Há
20 dias, o presidente da República anunciou o plano estratégico
para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). Na solenidade, declarou que a prioridade do banco é
"espichar" o "S" de social.
Ficou
entendido que o banco deixaria para traz seu histórico de
operações para socorrer grandes grupos e adotaria
uma preocupação com a abrangência social de
seus financiamentos. Pequenas e médias empresas (as que mais
empregam relativamente) teriam melhor tratamento na hora da liberação
de dinheiro.
Mas,
nas duas últimas semanas, o BNDES resolveu emprestar R$ 2,6
bilhões para grandes empresas. A Brasil Telecom, uma associação
de capitais nacionais e estrangeiros que levou a telefonia do Centro-Oeste,
parte do Sul e do Norte, tomou R$ 1,73 bilhão. A alemã
Volkswagen recebeu R$ 880 milhões do "banco social"
brasileiro para modernizar uma fábrica. Não se tem
notícia de novos empregos a serem criados com a operação.
A Volks
_que não deve ter problemas em captar dinheiro no mercado
internacional_ obteve do BNDES um total de R$ 1,57 bilhão
do ano passado para cá.
A Ford
ganhou, em 99, financiamento de R$ 912 milhões para a famosa
fábrica da Bahia. Em 98, recebeu outros R$ 229,9 milhões
para outra instalação. Fiat, Peugeot e Mercedes também
entram na lista de beneficiários das linhas de crédito
do banco.
No
total, nos últimos três anos, o BNDES emprestou R$
3,5 bilhões para as montadoras, conforme contabilizou o repórter
Chico Santos. Estudos revelam que para cada R$ 1 milhão investido
no setor, somente 85 empregos (diretos e indiretos) são gerados.
Para comparar: no setor agropecuário, o mesmo dinheiro gera
202 vagas.
Olhando
os números, só dá para concluir que o BNDES
está se espichando, como sempre, para os grandes grupos.
Sua atuação foi vital para viabilizar as privatizações.
Gigantescas companhias estrangeiras têm obtido fartos financiamentos,
enquanto o dinheiro falta para os nacionais, os pequenos e para
as obras de infra-estrutura.
Nesse
quadro, quem estrilou foi o presidente da Federação
das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Eduardo Eugênio
Gouvêa Vieira protestou contra os créditos do BNDES
a estrangeiros e aos grandes. "Não precisamos fazer
favor nenhum que eles virão", disse ele a Francisco
Gros, o presidente do "banco social" brasileiro.
Mas
a história do BNDES _e a desse governo como um todo_ tem
se espichado para o outro lado. O empresário nacional parece
estar sempre fora das prioridades. O negócio é serpentear
para o lado de lá, agradar os de fora.
E o
"S" do social fica só na logomarca. A não
ser que as palavras do presidente saiam do papel e virem dinheiro
vivo para os empreendedores locais com abrangência social.
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