Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ciência + Saúde

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Aquecimento segue mesmo com 'hiato' de 15 anos, diz relatório

Freada na subida das temperaturas teria que somar 30 anos para mudar tendência

Conclusões são do relatório do painel do clima da ONU; Terra pode ficar 4,8º C mais quente até 2100

RAFAEL GARCIA ENVIADO ESPECIAL A ESTOCOLMO

Para os líderes do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática), a desaceleração na subida de temperaturas terrestres nos últimos 15 anos é um fenômeno científico curioso, mas não viola a tendência de aquecimento global no longo prazo.

Segundo os cientistas que compõem o painel da ONU, os modelos que a entidade usa para simular o clima só estariam errados se as temperaturas pararem de subir rápido durante mais 15 anos.

"Eu diria com grande confiança, porém, que isso não é uma hipótese com a qual lidamos, dado o nível de emissões de gases-estufa que medimos todo ano e que está atingindo níveis sem precedentes", afirmou Thomas Stocker, copresidente do Grupo de Trabalho 1 do IPCC, em entrevista coletiva.

Na opinião do climatologista, o problema em dar muito peso a esse fenômeno no curto prazo é que o aquecimento só desacelerou na medição da temperatura do ar.

Os oceanos, que dominam a absorção de energia na Terra, e as geleiras, continuam a se aquecer. Não houve hiato nos mares, que, segundo o novo relatório do IPCC, absorveram mais de 90% da energia extra que a mudança climática aprisionou no planeta entre 1971 e 2010.

O calor extra, sugerem estudos recentes, pode estar indo para o fundo do mar, sobretudo por meio de padrões de circulação anômalos no Pacífico. "O problema é que ainda não existe muita literatura científica que nos permita tratar essa questão emergente com a profundidade necessária."

Neste caso, falta literalmente profundidade aos termômetros que monitoram o aquecimento pan-oceânico.

Dois estudos relevantes sobre o tema, afirmou a direção científica da entidade, não foram publicados a tempo de serem avaliados pelo AR5, o quinto relatório de avaliação do painel, que começou a ser divulgado ontem.

O novo documento do IPCC, portanto, não se arrisca a listar mecanismos físicos para explicar o hiato de 15 anos. Restou ao painel mostrar que outros hiatos semelhantes não resultaram em freada da mudança climática, tese de grupos que negam o aquecimento global.

O texto final do documento, alterado após quatro dias de negociações em Estocolmo, deu ao hiato uma importância menor, comparada à que ele recebia no esboço do texto submetido a governos para comentários em junho.

A versão final diz que a temperatura média global de superfície "exibe substancial variabilidade interanual e decadal" apesar de um "robusto aquecimento multidecadal". "A taxa de aquecimento nos últimos 15 anos (0,05°C por década), que começam com um forte El Niño, é menor que a taxa calculada desde de 1951 (0,12°C por década)", diz o texto.

"Há uma recomendação da WMO (Organização Meteorológica Mundial) para que, quando analisamos questões sobre o clima, olhemos as tendências de longo prazo", diz Michel Jarraud, secretário-geral da organização mãe do IPCC. "O consenso é que uma das melhores escalas de tempo para analisar tendência no clima é aquela da ordem de 30 anos."

CRÍTICAS

A argumentação do IPCC não parece ter dobrado a opinião dos que negam o aquecimento. O americano Anthony Watts, meteorologista de uma afiliada da TV Fox News que tem um dos blogs antiaquecimento global mais lidos nos EUA, criticou o relatório do painel do clima.

Para ele "o registro de temperaturas desde 1998 faz o aquecimento global ficar cada vez mais com cara de variabilidade natural".

O diretor-geral do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), Achim Steiner, foi cuidadoso ontem ao não desqualificar o simples ato de questionar as conclusões do IPCC.

"Haverá quem prefira enfocar os pontos de interrogação do novo relatório, e isso não é inapropriado", disse. "Mas um conhecimento perfeito não pode ser a condição para que a humanidade tome decisões. Podemos não saber tudo, mas sabemos o suficiente para avaliar os riscos de não agir."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página