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18/08/2003 - 04h44

Museu Nacional é grande como continente

SILVIO CIOFFI
enviado especial da Folha de S.Paulo a Taiwan

O fantasma da expropriação ronda o Museu Nacional Palácio (www.npm.gov.tw), instalado num conjunto de prédios inaugurados em 1965 nos arredores de Taipé. O acervo abarca 700 mil itens, inclui objetos de bronze e de porcelana de 5.000 anos e, consta, é tão vasto que daria para trocar diariamente as obras e exibir peças diferentes por décadas.

Mas, apesar da riqueza da coleção, a direção prefere deixar as peças que não estão expostas devidamente guardadas, com medo da China continental.

Instalado numa área de 1,6 hectares na localidade de Waishu- anghsi, ao norte da capital, o museu foi ampliado em 1985 e mostra 15 mil peças de cada vez (2% do acervo).

Há desde objetos do período neolítico até pinturas contemporâneas, e a cultura ali guardada -em forma de arte e de artefatos- foi forjada pela única cultura contemporânea a manter sua filiação linear à civilização ancestral que a originou.

Mas o real motivo de as peças viajarem pouco é, na verdade, político: Taiwan teme que a China continental reivindique objetos de arte trazidos da Cidade Proibida, onde morou o último imperador Pu Yi e, de acordo com a especialista Ema Chen, que trabalha para o museu, essas peças totalizam 90% do acervo.

Mesmo assim, parte da coleção viajou quatro vezes para os EUA. Na Rússia, Moscou também foi sede de peças do Museu Nacional Palácio e, neste ano, será a vez de França e Alemanha terem contato com algumas dessas obras.

Controvérsia

A questão da propriedade do acervo trazida da Cidade Proibida é controversa. Teoricamente, a Revolução Chinesa de 1911 pôs fim ao poder do imperador, e o Partido Nacionalista (Kuomintang ou KMT) tomou o poder na China continental. Mas as agitações políticas na Ásia eram tais que Pu Yi permaneceu em seu palácio até 1924.

No ano seguinte, em 1925, os portões da Cidade Proibida foram abertos para os cidadãos comuns, tornando o palácio uma espécie de embrião do atual museu.

Em 1933, os japoneses ocuparam a região da Manchúria, colocando Pu Yi à testa de um governo fantoche, o que de certa forma reavivou seu poder.

As relações entre os chineses nacionalistas e os japoneses azedaram de vez e, temendo que os tesouros da Cidade Proibida fossem apropriados pelos Exércitos nipônicos, o acervou foi encaixotado e enviado de trem para Nanquim e, depois, para Xangai.

Em 1937, na antevéspera da eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-45), a coleção voltou a Nanquim. Nesse meio tempo, os japoneses invadiram as cidades de Pequim e de Xangai.

Sobrevivendo a bombardeios e embates políticos, a coleção foi dividida, viajou para diversos esconderijos e, em dezembro de 1947, os nacionalistas realizaram uma exposição em Nanquim, cidade então usada como capital.

Em 1949, diante do avanço comunista, os nacionalistas despacharam as peças para o porto de Keelung, em Taiwan.

Planejada para ser temporária, a ida dos nacionalistas à ilha de Taiwan nunca teve caminho de volta.

A China continental pareceu não ligar muito para o assunto do acervo do museu nos anos 60, durante a Revolução Cultural de Mao Tse-tung, quando a modernização e a construção do comunismo esteve na ordem do dia, mas, dona de uma memória ancestral, nunca esqueceu.

Em meados da década de 60, Taiwan inaugurou o prédio do atual museu, com estilo inspirado nas construções da dinastia Ching (1644-1911) e interior bastante moderno, elogiado como funcional por museólogos.

A construção, que na parte externa é amarela e que tem interior austero, com luz contida, conta com níveis internos de umidade controlados por computadores e é à prova de tufões, que não raro varrem Taiwan.

Como a guerra fria entre a China continental e Taiwan nunca se encerrou de fato, a questão do acervo desse importante museu parece adormecida, mas não é totalmente pacífica.

Novas aquisições

Preocupada com antiguidades chinesas de maneira geral, Taiwan restringe a saída do país de peças de real valor histórico.

Há ainda uma política governamental para estimular as doações ao Museu Nacional Palácio que, eventualmente, adquire objetos, com destaque para peças de jade e de cerâmica, além de roupas antigas e imagens ancestrais de buda.

O acervo recebe mais doações de documentos que de outros objetos. Considerando a longa história da China, o museu tem recebido importantes peças com caligrafias dos períodos Sung (960-1279), Yuan (1279-1368), Ming (1368-1644) e Ching (1644-1911).

Com relação a esses documentos e às obras de caligrafia em geral, há a particularidade de as peças não poderem ser expostas por longos períodos, pois a ação da luz danifica o papel.

Com um grande hall de exibições, sete galerias e 24 show- rooms, o grande museu de Taipé tem status comparável ao do Museu Britânico, de Londres, ou ao do Metropolitan, de Nova York, embora seu foco principal seja a Ásia. Uma ida não resolve a curiosidade e, a exemplo do que ocorre com outros museus internacionais, o ideal é fazer visitas de algumas horas, voltando lá nos dias seguintes.

No átrio principal, há uma estátua em tamanho natural que encerra uma curiosidade para o viajante brasileiro. Dedicada a Sun Yat-sen, a obra é cópia da escultura que está em seu túmulo, em Nanquim, e mostra o pensador retratado em 1928 por Paul Landowski, o mesmo escultor francês que fez, no Rio de Janeiro, o Cristo Redentor.

MUSEU NACIONAL PALÁCIO - 221, Chihshan Road, aberto das 9h às 17h todos os dias, entrada custa NT 80.


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