Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
18/04/2011 - 04h34

Skatalites e Arnaldo Antunes são destaque em Abril Pro Rock

Publicidade

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
ENVIADA ESPECIAL A RECIFE

Se, na sexta-feira, o trio Misfits esguichou seu punk sanguinolento no Abril Pro Rock, num pancadão que poderia muito bem se chamar "À meia-noite levarei seu tímpano", o som deste domingo (17) encontrava seu nicho na cultura indie com pretensões teatrais (Karina Buhr), iê-iê-iê de veterano (Arnaldo Antunes) e valorização das origens (Skatalites).

Para ter uma ideia do que foi o segundo dia do festival recifense, é preciso folhear o "manual de como se vestir no 'estilo Olinda'".

Para eles: deixou a barba crescer? Foi no armário e dispensou todas as camisas que um ícone do manguebeat não usaria?

Agora elas: sua saia roda? Tem estampa de florzinha? O cabelo está daquele jeito despretensioso que só horas na frente do espelho permitiriam?

Melhor ainda: como cantou Tulipa Ruiz, uma das atrações da noite, em "Brocal Dourado": um bordado de renda de chita filó.

O público de hoje ajuda a entender as vibrações de uma cena independente que faz baião de dois com o regional e o cosmopolita.

Rafael Passos/Divulgação
Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci, ícones da nova cena paulista
Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci, ícones da nova cena paulista

NÃO É TECNOLOGIA, É FEITIÇARIA

Com 18 edições para pôr na conta, o Abril Pro Rock tira onda por ter apresentado Chico Science e sua Nação Zumbi ao mundo, em 1993 (eles tocaram por quatro anos seguidos, até a morte do líder).

O mundo deu algumas cambalhotas desde então. Se hoje a internet é ferramenta poderosa para divulgar sua obra, festivais ainda servem de tapetinho estendido nessa porta de entrada, com os dizeres "bem-vindo".

Assim espera Júlio Castilho, que ganhou o direito de abrir o segundo dia do festival após vencer um concurso. No palco, o pernambucano encarna Feiticeiro Julião, o "safátiro do intelecto do suor".

Com tiradas assim, daquelas que um amigo hippie que faz filosofia na USP soltaria depois da segunda dose de vinho barato, Júlio --filho do senador petista Humberto Costa-- espera fazer seu début na cena nacional.

A veia performática remete ao Cordel do Fogo Encantado, outra trupe nativa de Pernambuco. De pintura vermelha no rosto e embalado por um blues de sabores locais, ele encena um transe ao som do sax tocado pelo companheiro de banda. Tambor e caxixi (instrumento que lembra um chocalho) ajudam na atmosfera tribal.

Ao Folhateen Júlio/Julião disse que as influências vão de Jorge Mautner a Salvador Dalí. Parece empenhado em cravar um lema para sua música: não é tecnologia, é feitiçaria.

CIRANDA DE KARINA

Também teatral é a apresentação de Karina Buhr. Na performance, ela pedala uma bicicleta imaginária e se joga feito boneca de corda. Saltita de lá para cá como se estrelasse um vídeo de ginástica da década de 80.

Com um macacão de canutilhos brilhantes, Karina poderia ser confundida com uma versão indie de Joelma, do grupo tecnobrega Calypso.

Radicada em Recife na juventude, a baiana é uma das queridinhas do público. Canções como "Eu Menti Para Você" e "Ciranda do Incentivo" são acompanhadas por um minicoro.

Soltar o freio é uma atitude perfeitamente compatível com a artista saída do Teatro Oficina, de Zé Celso. E essa imagem permite que sua fusão de estilos (de ska a dub) nunca vá a pique --e mantenha a força pop. De resto, como sabiamente cantou a própria, "boiar no mar é de graça".

CORPO EM MOVIMENTO

Há alguns anos, aconteceu com os cubanos do Buena Vista Social Club. Dessa vez, são os veteranos do Skatalites, banda jamaicana pioneira no ska, que caíram nas graças da nova geração.

O ska, ritmo que ajudaram a difundir, fez escola para muita gente. Robert Nesta Marley faz parte da trupe influenciada pelo gênero que pegou um pouco de jazz, outro bocado de rythm and blues e salpicou a mistura com tempero jamaicano. O reggae de Bob Marley, afinal, bebeu goles generosos na fonte do ska.

Dona de uma linda voz, Doreen Shaffer, integrante das antigas (a maioria é sangue novo), resumiu ao Folhateen o espírito do ska: "É energia em forma de música".

O ska "old school" dos Skatalites não aceita corpos parados no salão. A plateia de jovens parece ter entendido o recado ao som das dançantes "Freedom Sound" e "Phoenix City".

IÊ-IÊ-IÊ

Outro veterano que pôs o público para dançar foi o ex-titã Arnaldo Antunes, com sua releitura do iê-iê-iê da jovem guarda.

Rafael Passos/Divulgação
Arnaldo Antunes traz iê-iê-iê dançante para festival recifense
Arnaldo Antunes traz iê-iê-iê dançante para festival recifense

A turma que acompanhou Arnaldo no palco é exemplo de por que o Abril Pro Rock poderia criar uma premiação para "melhor artista coadjuvante".

Edgard Scandurra assumiu a guitarra, Marcelo Jeneci, os teclados, e Curumin pôs em ação sua bateria nervosa.

Escoltado pela superbanda, Arnaldo acelerou o samba "Vou Festejar", aquele que paga com traição a quem sempre lhe deu a mão.

Odair José foi outro cover do show, com uma versão do ex-titã para "Quando Você Decidir".

PRATA DA CASA

A pernambucana Eddie canta como se estivesse na secura por uma pinga de Olinda. A um público especialmente caloroso com as pratas da casa, mandou de cara "Quando a Maré Encher" --composição deles imortalizada pela Nação Zumbi.

A certa altura, um dos integrantes provocou os homens da plateia. "Só tô sentindo falta de uma coisa. Cheio de mulher bonita, e ninguém tira elas para dançar? Em Olinda vocês não fariam sucesso algum!"

Sobrou também para o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Ele foi xingado pela banda ("vai tomar..."), que tocou no mesmo dia, de manhã, na Virada Cultural paulista.

AVASSALADOR

Eles são sinistros. Melhor que seu roquinho. Esculacham seu sambinha. No palco são um perigo...

Banda mais rock 'n' roll do dia, a paulistana Holger se esforçou para não ser um peixe fora d'água.

Para fechar o show, mandaram um mash-up funkeiro que mesclou "Sou Foda" com o "Jonathan da nova geração". A farofada caiu bem entre a audiência.

Os fãs do Holger mais cru, da pegada roqueira de "Toothless Turtles", podem se incomodar com a vocação para "versão brasileira, Herbert Richers" do Vampire Weekend. Há o rock, mas também influências afro, como em "Beaver".

Antes dessa música, aliás, o grupo fez graça com a plateia alternativa: "Chega de rock, a gente não gosta de rock!".

Rafael Passos/Divulgação
Holger
Holger, o lado mais rock 'n' roll do segundo dia do Abril Pro Rock

A noite também teve Tulipa Ruiz, que cortejou a platéia recifense ao dizer que tirava onda por ser a única jovem da sua cidade (a pequena São Lourenço, em Minas) que andava com uma camisa do Abril Pro Rock --presente de um camarada pernambucano.

"Me achava a pessoa mais descolada da cidade", disse a artista do álbum "Efêmera", presença certa na lista dos melhores de 2010.

DO MUNDO

Os norte-americanos do Chicha Libre eram a perfeita tradução da "world music". O som dos caras parte da chicha (fusão da cumbia com ritmos da Amazônia peruana), com pitadas de surf music, baião e outros gêneros latinos.

Uma versão da música de abertura dos "Simpsons" não deixou dúvida: o som do Chicha é como aquele miojo que você incrementa com várias sobras da geladeira. E que, contra todas as probabilidades, acaba dando muito certo.

Rafael Passos/Divulgação
Chicha
Chicha Libre mostrou fusão de sons latinos e amazônicos

A repórter ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER viajou a convite da Petrobras

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter

Publicidade

  • Carregando...

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página