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30/11/2004 - 03h08

Capacitação de ONGs promove parcerias no Brasil

Luanda Nera
especial para a Folha de S.Paulo

Um bolo feito com cascas de banana melhorou o relacionamento entre pai e filho. O fato aconteceu na família de Willian Louzada Jacopetti, 24. Portador de deficiência mental, ele é aluno da Nossa Escola (www.anossaescola.org.br), entidade que alfabetiza e profissionaliza portadores de deficiências mentais, e faz estágio no restaurante Kilão, na zona leste de São Paulo. Lá aprende a cozinhar reaproveitando alimentos, em um projeto chamado Ecocozinha. Sua primeira experiência culinária em casa chamou a atenção do pai, que passou a valorizar suas conquistas e vê-lo de forma diferente.

A proprietária do restaurante, Tânia Mara F.O. e Silva, 38, é uma das responsáveis por essa história com final feliz. Depois de assistir a uma peça apresentada por alunos da Nossa Escola, ela teve a idéia de conciliar dois projetos sociais: a inclusão profissional dos portadores de deficiências e o combate ao desperdício de alimentos. "Tenho uma pequena empresa e não posso ajudar com recursos financeiros. Mas felizmente percebi que podia contribuir muito com minha experiência profissional. Hoje fazemos um trabalho social regular, profissionalizado", explica a proprietária do restaurante.

A iniciativa da empresária não teria sido concretizada sem a intermediação da Nossa Escola. O trabalho da ONG, que durante 14 anos foi mantido exclusivamente pelo Círculo de Trabalhadores Cristãos de Vila Prudente, tornou-se independente em 2002 e hoje conta com o apoio de dez empresas, entre elas o restaurante Kilão.

A mudança no perfil da Nossa Escola teve como co-protagonista o Senac São Paulo, que, em 2003, criou o programa Formatos 500 e capacitou cerca de 500 lideranças sociais em São Paulo. "Começamos a ser lapidados para o terceiro setor. Percebemos que a escola precisava se abrir, expor seus projetos para a comunidade, buscar parceiros e patrocinadores", conta Juan Carlos Figueroa, vice-presidente da Nossa Escola.

Os resultados estimularam o Senac a lançar o programa Formatos Brasil (www.sp.senac.br), para que outras entidades tenham a chance de se profissionalizar. A meta é capacitar 5.000 ONGs em todo o país. A iniciativa conta com a parceria da Fundação Banco do Brasil, da Johns Hopkins University, do Consulado dos Estados Unidos e dos departamentos regionais do Senac.

Com o objetivo de formar atores sociais e contribuir para o desenvolvimento local integrado e sustentável, o programa Formatos Brasil realiza no país um trabalho semelhante ao que a Fundação Schwab oferece internacionalmente (leia mais). "Muitas ONGs nascem por acaso. Uma mulher começa a tomar conta das crianças da região e, quando percebe, já está administrando uma creche. Como ela vai gerenciar esse empreendimento social? Nossa proposta é ajudar as organizações a falar a linguagem das empresas, a mergulhar no universo do investimento social", explica Sérgio Oliveira, coordenador do programa.

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