retirar dos destroços do mesmo bloco de casas os corpos de três crianças e um adulto.

Na aldeia vizinha de Kafra, um casal foi encontrado sob os escombros. Também na região de Tiro, sete corpos foram achados na segunda-feira no centro de Srifa, que foi totalmente destruído. O prefeito da localidade disse que os depósitos de corpos estão completamente cheios.

Em Khiam, no setor leste da fronteira, o corpo do "mukhtar" (cargo equivalente ao de prefeito) foi retirado das ruínas de sua casa. Na localidade de Kafarchuba, tratores retiraram dos escombros os corpos de quatro combatentes do Hizbollah.

Ajuda

Os 25 Estados-membros da União Européia (UE) se comprometeram a repassar 70 milhões de euros (US$ 90 milhões) em ajuda ao Líbano, anunciou nesta quarta-feira, em Larnaca, o comissário europeu encarregado da ajuda ao desenvolvimento, Louis Michel.

Michel também pediu que Israel suspenda o bloqueio aéreo e marítimo imposto ao país vizinho. "É muito difícil viver sem combustível, motivo pelo qual será uma catástrofe suplementar se o bloqueio for mantido", justificou o comissário europeu, que deve viajar a Israel nesta quinta-feira.

Com agências internacionais

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