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Sábado, 22 de julho de 2000

Gentileza demais atrapalha

José Henrique Mariante
     
Diego Medina


A imagem da semana, talvez a do ano se a Ferrari não resolver o problema, será a troca de gentilezas entre Barrichello e Schumacher na primeira curva após a largada do GP da Áustria.
Escancaram-se a subserviência do piloto brasileiro, a onipresença do alemão no time italiano e a incapacidade da escuderia de abastecer seu segundo piloto com as mesmas armas que o primeiro.
Pior, tudo isso em contraste a um time que consegue não apenas empurrar seus dois carros no Mundial de forma isonômica, mas que também mostra estar em franco desenvolvimento.
É inegável, neste momento, que a McLaren é um time superior. Pela qualidade técnica de seu equipamento e, ainda mais importante, por sua capacidade de gerenciamento, sem par na F-1.
O pensamento comum leva a crer que o automobilismo é uma questão de equipamento, a velha máxima de que quem tem o me­ lhor carro vence. Claro, um motor potente e um chassi eficiente ajudam. Mas, sem comando, sem organização, um time de F-1 é puro desperdício _a regra vale para qualquer esporte, basta ver o exemplo da seleção brasileira, onde as estrelas individuais não conseguem superar a incompetência de todo o grupo.
A Ferrari é um desperdício há duas décadas, com alguns lampejos de inteligência. Um deles, com certeza, foi contratar Schumacher e abrir espaço para seu grupo dentro da escuderia.
O problema é que a temporada passada mostrou o reverso da moeda, a excessiva dependência a uma única peça da engrenagem. A peça, por obra do destino, engripou, e a escuderia não conseguiu substituí-la.
À época da contratação de Barrichello, o presidente Luca di Montezemolo deixou claro que fatos como os de 1999 não poderiam se repetir, algo que foi traduzido por aqui como um salvo-conduto para o brasileiro brilhar.
O tempo, porém, provou que isso não passava de discurso. E Barrichello, para piorar as coisas, resolveu se tornar um Irvine na vida no lugar de aproveitar a rara chance de estar sozinho na pista e se impor ao time e à mídia.
E não é apenas o público brasileiro que já demonstra impaciência, fato levantado na coluna da semana passada. Na Itália, o pensamento não é diferente.
Na última segunda-feira, por exemplo, o "La Reppublica" escreveu com todas as letras que um "Mundial se vence com dois pilotos, como bem demonstra a McLaren". Segundo o diário, o primeiro alerta já foi dado, a perda da liderança do campeonato de construtores. O segundo, continua o artigo, será perder a liderança entre os pilotos, o que, no ritmo das últimas provas, não tardará muito a acontecer.
E "esse alarme não soará quando a nau já estiver a pique?", pergunta o jornal, lembrando que a McLaren não apenas reagiu no campeonato, mas já o domina.
Voltando ao que nos interessa, que é Barrichello, o piloto brasileiro, por enquanto, é ainda uma vítima do sistema criado dentro da Ferrari. Daqui a pouco, porém, será visto como cúmplice. Tudo bem, Barrichello precisa ser político. Mas não custava nada acelerar e ouvir o pito pelo rádio depois. Pegaria menos mal.


NOTAS


Férias
Hakkinen apontou as folgas dadas pela McLaren antes do GP da Áustria como um dos principais motivos pela virada de performance que experimentou em Zeltweg. "Alguns dias de descanso, recomendo a todos", disse.

Negócio
A mídia inglesa dá conta de que um grupo de montadoras está interessado em adquirir parte da F-1 e ainda os 50% da FOA adquiridos pela EM.TV, da Alemanha. Se isso for de fato verdade, a categoria pode dar um passo perigoso. Ter a TV no comando está longe de ser o cenário ideal. Mas empresas automobilísticas são muito mais práticas na hora de negociar, basta recordar da saída da Renault, em pleno auge, e da recente desistência da Honda de montar um time. Uma coisa é fazer parte do negócio. A outra é ser dono do troço.




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