A imagem da semana, talvez
a do ano se a Ferrari não resolver o problema, será a troca de
gentilezas entre Barrichello e
Schumacher na primeira curva
após a largada do GP da Áustria.
Escancaram-se a subserviência
do piloto brasileiro, a onipresença
do alemão no time italiano e a incapacidade da escuderia de abastecer seu segundo piloto com as
mesmas armas que o primeiro.
Pior, tudo isso em contraste a
um time que consegue não apenas empurrar seus dois carros no
Mundial de forma isonômica,
mas que também mostra estar em
franco desenvolvimento.
É inegável, neste momento, que
a McLaren é um time superior.
Pela qualidade técnica de seu
equipamento e, ainda mais importante, por sua capacidade de
gerenciamento, sem par na F-1.
O pensamento comum leva a
crer que o automobilismo é uma
questão de equipamento, a velha
máxima de que quem tem o me
lhor carro vence. Claro, um motor
potente e um chassi eficiente ajudam. Mas, sem comando, sem organização, um time de F-1 é puro
desperdício _a regra vale para
qualquer esporte, basta ver o
exemplo da seleção brasileira, onde as estrelas individuais não
conseguem superar a incompetência de todo o grupo.
A Ferrari é um desperdício há
duas décadas, com alguns lampejos de inteligência. Um deles, com
certeza, foi contratar Schumacher
e abrir espaço para seu grupo
dentro da escuderia.
O problema é que a temporada
passada mostrou o reverso da
moeda, a excessiva dependência
a uma única peça da engrenagem. A peça, por obra do destino,
engripou, e a escuderia não conseguiu substituí-la.
À época da contratação de Barrichello, o presidente Luca di
Montezemolo deixou claro que
fatos como os de 1999 não poderiam se repetir, algo que foi traduzido por aqui como um salvo-conduto para o brasileiro brilhar.
O tempo, porém, provou que isso não passava de discurso. E Barrichello, para piorar as coisas, resolveu se tornar um Irvine na vida no lugar de aproveitar a rara
chance de estar sozinho na pista e
se impor ao time e à mídia.
E não é apenas o público brasileiro que já demonstra impaciência, fato levantado na coluna da
semana passada. Na Itália, o pensamento não é diferente.
Na última segunda-feira, por
exemplo, o "La Reppublica" escreveu com todas as letras que um
"Mundial se vence com dois pilotos, como bem demonstra a
McLaren". Segundo o diário, o
primeiro alerta já foi dado, a perda da liderança do campeonato
de construtores. O segundo, continua o artigo, será perder a liderança entre os pilotos, o que, no
ritmo das últimas provas, não
tardará muito a acontecer.
E "esse alarme não soará quando a nau já estiver a pique?", pergunta o jornal, lembrando que a
McLaren não apenas reagiu no
campeonato, mas já o domina.
Voltando ao que nos interessa,
que é Barrichello, o piloto brasileiro, por enquanto, é ainda uma
vítima do sistema criado dentro
da Ferrari. Daqui a pouco, porém, será visto como cúmplice.
Tudo bem, Barrichello precisa
ser político. Mas não custava nada acelerar e ouvir o pito pelo rádio depois. Pegaria menos mal.
NOTAS
Férias
Hakkinen apontou as folgas
dadas pela McLaren antes do
GP da Áustria como um dos
principais motivos pela virada de performance que experimentou em Zeltweg. "Alguns dias de descanso, recomendo a todos", disse.
Negócio
A mídia inglesa dá conta de
que um grupo de montadoras está interessado em adquirir parte da F-1 e ainda os
50% da FOA adquiridos pela
EM.TV, da Alemanha. Se isso
for de fato verdade, a categoria pode dar um passo perigoso. Ter a TV no comando
está longe de ser o cenário
ideal. Mas empresas automobilísticas são muito mais práticas na hora de negociar,
basta recordar da saída da
Renault, em pleno auge, e da
recente desistência da Honda
de montar um time. Uma
coisa é fazer parte do negócio.
A outra é ser dono do troço.
E-mail: mariante@uol.com.br
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