Os
últimos dias foram marcados pela ofensiva dos Estados Unidos
pelos mercados latino-americanos. O objetivo de Washington é
acelerar a implantação da Alca, o acordo que permitiria
a abertura comercial nas Américas. Na prática, uma
forma de ampliar o espaço dos produtos norte-americanos abaixo
do Equador.
Desprezando
a contida linguagem diplomática, um representante de Washington
resolveu chamar o Brasil de "infantil" e "irresponsável".
Isso porque o Brasil tenta adiar sua decisão sobre a entrada
nesse acordo. A estratégia de Brasília, nos últimos
anos, foi a de armar o Mercosul para fazer frente à Alca.
A sobrevalorização
do real garantiu oxigênio para o Mercosul (e para a Argentina).
Agora, as diferenças cambiais afastaram os dois protagonistas
do acordo local, que vive a sua pior crise. O plano do Itamaraty
parece escorrer pelo ralo.
Ameaçada
de quebra, a Argentina pediu socorro ao FMI. Os Estados Unidos,
é claro, aproveitaram o momento especial de fragilidade do
vizinho e parecem negociar o dinheiro do fundo pela adesão
à tese da Alca. O Chile também resolveu apoiar os
EUA.
Isolado,
o Brasil é colocado contra a parede e esboça alguma
reação no campo retórico. Ministros saíram
para o ataque verbal, mas o país já ensaia um recuo
para adesão à abertura desejada por Washington.
É
difícil escapar do rolo compressor comercial (para não
falar no cultural, comportamental, etc, etc, etc) imposto pelos
EUA. Deixando de lado os seus vizinhos de periferia e de pobreza,
o Brasil tradicionalmente optou por fazer mesuras ao todo-poderoso
do Norte.
Os
Estados Unidos agradecem. Fiéis ao "faça o que
eu digo, mas não faça o que eu faço",
eles são nacionalistas ao extremo e muito, muito protecionistas.
Não têm vergonha de erguer barreiras comerciais para
defender seus produtos e seu mercado interno. Embora preguem exatamente
o inverso para os seus bajuladores da periferia.
Estudo
elaborado pela embaixada brasileira em Washington mostrou que a
média tarifária aplicada pelo Brasil aos 15 produtos
de exportação dos EUA é de 14,3%. Já
os Estados Unidos taxam em 45,6%, na média, os 15 principais
produtos de exportação brasileiros.
É
desigual assim. E Isso não é considerado lá
sinal de infantilidade ou irresponsabilidade. Assim fica fácil
falar de abertura de mercados. Dos outros.
O Mercosul
pode ter sido a última tentativa de fazer frente ao trator
norte-americano. Mas, ao que tudo indica, pode ter sido armada tarde
demais. O governo FHC parece ter jogado a toalha. De novo.
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