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Carreiras e Empregos

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Balada cara

Jovens adotam a produção de festas como segundo emprego, mas atividade é arriscada e pode não gerar ganho financeiro imediato

DERLA CARDOSO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Promover festas pode não ser interessante do ponto de vista do negócio em si: dá muito trabalho e não gera grandes ganhos financeiros imediatos. Mas jovens de São Paulo que encaram o desafio dizem que os benefícios vão além dos monetários.

A fama na noite pode se converter em convites para tocar em casas noturnas de outros Estados ou oportunidades para dar palestras ou consultorias sobre o público que frequenta os eventos.

O produtor Emmanuel Souto Vilar, 31, criador da festa Javali, que acontece desde março de 2012 na capital paulista, por exemplo, foi chamado para ministrar palestras para a Ambev e a Coca-Cola sobre as características de consumo dos clientes e empreendedorismo.

A balada, que acontece em casarões alugados da cidade, tem um público médio de 1.200 pagantes. A festa é frequentada por pessoas na faixa de 25 a 40 anos que gostam de ouvir hits de artistas como Cazuza e Madonna.

Ao contrário de boa parte dos produtores independentes, Vilar não tem outros empregos. Ele não revela quanto ganha em cada edição.

"Dá para trabalhar só com isso, mas só se você for inovador e perceber o que os consumidores querem."

ESQUENTA

Para ter lucro real com a atividade, é preciso tempo para conseguir formar um público. E essa popularidade pode ser efêmera.

"Não dá para viver de festa. Esse mercado é muito volátil e sempre surgem novas opções para que as pessoas curtam a noite em locais diferentes", diz o estudante de publicidade Pedro Lindenberg, 21, um dos organizadores da festa Republika, que reuniu mil pessoas na última edição, no começo deste mês.

Quem acha que tem talento para o negócio precisa tomar alguns cuidados.

No início, o indicado é trabalhar com casas noturnas ou bares que estão acostumados a receber gente nova no ramo. É usual que os donos dos estabelecimentos peçam garantias financeiras, como cheques-caução, que cubram prejuízos.

O lucro nesse caso fica em torno do R$ 1.500 a R$ 2.000 por ocasião, entre os eventos consultados pela Folha - todas recebem ao menos 500 pessoas, em edições mensais.

Isso acontece porque o pagamento é feito, na maior parte das vezes, com uma comissão de acordo com o número de pagantes.

No Lab Club, na rua Augusta (centro de São Paulo), o promotor não tem que deixar cheque-caução. É o local que faz o investimento. Contudo, é preciso que o interessado tenha um bom projeto.

"Somos acostumados a receber produtores independentes. Mas a ideia tem que ser criativa e ter potencial para trazer pessoas", conta Denis Hadler, sócio do local.

O dono da festa fica com cerca de 30% da bilheteria ou 8% do faturamento da noite.

Quem aluga um salão tem mais trabalho, mas consegue faturar com as bebidas que serão vendidas e as entradas.

No entanto, é preciso lembrar que se gasta mais porque é preciso contratar diferentes profissionais para a limpeza, recepção e atendimento. Para se ter uma ideia, na festa Javali trabalham 47 pessoas em uma noite.

EVITE A RESSACA

Os organizadores precisam verificar se o imóvel tem alvarás de funcionamento, autorização da prefeitura e laudo dos bombeiros em dia. Saídas de emergência e extintores precisam ser avaliados.

A segurança dos convidados precisa ser garantida.

"Não existe uma lei que obriga o produtor a ter seguranças na festa, no entanto o Código do Defesa Consumidor prevê que o responsável precisa proporcionar um ambiente seguro para as pessoas", afirma o advogado Thiago Mahfuz Vezzi.

"Subentende-se, assim, que se deve contratar uma equipe especializada."

Se for necessário escolher uma empresa para terceirizar o serviço, segundo o advogado, é indicado verificar há quanto tempo ela atua no mercado, para quem já presta serviço e buscar referências de outros clientes.

"O organizador será responsabilizado por qualquer problema que acontecer. É preciso se resguardar", diz.

O planejamento é o mais importante, independentemente do local, lembra Bianca Freitas, 31, sócia da empresa Enjoy.e, que trabalha com produção de eventos.

O novato precisa sair para conhecer o máximo possível do que já está sendo feito no mercado.

"Tem que haver um conceito claro: a festa deve ter inspiração em algum tema, história ou fato que a justifique", indica Freitas.

Também é preciso analisar os hábitos do seu público-alvo: os dias em que as pessoas costumam sair à noite, por exemplo.

Um equívoco nesse sentido fez o produtor Guto Magalhães, 25, a ter uma noite ruim. Acostumado a fazer festas às quartas-feiras e aos sábados, ele programou um evento para um domingo, no início da noite.

"Esperava 300 pessoas, mas só foram 150. Quando acontece esse tipo de coisa, é preciso parar e tentar entender o que aconteceu", conta Magalhães, responsável pela festa A$$.

"Percebi que havia sido um erro ter escolhido o domingo porque é um dia que a maioria das pessoas usa para descansar", avalia.

Hoje, existem ferramentas para organizar a venda de ingressos. Sites como Eventick, Eventioz e EhTicket permitem comercializar entradas, que podem ser pagas por boletos ou cartão de crédito pelos convidados. As plataformas ganham porcentagem em cima do valor de cada venda.

BRILHE MUITO

Grande parte do sucesso do evento depende da divulgação. O Facebook é a ferramenta mais eficiente para isso, de acordo com profissionais do ramo.

Denis Romani, 30, da Tiger Robocop, inspirada nos anos 1990, explica que investe na criação de conteúdo para a "fan page" da balada.

Ele e os sócios pesquisam sobre curiosidades e músicas da época e as postam diariamente na rede social.

"Nós nos preocupamos em proporcionar informação, porque sabemos que um evento é sempre uma loteria. Não há uma fórmula para prever quantas pessoas irão comparecer", explica.

O organizador da festa Odara, Rodrigo Faria, 30, usa estratégia semelhante. Publica curiosidades sobre música popular brasileira e aproveita para fazer promoções.

O produtor de cinema assume que não ganha muito dinheiro. Em cada ocasião investe cerca de R$ 2.000 e não ganha mais do que isso.

"O retorno do trabalho veio por meio de convites para levar a Odara para outros lugares. Neste ano, vamos para a Argentina."


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