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Nelson de Sá
nelsonsa@uol.com.br
  19 de abril
  Anti-Nelson
  Paulo Francis, por uma crítica, levou uns sopapos de Adolfo Celi e uma cusparada de Paulo Autran. Eu nunca cheguei a tanto. Quando me vi perto de algo parecido, saí correndo. Carlos Zara apareceu na redação e criou a cena, aos gritos. Eu corri, ele correu atrás, foi contido por um segurança _e ficou um bom tempo me esperando na saída.
Era minha terceira crítica. Desde então não fui amedrontado fisicamente, mas colecionei mensagens coléricas e um processo. Até construí uma peça com isso tudo, para eu mesmo representar. Para o leitor on line, que não sabe quem eu sou, vão aqui algumas passagens, à guisa de apresentação.
A personagem central é Abby, inspirada na velhinha virgem de "Arsênico e Alfazema" que envenena velhinhos solitários por pura piedade. A peça, chamada "Atroz", dá voz às vítimas. Por exemplo, o autor Mauro Rasi, com um sotaque de Bauru, mas desafinando:

_ Que fazer com você, Nelson de Sá! Dar um pito? Um croquete? Pôr de castigo? Cortar a mesada? Não dá para não ter uma aflição quase paternal por você. Me disseram que você é loirinho, de olho azul, que tem uns vinte e poucos anos. Meno male. Francamente, um jornal como "A Folha", com tanto jornalista brilhante no seu "cast"... Poderia ignorá-lo, como me aconselharam. Mas achei que merecia um puxão de orelhas. Os leitores não sabem que qualquer um pode ser crítico no Brasil. Qualquer um. Escalam geralmente o que não está fazendo nada e mandam escrever. Daí a pessoa vai ficando, vai ficando e senta praça.
_ Herr Nelsinho... Ouça esta: há no Rio um ator "sério", dos mais sérios, aliás. Ele costuma fazer propaganda da sua seriedade contando como é o seu despertar diário. Diz que acorda, se olha no espelho e diz: bom dia, minha angústia. (Dizem as más línguas que o espelho responde: bom dia, viado.) Essa resvalou em cheio, não?

Outro, o diretor Gerald Thomas, com óculos de John Lennon e um cigarro Gauloises:

_ É assustadora a crítica de Nelson de Sá. Se ele não conhece o seu ofício, deveria tentar fazer um transplante de cérebro. Se uma crítica teatral vira uma sessão de psicanálise entre o diletante e eu, só me resta ser pessoal também. Só me resta dizer para Nelson de Sá:
_ Ó seu prepotentezinho de merda! Vá ler os jornais cariocas e sinta uma senhora vergonha por ter tido a audácia de querer interpretar uma personalidade tão complexa quanto a minha. Não te dou esse direito! Será que esse cerebrozinho acha que me conhece a ponto de dizer o que é verdade ou mentira? Não te dei e não te dou a liberdade de ser pessoal comigo. Não admito que você fale de mim e finja uma intimidade que não existe. Não te conheço, Nelson de Sá. Vai te catar!

Tem muito mais, inclusive do processo. Tem até Ratinho, aquele, com bigode e cassetete:

_ Vai sair na Folha a votação do pior e eu gostaria de avisar que eu ganhei o troféu. Ganhei. Eu queria avisar que estou muito triste, magoado, que um crítico lá de teatro, Nelson de Sá, ele votou. Nelson, muito obrigado por você ter votado em mim. Eu queria até agradecer a você. Estou muito feliz, estou emocionado... Vá pros quintos dos infernos, seu peru! Olha, eu só quero ver, eu só quero ver, eu quero arregaçar esse Nelson de Sá.
_ Nelson, você vai ver. Você vai ver o que eu vou falar de você, tá? Eu tenho uma história desse crítico de teatro que eu vou contar depois. É, eu quero agradecer a você por ter me ajudado a ser o pior. Muito obrigado. Mas que eu vou contar a história desse crítico de teatro eu vou contar. O que eu já estou sabendo da sua vida, meu filho. Tu vai levar um cacete.

Para encerrar esta apresentação, um registro mais grotesco. De uns sete anos para cá, recebo regularmente cartas apócrifas com excremento dentro. Cheguei a abrir no começo, o que resultou em verdadeiros banhos de álcool; hoje elas vão direto para o lixo.



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