|
Há
mais de um mês, os grandes fundos de pensão estatais vivem uma guerra
sem tréguas com o banco Opportunity, do Rio de Janeiro. Trata-se
não de um banco comercial, mas de uma administradora de carteiras,
fundada pelo baiano Daniel Dantas, o qual chegou a ser cogitado para
ministro da Economia no governo Collor. O que está acontecendo
no Opportunity vale um estudo mais aprofundado. Antes apontado como
símbolo do sucesso do mercado financeiro, o Opportunity desceu ao
inferno e não se sabe se sairá inteiro dele.
O banco administra US$ 6 bilhões em patrimônio de terceiros e a credibilidade
é seu oxigênio. Daniel Dantas sabe que o confronto com as fundações
vem causando estragos à imagem da corporação e o desafio para ele,
agora, é conseguir parar este processo.
Os fundos não estão questionando o resultado das aplicações feitas
com o dinheiro deles, mas o tratamento que têm recebido do Opportunity
e estão com o pote cheio de mágoa. A cada dia, a guerra avança um
ponto em agressividade e a impressão é de que o caldeirão vai explodir
a qualquer momento.
Me pergunto o que poderá vir à tona quando isto acontecer e se segredos
da privatização serão revelados nesta lavagem de roupa suja. Os primeiros
sinais de que havia uma guerra subterrânea entre os fundos de pensão
e o banco Opportunity apareceram em junho e estavam ligados à compra
da empresa de telefonia gaúcha CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações)
pela empresa Brasil Telecom. Opportunity, fundos e o grupo italiano
Stet (divisão internacional da Telecom Italia) tornaram-se acionistas
da Brasil Telecom no leilão de privatização da Telebrás.
O banco e os italianos se desentenderam sobre o valor de compra
da CRT e, para surpresa geral, as fundações não apoiaram Daniel Dantas.
Até hoje, eles garantem que se mantiveram independentes durante o
conflito, embora o Opportunity diga que fizeram aliança o sócio estrangeiro.
O caso CRT só foi resolvido, em meados de julho, depois que o governo
federal interveio na discussão. Mesmo assim, o clima de tensão na
Brasil Telecom não diminuiu. Na semana passada, os sócios chegaram
ao ponto de redigirem duas atas para a reunião do conselho convocada
para indicar um diretor para o fundo de pensão da tele, o Sistel.
Cada ata trouxe um resultado e até hoje não se sabe quem é o diretor.
Há conflito entre fundos e o Opportunity também na Telemig Celular
e na Tele Norte Celular, igualmente privatizadas no leilão da Telebrás.
E, neste caso, a discussão já virou batalha judicial. Para completar,
os fundos questionam a postura do Opportunity como gestor do fundo
CVC, no qual investiram perto de R$ 600 milhões. Até o momento, não
há sinal de ingerência do governo nesta guerra e é vital que as coisas
continuem assim, sem pressão política sobre os administradores das
fundações.
Leia colunas anteriores
07/08/2000 - Lobby
ao contrário
05/08/2000 - Lindas e sujas
29/07/2000 - A revolta dos fundos de
pensão
22/07/2000 - Que
país é esse?
15/07/2000
- O Público e o Privado
|