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Críticas a Atala são 'hipocrisia', dizem chefs

Na semana passada, chef do D.O.M. foi alvo de controvérsia ao matar galinha no palco de simpósio na Dinamarca

Para profissionais da gastronomia, a morte de uma galinha é uma "coisa normal" que faz parte do "ciclo da vida"

LUIZA FECAROTTA EDITORA-ASSISTENTE DE "COMIDA" E "TURISMO"

Chefs, especialistas e pesquisadores da cozinha brasileira classificaram como hipócritas as reações negativas à apresentação de Alex Atala na terceira edição do MAD Symposium, na semana passada, em Copenhague.

Na ocasião, o chef do paulistano D.O.M. (o sexto melhor do mundo segundo ranking da revista inglesa "Restaurant") matou uma galinha no palco (leia ao lado).

O tema do simpósio internacional, um dos principais do setor, era "guts" --em português, coragem, entranhas.

Vídeo, fotos e relatos do evento geraram repercussão em redes sociais e na imprensa. "Morte e comida são coisas naturais, mas matar uma galinha em uma performance' para uma plateia (...) é uma falta de respeito", comentou um usuário em um vídeo do evento, publicado no portal de vídeos YouTube.

"É uma crueldade irrestrita. Ele [Atala] quer simplesmente aparecer. Não há necessidade de comer outro animal", diz Izabel Cristina Nascimento, presidente da Suipa (Sociedade União Internacional Protetora dos Animais).

Para o sociólogo Carlos Alberto Dória, existe uma crise de criatividade na gastronomia atual, de "órfãos do Ferran Adrià". Essa crise a teria transformado em uma coisa "chata e desencantadora". "Não há happening', performance, capaz de salvá-la", disse à Folha.

REACIONÁRIOS

A repercussão ganhou força nas redes sociais também graças aos relatos contraditórios sobre o que aconteceu na apresentação de Atala, que teve como tema "o elo da morte com a gastronomia".

"Estamos há 6.000 anos consumindo aves domésticas e matando-as na hora de comer", disse Ricardo Maranhão, doutor em história e professor da Anhembi Morumbi. "Essas pessoas que acharam cruel são equivocadas, burras e reacionárias."

Para o chef Laurent Suaudeau, francês radicado no Brasil, a apresentação foi um marco. "Alguns vão dizer que é marketing, mas Alex Atala não precisa disso. Ele está, sim, em em uma posição em que precisa ser polêmico."

Segundo Suaudeau, o gesto de Atala foi uma forma de nos propor a pensar na origem do alimento que consumimos. "Hoje há muita hipocrisia com a alimentação, as pessoas não querem enxergar a realidade: a gente come um animal que morreu."

O chef André Mifano (do Vito), que estava presente na plateia, compartilha opinião semelhante. "A nossa geração acha que a comida vem do supermercado", disse.

"Existe um espetáculo sim --e é controverso. Mas a gente precisa chamar a atenção para o respeito ao alimento."

Para ele, o cozinheiro precisa se conectar ao produto e à natureza. "O que Alex Atala fez foi fechar o ciclo, esse é o ciclo da vida. Pega o animal, mata, limpa, cozinha e serve. Isso é respeitar."


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