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eleonora@uol.com.br
26 de outubro
"S" do BNDES se espicha só para os grandes grupos
 
   
 

Há 20 dias, o presidente da República anunciou o plano estratégico para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Na solenidade, declarou que a prioridade do banco é "espichar" o "S" de social.

Ficou entendido que o banco deixaria para traz seu histórico de operações para socorrer grandes grupos e adotaria uma preocupação com a abrangência social de seus financiamentos. Pequenas e médias empresas (as que mais empregam relativamente) teriam melhor tratamento na hora da liberação de dinheiro.

Mas, nas duas últimas semanas, o BNDES resolveu emprestar R$ 2,6 bilhões para grandes empresas. A Brasil Telecom, uma associação de capitais nacionais e estrangeiros que levou a telefonia do Centro-Oeste, parte do Sul e do Norte, tomou R$ 1,73 bilhão. A alemã Volkswagen recebeu R$ 880 milhões do "banco social" brasileiro para modernizar uma fábrica. Não se tem notícia de novos empregos a serem criados com a operação.

A Volks _que não deve ter problemas em captar dinheiro no mercado internacional_ obteve do BNDES um total de R$ 1,57 bilhão do ano passado para cá.

A Ford ganhou, em 99, financiamento de R$ 912 milhões para a famosa fábrica da Bahia. Em 98, recebeu outros R$ 229,9 milhões para outra instalação. Fiat, Peugeot e Mercedes também entram na lista de beneficiários das linhas de crédito do banco.

No total, nos últimos três anos, o BNDES emprestou R$ 3,5 bilhões para as montadoras, conforme contabilizou o repórter Chico Santos. Estudos revelam que para cada R$ 1 milhão investido no setor, somente 85 empregos (diretos e indiretos) são gerados. Para comparar: no setor agropecuário, o mesmo dinheiro gera 202 vagas.

Olhando os números, só dá para concluir que o BNDES está se espichando, como sempre, para os grandes grupos. Sua atuação foi vital para viabilizar as privatizações. Gigantescas companhias estrangeiras têm obtido fartos financiamentos, enquanto o dinheiro falta para os nacionais, os pequenos e para as obras de infra-estrutura.

Nesse quadro, quem estrilou foi o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira protestou contra os créditos do BNDES a estrangeiros e aos grandes. "Não precisamos fazer favor nenhum que eles virão", disse ele a Francisco Gros, o presidente do "banco social" brasileiro.

Mas a história do BNDES _e a desse governo como um todo_ tem se espichado para o outro lado. O empresário nacional parece estar sempre fora das prioridades. O negócio é serpentear para o lado de lá, agradar os de fora.

E o "S" do social fica só na logomarca. A não ser que as palavras do presidente saiam do papel e virem dinheiro vivo para os empreendedores locais com abrangência social.

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