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Depois de muitos anos, voltei
à ESG (Escola Superior de Guerra) para cobrir, como repórter,
uma palestra do ministro das
Comunicações, Pimenta da Veiga. Para os que não conhecem a
ESG, trata-se de um centro de
formação do Exército, que tam
bém admite civis em seus cursos. Funciona no aprazível bairro da Urca, no Rio de Janeiro,
dentro do Forte São João.
Me surpreendi com os militares, que eram maioria na turma.
A ESG não admite que jornalistas acompanhem a fase de debates, mas fez uma exceção naquele debate, autorizada pelo ministro.
Depois de ouvirem uma exposição burocrática do ministro
sobre metas, investimentos e
previsões dos Correios, das empresas de telefonia e da radiodifusão, eles botaram lenha na fogueira com perguntas inesperadas para um ambiente militar e
mostraram estar muito bem informados e com visão crítica do
assunto.
A primeira pergunta já colocou o ministro contra a parede.
Um coronel perguntou se era
verdade que as empresas que
compraram as telefônicas estatais no leilão de privatização da
Telebrás estão descontando o
ágio do Imposto de Renda. O
ministro teve que admitir que é
verdade, mas não aprofundou
muito o assunto.
O fato é que o governo fez
grande propaganda dos bilhões
de dólares que recebeu de ágio
no leilão da Telebrás, mas não
contou que tudo seria restituído
aos compradores, sob a forma
de redução do Imposto de renda. Mais de US$ 7 bilhões (incluindo teles e empresas de
energia elétricas privatizadas) retornarão aos bolsos dos compradores. No caso das teles, a
devolução se fará entre cinco e
dez anos. No caso das elétricas,
pode chegar a 30 anos.
Um outro militar comentou
que os Estados Unidos querem
barrar a entrada de companhias
telefônicas estatais européias e
perguntou se o Brasil cogita fazer o mesmo. "Os EUA pregam
absoluta liberdade de mercado
para os outros, mas protegem
seu território. Não devemos criticá-los, mas adotar política semelhante’’, respondeu Pimenta
da Veiga.
Ele nega, mas quem acompanhou a privatização da Telebrás
interpreta a declaração como
uma autocrítica do governo. O
monopólio estatal deu lugar a
um rápido processo de desna
cionalização, que tende a se acelerar ainda mais a partir de
2.002, quando estarão liberados
as fusões e incorporações entre
empresas do setor.
Um outro coronel foi mais
além e cobrou do ministro o
motivo da manutenção das tarifas altas do serviço telefônico e
da invasão de executivos estrangeiros no país. Pimenta da Veiga
quase perdeu as estribeiras diante da pergunta e disse que o preço de instalação da linha caiu de
R$ 1.117,63 para R$ 50,00 na
maior parte dos Estados.
É verdade que o preço da linha
caiu, mas o coronel tem razão
ao queixar-se das tarifas altas.
Pode ter ficado mais barato
comprar o telefone, mas tornou-se muito caro usá-lo. Quem
vive de salário ou de soldo, não
se deixa convencer por discurso.
Leia colunas anteriores
12/08/2000
- A revolta dos fundos
07/08/2000 - Lobby
ao contrário
05/08/2000 - Lindas e sujas
29/07/2000 - A revolta dos fundos de
pensão
22/07/2000 - Que
país é esse?
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